poema 23
a língua hoje passeia
pelos martírios de florbela
em tudo que ela não disse
ou mesmo exposto não revela
pelas janelas do corpo
por todas dores prazeres
no que ficou por dizeres
no silêncio quando cala
por tudo que ainda não cabe
na sensualidade da fala
Artur Gomes
o homem com a flor na boca
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poema 21
nos meus delírios baudeléricos
ou mesmo fossem baudelíricos
sonho teu corpo flor de cactos
como se fossem flor de lírios
toco teus pelos flor do mangue
pulsando sangue em teus martírios
penso teu sexo flor de lótus
sagrada flor dos meus delírios
Artur Gomes
um rio de palavras
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poema 18
respiro-te enquanto escrevo
teu cheiro trazido pelo vento
vem da carne de manga
que mastiguei cinco minutos
tens o poder de me deixar em alfa
e me levar aos píncaros nesse estado
êxtase
quando estou em transe quando alfa é
beta
e o luar da tarde é teu olho raio
que os meus acerta
Artur Gomes
Suor & Cio
catando cacos
de cogumelos azuis
procurava apagar os rabiscos de giz
nos azulejos enquanto ouvia edvaldo santana adonirando um blues viviane
preparava um chá de cogumelos azuis para depois do almoço que havíamos
encontrado nas trilhas para são tomé das letras em outras histórias de minas
fragmentadas com pimenta azeite e alho num caldeirão mágico incandescentes a
voz ultrapassava os corredores e entrava na cozinha como uma ladainha em
cortejo de fulia de reis com aqueles palhaços com máscaras de bode no rosto
imaginava a procissão em romaria era tudo real o chá ainda estava sendo
preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já tivesse sido ingerido
ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole depois de tomá-lo ela toda
de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e num passo de mágica todos os
outros elementos da fulia começaram um ritual fulinaímico se lançando para o
alto como se fossem fogos de artifícios ninguém provou do chá mas quando a
dança terminou não havia mais um gole dentro do caldeirão viviane quase teve um
troço ao ver o utensílio vazio.
Artur Gomes Fulinaíma
A Traição Das Metáforas
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o poema 9
o desencontro me provoca
estella a musa turca
me leva a saltar da pedra da gávea
para a puc
no trem que nos levava
do cosme velho ao corcovado
aos pés do cristo redentor
depois da aula de filosofia
e tudo mais que não fizemos
naquele inverno em botafogo
como se não viesse de itaperuna
e vivêssemos a infância
na inocência das taperas
e das janelas
mergulhamos para outros mares
lá na praia um barco nos espera
Federico Baudelaire
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as vezes me dá na telha alguns estalos trinca a trilha me leva pros atalhos das mil e uma noites de carnavais nas maravilhas não me estranhe quando trampo ou quando trapo qualquer trabalho com palavra é um trabalho baudelérico ou quase mesmo baudelírico quando me lembro que as palavras sagarânica ou sagarínica pode ter significado de poesia muito prosa ou até mesmo muito cínica
poema 8
em tarde de quarentena
para distrair a peste
antena ligada em um velho faroeste
a jangada vinha pelo rio
tocada a remo
por oito mãos indígenas
às margens da selva dos infernos
robert redford is jeremias jonson
mais forte que a vingança
na numerologia mallarmaica
8 é o número infinito
bem maior que a esperança
atirei o dado para cima
se der seis já sei o título do poema
e as palavras flutuam como plumas
mas não deu seis
o dado caiu com o número errado
o tiro saiu pela culatra
revólver enferrujado
:
poema inacabado
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
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o poema 6
nesse poema não quero
um outro personagem
na figura de linguagem
que não seja Eu
no teu desassossego
no instante da vertigem
quero todos os poros do teu corpo
respirando o hálito de hortelã
que trago do quintal
no jardim do Éden da Estação 353
o delírio pleno nossa insensatez
flores e amoras em nossas camas
incensando nossos corpos
para a noite dos desejos
nessa manhã do carnaval
Gigi Mocidade
A Rainha da Bateria da Mocidade
Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente
Coletivo
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o
poema 4
meus olhos atravessam
as lentes o peixe
e caminham em direção a luz
que está do outro lado
o infinito
que me espera com seus
olhos d´água
ela virá com sua boca
de batom marrom vermelho
e eu espero
com minhas 7 línguas
atrás da porta
com o mel e o veneno
a pimenta e o azeite
vamos devorar o peixe
depois do caldeirão incandescente
em nossas línguas só flechas - o fogo
faz dos seus versos
poesia um tanto prosa
tem na pele o couro cru
e um parangolé
pendurado no pescoço
onde pensamos nervos
no seu corpo - ali é osso
tua língua atravessa
o pontal das coxas
quando o leito do seu rio
transborda um oceano
carrega espinhos na carne
como fossem pétalas de rosa
com os dentes rasga da musa
- todo pano - e ali mesmo goza
o poema 2
a pedra sobre a lua calma
descansa meus olhos
nos teus olhos d´água
o fogo nos lençóis, a cama
espuma em nossa carne, algas
o poema 1
o que você faria
se soubesse que és musa
de dois poetas tortos?
um visivelmente você sabe
o outro se oculta
por trás da lua nova
quando deita na varanda
sua luz de prata
o que você faria
se hoje eu te dissesse
que o tempo tarda mas não finda
e que a lua só é nova
porque se preservou dentro da mata
curuminha ainda?
a minha relação poesia.teatro.poesia é visceral vital para o que escrevo como quem encena a necessidade do corpo como expressão não planejo nem penso o que ele sente quando jorra palavras no deserto branco do papel. o corpo dada lance de dados jogos e lances na ponta dos dedos o dado rola quando o estômago ronca e as tripas falam
as coisas pintam
as causas
as tretas
as vezes desabafo
com revolta vomito
mesmo em silêncio
vem o berro, o grito
noutras com leveza ironia
Jaguar Millôr me ensinaram
muitas coisas em tempos
de Pasquim do dia a dia
e Ziraldo muito mais
com seu menino maluquinho
que ainda mora em mim
fulinaíma origem e significados
nunca pensei criar neologismos, mas como tudo que escrevo vem do imprevisto do
improviso o não pensado nada é planejado. fulinaíma
me surgiu quando trafegava pela estrada dos Bandeirantes, na cia de Naiman, (um grande parceiro de música -
confira no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia
- 2002).
íamos em direção ao SESC Campinas pra dirigir uma Oficina de Criação. o Ano era 1996. Tinha criado para o SESC-SP dois projetos culturais. Em 1993 - Mostra Visual de Poesia Brasileira - Mário de Andrade 100 Anos - e em 1995 - Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim - portando em 96 Macunaíma e Antropofagia ainda eram conceitos que me habitavam a parte mais cerebral dos miolos.
De início, era só uma palavra, que foi se desdobrando em fulinaímicas,
fulinaimânicas, fulinaimagens, fulinaimargem, fulinaimicamente, aí eu fui
percebendo as referências, as misturas, e todas me remetiam antes de mais nada
a fulia, e a fulia me remeteu ao meu ser fulinaímico que é esse caldeirão
antropofágico.
Lendo Mário de Andrade, aprendi sobre a nossa formação étnica. Lendo Oswald, aprendi a lidar com as circunstâncias e criar o meu teatro do absurdo a partir delas
https://www.facebook.com/studiofulinaima/
o cateto na hipotenusa
a hipotenusa no cateto
o som dessa flauta me parece
sinfonia do hermeto
essa minha obsessão
por beleza na ternura
abstrata no concreto
vem da plasticidade
de uma nova arquitetura
os acasos por acaso
são lance de dados
na poesia do cacaso?
o amor
esse bandido
levou-me os fios de cabelo
me roubou os sonhos
e transformou em pesadelos
dê lírios
o dia que não te vi
foi baudelérico
a noite que não beijei
sagaranagem
quando te vi e não me viu
não entendi
porque o amor não foi selvagem
muito menos bordelírico
quando beijei e não sentiu
só mallarmérico
para escrever o que ainda
está por vir quando delírico
Artur Gomes
FULINAIMICAMENTE
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