fulinaimagem
1
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os verso que ainda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato
por enquanto
vou te amar assim
admirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos
2
o que trago embaixo
as solas dos sapatos
é fato
bagana acesa sobra o cigarro
é sarro
dentro do carro
ainda ouço jimmi hendrix
quando quero
dancei bolero
sampleando rock and roll
pra colher lírios
há que se por o pé na lama
a seda pura foto síntese do papel
tem flor de lótus nos bordéis copacabana
procuro um mix da guitarra de santana
com os espinhos da rosa de Noel
Artur Gomes
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GOYA TACÁ AMOPI
ao criar todo o universo
deus foi com campos perverso
tal como diz a piada
em terras de massapê
de vista a se perder
semeou povinho de nada
dizem ser deus brasileiro
mas eu digo que é fuleiro
o deus que fez isto aqui
pois quando criou o mundo
não hesitou um segundo
em esta terra punir
é praga de goitacá
é praga de mungunzá
é praga de jesuíta
é tanta desgraça junta
que ninguém mais se pergunta
por que terra tão maldita
e pensar que o paraíba
rasgando a serra em ferida
um dia pariu a planície
enfeitou-a de ingazeiros
e de pássaros trigueiros
e por fim nos deu habite-se
e nos deu tanta riqueza
que engalanada nobreza
pra do povo se servir
não mediu regras e esforços
dizimou a indiada
escravizou a negada
sem pena, dó ou remorso
e em seus campos primeiros
semeou mato brejeiro
transformando em aceiro
este jardim de delícias
cultuado em prosa e verso
por poetas ufanistas
“Ó Paraíba, ó mágica torrente
Soberana dos prados e vergéis
Por onde passas como um rei do
oriente
Os teus vassalos vêm beijar-te os
pés”
êta destino perverso
que pra ti deus reservou
pois onde o verde se espraia
chove fuligem nas saias
do santíssimo salvador
pois dele é mais que preciso
proteger-se do inimigo
que em teus brejais hoje grassa
pois tanto que lhe usurparam
tanto que lhe ultrajaram
tanto lhe vilipendiaram
que caístes em desgraça
apesar do ouro negro
és em si nosso degredo
em ti somos expatriados
de ti somos extirpados
nada do que é seu é nosso
trazemos no peito remorso
já não temos amor próprio
mais andamos cabisbaixos
sem saber pronde seguir
goya tacá amopi
o que fizeram de ti
nesta virada de século
foi um estupro perverso
de colo seio e gentio
que em nada lembra o bravio
e ancestral goitacá
goya tacá amopi
mais que nunca precisamos
as tuas rédeas tomar
e recantar com prazer
os versos de azevedo
na música de perissé
e de você nos orgulhar
“Campos Formosa, intrépida amazona
do viridente plaino goitacás
predileta do luar como Verona
terra feita de luz e madrigais”
Antonio Roberto Góis Cavalcanti - Kapi
Obs.: poema vencedor do VII
FestCampos de Poesia Falada – 2005
O DESTINO DOS POETAS
Kapi,
carpiste a Poesia
como poucos,
como os loucos,
que à tua semelhança
não pisam a pele do chão.
Levitam, gravitam,
é gente feita de sol.
És da legião das letras
dos que são únicos e plurais,
doidivanas e samurais,
pós modernos e ancestrais,
tudo e um pouco mais.
Para onde fostes?
Para a pátria dos poetas universais,
Pasárgada, talvez.
Imagino-te explicando a Garcia Lorca
com tua fluência verbal caudalosa
como se faz poesia com verso torto
na língua de Guimarães Rosa.
Ave, Kapi!
Fernando Leite Fernandes
o poema
esse poema mora dentro de ti
entre pele pelos músculos
sangue nervos ossos
quase pronto mas sempre
inacabado
não importa o caminho
que o tempo
o disperse em curvas
de distâncias
ou que o carinho não baste
quando é sede e fome
que o corpo tem
não sei por quantas vezes
nem sei por quantos anos
um pássaro leva
para se abrigar no ninho
ou para fazer
de um fio elétrico
o seu derradeiro pouso
quando quase tudo
no poema ainda está por vir
só sei que pode sol ou chuva
atrapalhar o canto
mas será sempre no teu colo
que ele vai dormir
Artur Gomes
O homem com a flor na boca
www.arturfulinaima.blogspot.com
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Ferreira Gullar
www.brazilicapereira.blogspot.com
memorial
a primeira vez foi no mar
ele sussurrava espuma
e poesia em meus ouvidos
a língua acesa de água e sal
e os meus gemidos ondas
como grito ao infinito
por toda praia por toda areia
por todas algas foi esperma e corpo
em comunhão e gozo
em minhas coxas de sereia
Gigi Mocidade
sobre as ondas teresina
se queres que eu grite
a morte da natureza morta
antes pense Magritte
a natureza reta
de alguma palavra torta
sobre o sangue a flor da pele
Michelle nua me entorta
em ondas de mar e lua
Gisele levita atrás da porta
Artur Gomes
O poeta enquanto coisa
www.fulinaimargem.blogspot.com
Profanalha Nu Rio
a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração
do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia carioca
sem nenhuma palavra bíblica
e muito menos avária
:
orgasmo é falo no centro
lá dentro da candelária
Artur Gomes
www.porradalirica.blogspot.com
enquanto você pensa intensifico na
voragem a vertigem que me dá quando você não diz. o fio esticado entre um
espaço e outro do corpo na distância geográfica me faz pensar a estrada que me
levará até onde ainda quero estar.
enquanto você pensa deliro. piro.
desfaço qualquer sentido de razão que ainda poderia existir em alguma sã
consciência. já pensei algumas vezes um projeto de psicanálise popular – um
divã em cada esquina – pode me chamar de louca maluca pirada.
Clarice me ensinou a não ter limites
de estados, ultrapassar fronteiras da insensatez e deixar a razão para os
sensatos
Federika Lispector
https://www.facebook.com/gigimocidade
manhuaçu/sacramento
o tempo se esvai no vento
a flor da pele
no caminho para dentro
do corpo o sexo atrás
da casa abandonada
só precisava tempo
mais nada
A farsa do amor
1
olho seco de cobra
morta —
chuva muito fina
agulhas
na carne viva
& você diz Amor
(velha senha secreta)
lambe as feridas
com língua de lixa
& tranca o trinco da jaula
2
não tente esse truque
outra vez
seja mais suja
meu doce amor
espete um alfinete
no olho do gafanhoto
toque fogo
nas asas de um anjo
capture vivo um ET
& o leve a um talkshow
mas não tente prender os lobos
quando for lua cheia
Ademir Assunção
sampa, 13.11.97
quando escrevo as formigas talvez
carreguem folhas para se protegerem da fome no inverno dentro do convento o
vento sopra as velas com medo do fogo do inferno e o mar lá fora indiferente
arreganha os dentes na lâmina das bravias ondas que me levam pelo ar
tropicália
ou –
caetano veloso re-visitado
por entre fotos e nomes
por entre línguas e cores
minha boca cheia de dentes
no peito mágoas rancores
com ódio do presidente
os ossos roendo de dores
a alma em desassossego
em meio a tantos golpistas
sem me render a serpente
com seu veneno nas ventas
que toma de assalto o planalto
e fere os olhos do povo
com seu spray de pimenta
Gigi Mocidade
https://www.facebook.com/gigimocidade/
a vida sempre em suspense
alegria a prova dos nove
fanatismo não me convence
muito menos me comove
Festival Cine Vídeo De Poesia Falada
Studio Fulinaíma Produção Audiovisual
Fulinaíma MultiProjetos – KINO3
https://www.facebook.com/studiofulinaima
sensualidade
água escorrendo
sobre a pele
da saudade
rasguei as velas que teci
em tempestades
rompi as noites
em alto mar de maresia
pensei teu corpo
pra amenizar tanta saudade
e vi teus olhos
em cada vela que tecia
FULINAIMAGEM
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