anti/lírica
um poema bashô aqui
nas 7 paredes do corpo
nas 2 cabeças de Vênus
nos 4 cantos da casa
instigante satírico
sarcástico
e ao mesmo tempo
esse ácido lirismo
é um anjo
de belas brancas asas
Gigi Mocidade
naquela noite de chuva
liberdade muito pouca
com meus dentes de navalha
vou rasgar a tua roupa
esse poema beijo/bomba
vai explodir na tua boca
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux - 2020
o cavalo selvagem
cavalga a carne de ipanema
enquanto transa na pastagem
um novo trote
a deusa do rock
berra em outro canto
enquanto na voragem da vertigem
assento a Pedra de Xangô
na Vitória do Espírito Santo
poética 27
paixão é tudo
entre teu corpo e o poema
a faca desliza
amolada
entre a casca e a pele da fruta
quando sair para o banho
acenda a luz do abajour
aos pés da cama
e deixe que eu escreva nos lençóis
as palavras selvagens
que baudelaire nos ensinou
governantes de negócios
aves de rapina
sobrevoam Brazilírica
vender é o grande jogo
dos governantes de negócio
não é metáfora metafísica
nem figura de linguagem
é a mais pura sacanagem
na malandragem dão o golpe
no romper da madrugada
vendem o pai a mãe
vendem os filhos
vendem os fócios
vendem toda coisa pública
porque gostam da privada
ainda mais quando são sócios
Cristina Bezerra
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a navalha na carne
pode cortar
pode doer pode sangrar
e ferir fundo
prefiro a dor do prazer
que o riso
sub imundo
Federika Lispector
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uma cidade sem poesia
é uma cidade morta
cabe toda em cova rasa
porque a vida não comporta
a Oswald de Andrade
in memória
tudo aqui era floresta
rios mares manguezais
caranguejos guaiamuns
onça pintada milho verde mandioca
aí chegaram os portugueses
rezaram missas
trucidaram índios
escravizaram africanos
deu-se a mixegenação
uma pátria descoberta
mas até hoje procuramos
o Pau Brasil dessa Nação.
Gigi Mocidade
sequestro teu corpo poema
na sala de entrada do cinema
teu corpo eu levo para cama
o poema enterro no poema
fosse Afrodite
ou fosse Vênus
Mariana fosse quanto
a flor sagrada de Lotus
secreto o espírito santo
girassóis entre os cabelos
nos lábios lírios do campo
EuGênio Mallarmè
sobra
os dentes
mordem a boca do vampiro
atiro no monstro do desejo
e beijo a língua
que sobrou no azulejo
Federika Lispector
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