quinta-feira, 21 de outubro de 2021

dê lírios

 


         poema 23

 

a língua hoje passeia

pelos martírios de florbela

em tudo que ela não disse

ou mesmo exposto não revela

pelas janelas do corpo

por todas dores prazeres

no que ficou por dizeres

no silêncio quando cala

por tudo que ainda não cabe

na sensualidade da fala

 

Artur Gomes

o homem com a flor na boca

www.arturfulinaima.blogspot.com

 

poema 21

 

nos meus delírios baudeléricos

ou mesmo fossem baudelíricos

sonho teu corpo flor de cactos

como se fossem flor de lírios

toco teus pelos flor do mangue

pulsando sangue em teus martírios

penso teu sexo flor de lótus

sagrada flor dos meus delírios

Artur Gomes

um rio de palavras

www.fulinaimargem.blogspot.com

 

poema 18

 

respiro-te enquanto escrevo

teu cheiro trazido pelo vento

vem da carne de manga

que mastiguei cinco minutos

 

tens o poder de me deixar em alfa

e me levar aos píncaros nesse estado êxtase

quando estou em transe quando alfa é beta

e o luar da tarde é  teu olho raio

                       que os meus acerta

 

Artur Gomes

Suor & Cio

www.suorecio.blogspot.com




                          catando cacos

de cogumelos azuis

 

procurava apagar os rabiscos de giz nos azulejos enquanto ouvia edvaldo santana adonirando um blues viviane preparava um chá de cogumelos azuis para depois do almoço que havíamos encontrado nas trilhas para são tomé das letras em outras histórias de minas fragmentadas com pimenta azeite e alho num caldeirão mágico incandescentes a voz ultrapassava os corredores e entrava na cozinha como uma ladainha em cortejo de fulia de reis com aqueles palhaços com máscaras de bode no rosto imaginava a procissão em romaria era tudo real o chá ainda estava sendo preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já tivesse sido ingerido ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole depois de tomá-lo ela toda de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e num passo de mágica todos os outros elementos da fulia começaram um ritual fulinaímico se lançando para o alto como se fossem fogos de artifícios ninguém provou do chá mas quando a dança terminou não havia mais um gole dentro do caldeirão viviane quase teve um troço ao ver o utensílio vazio.

 

Artur Gomes Fulinaíma

A Traição Das Metáforas

www.braziliricapereira.blogspot.com




o poema 9

 

o desencontro me provoca

estella a musa turca

me leva a saltar da pedra da gávea

para a puc

no trem que nos levava

do cosme velho ao corcovado

aos pés do cristo redentor

 

depois da aula de filosofia

e tudo mais que não fizemos

naquele inverno em botafogo

como se não viesse de itaperuna

e vivêssemos a infância

na inocência das taperas

 

e das janelas

mergulhamos para outros mares

lá na praia um barco nos espera

 

Federico Baudelaire

www.porradalirica.blogspot.com




as vezes me dá na telha alguns estalos trinca a trilha me leva pros atalhos das mil e uma noites de carnavais nas maravilhas não me estranhe quando trampo ou quando trapo qualquer trabalho com palavra é um trabalho baudelérico ou quase mesmo baudelírico quando me lembro que as palavras sagarânica ou sagarínica pode ter significado de poesia muito prosa ou até mesmo muito cínica

 

poema 8

 

em tarde de quarentena

para distrair a peste

antena ligada em um velho faroeste

 

a jangada vinha pelo rio

tocada a remo

por oito mãos indígenas

às margens da selva dos infernos

 

robert redford is jeremias jonson

mais forte que a vingança

 

na numerologia mallarmaica

8 é o número infinito

bem maior que a esperança

 

atirei o dado para cima

se der seis já sei o título do poema

e as palavras flutuam como plumas

mas não deu seis

 

o dado caiu com o número errado

o tiro saiu pela culatra

revólver enferrujado

:

poema inacabado

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com




o poema 6

 

nesse poema não quero

um outro personagem

na figura de linguagem

que não seja Eu

 

no teu desassossego

no instante da vertigem

quero todos os poros do teu corpo

respirando o hálito de hortelã

que trago do quintal

no jardim do Éden da Estação 353

 

o delírio pleno nossa insensatez

flores e amoras em nossas camas

incensando nossos corpos

    para a noite dos desejos

    nessa manhã do carnaval

 

Gigi Mocidade

A Rainha da Bateria da Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo

www.fulinaimargem.blogspot.com




o poema 4

meus olhos atravessam
as lentes o peixe
e caminham em direção a luz
que está do outro lado
o infinito
que me espera com seus
                    olhos d´água

ela virá com sua boca
de batom marrom vermelho
e eu espero
com minhas 7 línguas
               atrás da porta

com o mel e o veneno
a pimenta e o azeite
vamos devorar o peixe
depois do caldeirão incandescente
em nossas línguas só flechas - o fogo

a águardente 



                   o homem com a flor na boca

faz dos seus versos

poesia um tanto prosa

 

tem na pele o couro cru

e um parangolé

pendurado no pescoço

 

onde pensamos nervos

no seu corpo - ali é osso

 

tua língua atravessa

o pontal das coxas

 

quando o leito do seu rio

transborda um oceano

carrega espinhos na carne

como fossem pétalas de rosa

 

com os dentes rasga da musa

- todo pano - e ali mesmo goza

 

o poema 2

 

a pedra sobre a lua calma

descansa meus olhos

nos teus olhos d´água

 

o fogo nos lençóis, a cama

 

espuma em nossa carne, algas

 

o poema 1

 

o que você faria

se soubesse que és musa

de dois poetas tortos?

 

um visivelmente você sabe

o outro se oculta

por trás da lua nova

quando deita na varanda

sua luz de prata

 

o que você faria

se hoje eu te dissesse

que o tempo tarda mas não finda

e que a lua só é nova

porque se preservou dentro da mata

curuminha ainda?



a minha relação poesia.teatro.poesia é visceral vital para o que escrevo como quem encena a necessidade do corpo como expressão não planejo nem penso o que ele sente quando jorra palavras no deserto branco do papel. o corpo dada lance de dados jogos e lances na ponta dos dedos o dado rola quando o estômago ronca e as tripas falam

 

as coisas pintam

as causas

as tretas

as vezes desabafo

com revolta vomito

mesmo em silêncio

vem o berro, o grito

 

noutras com leveza ironia

Jaguar Millôr me ensinaram

muitas coisas em tempos

de Pasquim do dia a dia

e Ziraldo muito mais

 

com seu menino maluquinho

que ainda mora em mim





 

fulinaíma origem e significados


nunca pensei criar neologismos, mas como tudo que escrevo vem do imprevisto do improviso o não pensado nada é planejado. fulinaíma me surgiu quando trafegava pela estrada dos Bandeirantes, na cia de Naiman, (um grande parceiro de música - confira no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002).

 íamos em direção ao SESC Campinas pra dirigir uma Oficina de Criação. o Ano era 1996. Tinha criado para o SESC-SP dois projetos culturais. Em 1993 - Mostra Visual de Poesia Brasileira - Mário de Andrade 100 Anos  - e em 1995 - Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim - portando em 96 Macunaíma e Antropofagia ainda eram conceitos que me habitavam a parte mais cerebral dos miolos.

De início, era só uma palavra, que foi se desdobrando em fulinaímicas, fulinaimânicas, fulinaimagens, fulinaimargem, fulinaimicamente, aí eu fui percebendo as referências, as misturas, e todas me remetiam antes de mais nada a fulia, e a fulia me remeteu ao meu ser fulinaímico que é esse caldeirão antropofágico.

 Lendo Mário de Andrade, aprendi sobre a nossa formação étnica. Lendo Oswald, aprendi a lidar com as circunstâncias e criar o meu teatro do absurdo a partir delas

https://www.facebook.com/studiofulinaima/

 

                                                 o cateto na hipotenusa

a hipotenusa no cateto

o som dessa flauta me parece

sinfonia do hermeto

 

essa minha obsessão

por beleza na ternura

abstrata no concreto

vem da plasticidade

de uma nova arquitetura

 

os acasos por acaso

são lance de dados

na poesia do cacaso?

 

o amor

esse bandido

levou-me os fios de cabelo

me roubou os sonhos

e transformou em pesadelos




                 dê lírios 

 

o dia que não te vi

foi baudelérico

a noite que não beijei

 sagaranagem

 

quando te vi e não me viu

não entendi

porque o amor não foi selvagem

muito menos bordelírico

 

quando beijei e não sentiu

só mallarmérico

 

para escrever o que ainda

está por vir quando delírico




 Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimagens.blogspot.com


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