poética 76
débora em mim
quando incorpora
espora no flanco jorra sangue
nem mesmo o mangue
do pontal quando mareja
em mim deságua tanto mar
como esta sanha
quem sabe Oxum maré
quem sabe Ossanha
essa mulher de tantas garras
que me lanha
Artur Gomes Gumes
ofertório
todo meu senso
político/social
dedico a ela
no livro que sou
enquanto coisa
sensual metáfora
para os olhos de quem lê
para os sentidos
de quem vê
eu sou matéria argamassa
armadura
permaneço
de pé
nessa escultura
encaro o tempo
contra o vento
contra a tirania da mordaça
nada que eu não faça
para ela
minha musa – o amor é cego
e dou de graça
Artur Gomes
O homem com a flor na boca
www.arturfulinaima.blogspot.com
terra
e vamos nós
cada vez mais ácido de vento
cada vez mais óxido de mar
ave de rapina e sua presa
envenenada indefesa
sem ter como me salvar
a pá/lavra
ou
en/terra
os bem mais fundos
os mais profundo minerais
nem só ouro nem só prata
tem também a carne viva
o couro cru dos ancestrais
tempestade/temporais
eu sou avesso
atravesso a cidade
com o que me interessa
as vezes sou sossego
outras vezes tenho pressa
não procuro o que não quero
me abstenho no que faço
me abstrato quando posso
me concreto em cada passo
o compasso é argamassa
e absinto quando traço
uma linha nunca reta
da palavra em descompasso
se sou torto não importa
em cada porta risco um ponto
pra revelar os meus destroços
no alfabeto do desterro
na carnadura dos meus ossos
para Fernando Aguiar
Aqui
redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
é surreal a nossa realidade
tubarões famintos devoram
cadáveres em nossa sala de jantar
como levar o barco
em meio a essa tempestade
navegar é preciso
mas está dificilíssimo navegar
Artur Gomes
https://www.facebook.com/arturgomespoeta
poema 22
deitado na minha cama
pensava na quarentena
que já passam de semanas
com os seus tantos desesperos
depois em sono profundo
ligaram minhas antenas
e me veio sonho distante
pra aliviar meus pesadelos
estávamos em um deserto
cercados por milhões de prédios
sonhava com micaela
em um imenso palco a céu aberto
falávamos poemas de Brecht
Garcia Lorca Mayakówski
fugindo de qualquer assédio
bebendo olhos de vodk
para não morrermos de tédio
Artur Gomes
o homem com a flor na boca
https://www.facebook.com/ohomemcomaflornaboca/
o que me inspira
o que
transpira
o que me pira
faz suar
re-escrever
delirar
para não enlouquecer
bebo teus olhos
dentro da noite escura
de onde vens criatura
que me consome a fala
quando me olha e se cala
no seu profundo pensar
mergulho no teu silêncio
pelos mistérios do cio
pelos segredos do ar
o que me trazes do rio
o que me teces no fio
o que me levas do mar
FULINAIMAGEM
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