quinta-feira, 14 de outubro de 2021

o que transpira

 


                                           poética 76

 

débora em mim

quando incorpora

espora no flanco jorra sangue

 

nem mesmo o mangue

do pontal quando mareja

em mim deságua tanto mar

                   como esta sanha

 

quem sabe Oxum maré

quem sabe Ossanha

essa mulher de tantas garras

                               que me lanha

 

Artur Gomes Gumes

Toda Nudez Não Será Castigada

www.suorecio.blogspotcom



ofertório

 

todo meu senso

político/social

dedico a ela

 

no livro que sou

enquanto coisa

sensual metáfora

para os olhos de quem lê

para os sentidos

         de quem vê

 

eu sou matéria argamassa

             armadura

             permaneço

             de pé

nessa escultura

 

encaro o tempo

contra o vento

contra a tirania da mordaça

nada que eu não faça

                       para ela

minha musa – o amor é cego

e dou de graça

 

Artur Gomes

O homem com a flor na boca

www.arturfulinaima.blogspot.com



terra

 

e vamos nós

cada vez mais ácido de vento

cada vez mais óxido de mar

ave de rapina e sua presa

envenenada indefesa

sem ter como me salvar

 

a pá/lavra

ou

en/terra




 aqui tens o submundo

os bem mais fundos

os mais  profundo minerais

nem só ouro nem só prata

tem também a carne viva

o couro cru dos ancestrais

 

tempestade/temporais

 

eu sou avesso

atravesso a cidade

com o que me interessa

 

as vezes sou sossego

outras vezes tenho pressa

 

não procuro o que não quero

me abstenho no que faço

me abstrato quando posso

 

me concreto em cada passo

o compasso é argamassa

e absinto quando traço

 

uma linha nunca reta

da palavra em descompasso

 

se sou torto não importa

em cada porta risco um ponto

pra revelar os meus destroços

 

no alfabeto do desterro

na carnadura dos meus ossos




 navegar é preciso

                                          para Fernando Aguiar

 

Aqui

redes em pânico

pescam esqueletos no mar

esquadras descobrimento

espinhas de peixe convento

cabrálias esperas relento

escamas secas no prato

e um cheiro podre no AR

 

caranguejos explodem

   mangues em pólvora

 

é surreal a nossa realidade

tubarões famintos devoram

cadáveres em nossa sala de jantar

 

como levar o barco

em meio a essa tempestade

          navegar é preciso

 

mas está dificilíssimo navegar

 

Artur Gomes

https://www.facebook.com/arturgomespoeta

 

poema 22

 

deitado na minha cama

pensava na quarentena

que já passam de semanas

com os seus tantos desesperos

 

depois em sono profundo

ligaram minhas antenas

e me veio sonho distante

pra aliviar meus pesadelos

 

estávamos em um deserto

cercados por milhões de prédios

sonhava com micaela

em um imenso palco a céu aberto

 

falávamos poemas de Brecht

Garcia Lorca Mayakówski

fugindo de qualquer assédio

bebendo olhos de vodk

para não morrermos de tédio

 

Artur Gomes

o homem com a flor na boca

https://www.facebook.com/ohomemcomaflornaboca/

 

o que me inspira

o que   transpira

o que me pira

           faz suar

re-escrever

        delirar

para não enlouquecer

 

bebo teus olhos

dentro da noite escura

de onde vens criatura

que me consome a fala

quando me olha e se cala

no seu profundo pensar

 

mergulho no teu silêncio

     pelos mistérios do cio

        pelos segredos do ar

 

o que me trazes do rio

o que me teces no fio

o que me levas do mar

 


Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimagens.blogspot.com

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