segunda-feira, 18 de outubro de 2021

e essa lua mansa fosse faca

 


                                     fulinaimagem

 

1

 

por enquanto

vou te amar assim em segredo

como se o sagrado fosse

o maior dos pecados originais

e a minha língua fosse

só furor dos canibais

 

e essa lua mansa fosse faca

a afiar os verso que ainda não fiz

e as brigas de amor que nunca quis

mesmo quando o projeto

aponta outra direção embaixo do nariz

e é mais concreto

que a argamassa do abstrato

 

por enquanto

vou te amar assim

admirando o teu retrato

pensando a minha idade

e o que trago da cidade

embaixo as solas dos sapatos

 

2

 

o que trago embaixo

as solas dos sapatos

é fato

bagana acesa sobra o cigarro

é sarro

 

dentro do carro

ainda ouço jimmi hendrix

quando quero

dancei bolero

sampleando rock and roll

pra colher lírios

há que se por o pé na lama

a seda pura foto síntese do papel

 

tem flor de lótus nos bordéis copacabana

procuro um mix da guitarra de santana

com os espinhos da rosa de Noel

 

Artur Gomes

clic no link para ver o vídeo

https://www.facebook.com/cinevideocurtas/videos/510883482425048/?hc_ref=ARSHGfwAsTEutoEImlUlS9-RgG4ZiU1CIwVuzj07GbZ19KbGl2nsQlaYOxMeR3Nj3xc



 

 

GOYA TACÁ AMOPI

 

ao criar todo o universo

deus foi com campos perverso

tal como diz a piada

em terras de massapê

 

de vista a se perder

semeou povinho de nada

dizem ser deus brasileiro

mas eu digo que é fuleiro

o deus que fez isto aqui

pois quando criou o mundo

não hesitou um segundo

em esta terra punir

 

é praga de goitacá

é praga de mungunzá

é praga de jesuíta

é tanta desgraça junta

 

que ninguém mais se pergunta

por que terra tão maldita

e pensar que o paraíba

rasgando a serra em ferida

um dia pariu a planície

enfeitou-a de ingazeiros

e de pássaros trigueiros

e por fim nos deu habite-se

e nos deu tanta riqueza

que engalanada nobreza

pra do povo se servir

 

não mediu regras e esforços

dizimou a indiada

escravizou a negada

sem pena, dó ou remorso

e em seus campos primeiros

semeou mato brejeiro

transformando em aceiro

este jardim de delícias

cultuado em prosa e verso

por poetas ufanistas

 

“Ó Paraíba, ó mágica torrente

Soberana dos prados e vergéis

Por onde passas como um rei do oriente

Os teus vassalos vêm beijar-te os pés”

 

êta destino perverso

que pra ti deus reservou

pois onde o verde se espraia

chove fuligem nas saias

do santíssimo salvador

pois dele é mais que preciso

proteger-se do inimigo

que em teus brejais hoje grassa

pois tanto que lhe usurparam

tanto que lhe ultrajaram

tanto lhe vilipendiaram

que caístes em desgraça

 

apesar do ouro negro

és em si nosso degredo

em ti somos expatriados

de ti somos extirpados

nada do que é seu é nosso

trazemos no peito remorso

já não temos amor próprio

mais andamos cabisbaixos

sem saber pronde seguir

goya tacá amopi

o que fizeram de ti

nesta virada de século

foi um estupro perverso

de colo seio e gentio

que em nada lembra o bravio

e ancestral goitacá

goya tacá amopi

mais que nunca precisamos

as tuas rédeas tomar

e recantar com prazer

os versos de azevedo

na música de perissé

e de você nos orgulhar

“Campos Formosa, intrépida amazona

do viridente plaino goitacás

predileta do luar como Verona

terra feita de luz e madrigais”

 

Antonio Roberto Góis Cavalcanti - Kapi

Obs.: poema vencedor do VII FestCampos de Poesia Falada – 2005

 

O DESTINO DOS POETAS

 

Kapi,

carpiste a Poesia

como poucos,

como os loucos,

que à tua semelhança

não pisam a pele do chão.

 

Levitam, gravitam,

é gente feita de sol.

És da legião das letras

dos que são únicos e plurais,

doidivanas e samurais,

pós modernos e ancestrais,

tudo e um pouco mais.

 

Para onde fostes?

Para a pátria dos poetas universais,

Pasárgada, talvez.

 

Imagino-te explicando a Garcia Lorca

com tua fluência verbal caudalosa

como se faz poesia com verso torto

na língua de Guimarães Rosa.

 

Ave, Kapi!

 

Fernando Leite Fernandes


                                               o poema

 

esse poema mora dentro de ti

entre pele pelos músculos

sangue nervos ossos

quase pronto mas sempre

                            inacabado

 

não importa o caminho

 que o tempo

o disperse em curvas

 de distâncias

 

ou que o carinho não baste

quando é sede e fome

que o corpo tem

 

 

não sei por quantas vezes

nem sei por quantos anos

um pássaro leva

 para se abrigar no ninho

ou para fazer

 de um fio elétrico

o seu derradeiro pouso

 

quando quase tudo

no poema ainda está por vir

 

só sei que pode sol ou chuva

 atrapalhar o canto

mas será sempre no teu colo

que ele vai dormir

 

Artur Gomes

O homem com a flor na boca

www.arturfulinaima.blogspot.com

 

Cantiga para não morrer

 

Quando você for se embora,

moça branca como a neve,

me leve.

 

Se acaso você não possa

me carregar pela mão,

menina branca de neve,

me leve no coração.

 

Se no coração não possa

por acaso me levar,

moça de sonho e de neve,

me leve no seu lembrar.

 

E se aí também não possa

por tanta coisa que leve

já viva em seu pensamento,

menina branca de neve,

me leve no esquecimento.

 

Ferreira Gullar

www.brazilicapereira.blogspot.com

 

                                             memorial

 

a primeira vez foi no mar

ele sussurrava espuma

e poesia em meus ouvidos

a língua acesa de água e sal

e os meus gemidos ondas

como grito ao infinito

por toda praia por toda areia

por todas algas foi esperma e corpo

em comunhão e gozo

em minhas coxas de sereia

 

Gigi Mocidade


sobre as ondas teresina

 

se queres que eu grite

a morte da natureza morta

antes pense Magritte

 

a natureza reta

de alguma palavra torta

 

sobre o sangue a flor da pele

Michelle nua me entorta

em ondas de mar e lua

Gisele levita atrás da porta

 

Artur Gomes

O poeta enquanto coisa

www.fulinaimargem.blogspot.com




                              Profanalha Nu Rio

 

a flecha de são sebastião

como ogum de pênis/faca

perfura o corpo da glória

das entranhas ao coração

 

do catete ao largo do machado

onde aqui afora me ardo

como bardo do caos urbano

na velha aldeia carioca

sem nenhuma palavra bíblica

e muito menos avária

 

:

 

orgasmo é falo no centro

lá dentro da candelária

 

Artur Gomes

www.porradalirica.blogspot.com

 

enquanto você pensa intensifico na voragem a vertigem que me dá quando você não diz. o fio esticado entre um espaço e outro do corpo na distância geográfica me faz pensar a estrada que me levará até onde ainda quero estar.

enquanto você pensa deliro. piro. desfaço qualquer sentido de razão que ainda poderia existir em alguma sã consciência. já pensei algumas vezes um projeto de psicanálise popular – um divã em cada esquina – pode me chamar de louca maluca pirada.

Clarice me ensinou a não ter limites de estados, ultrapassar fronteiras da insensatez e deixar a razão para os sensatos

 

Federika Lispector

https://www.facebook.com/gigimocidade




                  manhuaçu/sacramento


o tempo se esvai no vento

a flor da pele

no caminho para dentro

do corpo o sexo atrás

da casa abandonada

só precisava tempo

                        mais nada


A farsa do amor

 

1

 

olho seco de cobra

morta —

chuva muito fina

agulhas

na carne viva

& você diz Amor

(velha senha secreta)

lambe as feridas

com língua de lixa

& tranca o trinco da jaula

 

2

 

não tente esse truque

outra vez

seja mais suja

meu doce amor

espete um alfinete

no olho do gafanhoto

toque fogo

nas asas de um anjo

capture vivo um ET

& o leve a um talkshow

mas não tente prender os lobos

quando for lua cheia

 

Ademir Assunção

sampa, 13.11.97

 

quando escrevo as formigas talvez carreguem folhas para se protegerem da fome no inverno dentro do convento o vento sopra as velas com medo do fogo do inferno e o mar lá fora indiferente arreganha os dentes na lâmina das bravias ondas que me levam pelo ar


tropicália

ou –

caetano veloso re-visitado

 

por entre fotos e nomes

por entre línguas e cores

minha boca cheia de dentes

no peito mágoas rancores

com ódio do presidente

os ossos roendo de dores

 

a alma em desassossego

em meio a tantos golpistas

sem me render a serpente

com seu veneno nas ventas

que toma de assalto o planalto

e fere os olhos do povo

com seu spray de pimenta

 

Gigi Mocidade

https://www.facebook.com/gigimocidade/





a vida sempre em suspense

alegria a prova dos nove

fanatismo não me convence

muito menos me comove

 

Festival Cine Vídeo De Poesia Falada

Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

Fulinaíma MultiProjetos – KINO3

 

https://www.facebook.com/studiofulinaima

 

sensualidade

água escorrendo

sobre a pele

           da saudade

 

rasguei as velas que teci

em tempestades

rompi as noites

em alto mar de maresia

pensei teu corpo

pra amenizar tanta saudade

e vi teus olhos

em cada vela que tecia




 Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimagens.blogspot.com

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