todo os dias
capino a esperança
escavando outras palavras
no chão desse quintal
e quando escrevo com enxada
o poema é mais real
cacomanga
na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais
pan(demônica)
para Salgado Maranhão
ins-pirado no seu poema Pá
passeio os pés descalços
sobre covas rasas
contando ossos no poema exposto
no sujeito do objeto
tudo isso exposto
nesse papo reto
segue o passo norte
não leio cartas de suicídio
nem decreto de hospício
na tentação que me conforte
quero matar o genocídio
pra não morrer antes da morte
metáfora
meta dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
BraZílica Pereira
neste país de fogo & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da imperial tropicanalha
não metam nestes planos
verdes/amarelos
meus dentes vãos/armados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos
a soja secular de Jardinópolis
onde os discos-voadores
sobrevoam meu nariz
na cara das metrópoles.
no centro ao sul
os cemitérios
possuem mais mistérios
que a nossa vã filosofia.
tem um animal de vagina espacial
na poesia
&
e um grande pênis roxo
milenar
feito espiral em círculo
preparando imenso orgasmo
a tesoura rasga o tecido da carne
enquanto sangra
no processo cirúrgico do poema
corta de cada palavra a sílaba
que não presta
de cada frase a palavra
de cada sílaba a letra morfa
e o poeta vai vivendo no que resta
Artur Gomes
Pátria A(r)mada
www.porradalirica.blogspot.com
ilustração: Felipe Stefani
ALUCINAÇÕES (IN)TERPOÉTICAS
O QUE é que mora em tua boca bia? um deus. um anjo. ou muitos dentes claros como os olhos do diabo e uma estrela como guia?
O QUE é que arde em tua boca bia? azeite. sal. pimenta. Alho résteas de cebola um cheiro azedo de cozinha tua boca é como a minha?
O QUE é que pulsa em tua boca bia? mar de eternas
ondas que covardes não navegam, rios de águas sujas onde os peixes se apagam.
ou um fogo cada vez mais Dante como este em minha
boca de poeta delirante nesta noite cada vez mais dia em que acendo os meus
infernos em tua boca bia?
Artur Gomes
Couro
Cru & Carne Viva
entre a pele e a flor no asco
com meia sola no sapato
o meu vapor mais que barato
industrial e infonáutico
entre o couro de zinco e o cabelo
mar de indecifrável plástico
por entre o bronze dos teus pelos
entre o gozar cibernético
em todo sangue magnético
a minha carne pós poeira
entre a flor e o vaso de barro
na homepage ou no carro
na camisinha de vênus
vírus H corroendo
em vita/plus ou na sala
meu olho gótico TVendo
BraziLírica lâmpada fala
por um tanto ou tanto quase
cento e dez em cada fase
não sendo assim acaba sendo
poema 2
debaixo da sacada a escada torta
pássaro sem teto acima do delírio
coração de porco crava no oco da
noite
a faca cega, punhal de cinco estrelas
na constelação do cão maior
por onde Úrsula nua passeia
Dédala de Dandi
Deusa de Dali
lua de Dadá
no coração do pintor sem fronteiras
acima do pé de abóbora
embaixo do pé de cajá
Malásia não é aqui
Espanha não além mar
Salvador não é Dali
a mulher que eu quero mesmo
e uma Dedé que não Dadá
Bia de Dante do inferno
Itamarati/Itamaracá
constelação ursa maior
pra Dadá meu coração pra Dedé não sou
cantor
quando quero quero mesmo
espuma nylon pele tecido isopor.
poundianna
Torquato era uma poeta
que amou a Ana
Leminski profeta
Que amou Alice
um dia pós veio Uilcon torto
pegou a Jóia di Ana
e juntou na PereirAlice
com o corpo de alma das duas
foi Bouvoir Assombradado
pra lá de França ou Bahia
roendo o osso do mito
pois tudo que Sartre dizia
o Anjo jurou já ter dito
Nonada
:
- Biúte ria
Artur Gomes
BraziLírica Pereira : A Traição Das
Metáforas
www.braziliricapereira.blogspot.com
Artur Gomes
FULINAIMICAMENTE
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