sexta-feira, 22 de outubro de 2021

poema a(r)mado

 



poema a(r)mado

 

todo os dias

capino a esperança

escavando outras palavras

no chão desse quintal

 

e quando escrevo com enxada

o poema é mais real

 

cacomanga

 na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais

 

pan(demônica)

 

para Salgado Maranhão

ins-pirado no seu poema Pá

 

passeio os pés descalços

sobre covas rasas

contando ossos no poema exposto

no sujeito do objeto

tudo isso exposto

nesse papo reto

segue o passo norte

não leio cartas de suicídio

nem decreto de hospício

na tentação que me conforte

quero matar o genocídio

pra não morrer antes da morte

 

metáfora

 

meta dentro meta fora

que a meta desse trem agora

é seta nesse tempo duro

meta palavra reta

para abrir qualquer trincheira

na carne seca do futuro

meta dentro dessa meta

a chama da lamparina

com facho de fogo na retina

pra clarear o fosso escuro

 

BraZílica Pereira

 

neste país de fogo & palha

se falta lenha na fornalha

uma mordaz língua não falha

cospe grosso na panela

da imperial tropicanalha

não metam nestes planos

verdes/amarelos

meus dentes vãos/armados

nem foices nem martelos

meus dentes encarnados

alvos brancos belos

já estão desenganados

desta sopa de farelos

 

GENITAL

pasto no cosmo
a soja secular de Jardinópolis
onde os discos-voadores
sobrevoam meu nariz
na cara das metrópoles.

no centro ao sul
os cemitérios
possuem mais mistérios
que a nossa vã filosofia.

tem um animal de vagina espacial
na poesia
&
e um grande pênis roxo
milenar
feito espiral em círculo
preparando imenso orgasmo
pra festejar o fim do século.


Testamento

 

a tesoura rasga o tecido da carne

enquanto sangra

no processo cirúrgico do poema

corta de cada palavra a sílaba

que não presta

de cada frase a palavra

de cada sílaba a letra morfa

e o poeta vai vivendo no que resta

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada

www.porradalirica.blogspot.com

ilustração: Felipe Stefani


ALUCINAÇÕES (IN)TERPOÉTICAS

O QUE é que mora em tua boca bia? um deus. um anjo. ou muitos dentes claros como os olhos do diabo e uma estrela como guia?

O QUE é que arde em tua boca bia? azeite. sal. pimenta. Alho résteas de cebola um cheiro azedo de cozinha tua boca é como a minha?

O QUE é que pulsa em tua boca bia? mar de eternas ondas que covardes não navegam, rios de águas sujas onde os peixes se apagam.

ou um fogo cada vez mais Dante como este em minha boca de poeta delirante nesta noite cada vez mais dia em que acendo os meus infernos em tua boca bia?

 

Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva

www.suorecio.blogspot.com




poema 1

 

entre a pele e a flor no asco

com meia sola no sapato

o meu vapor mais que barato

industrial e infonáutico

entre o couro de zinco e o cabelo

mar de indecifrável plástico

por entre o bronze dos teus pelos

 

entre o gozar cibernético

em todo sangue magnético

a minha carne pós poeira

entre a flor e o vaso de barro

na homepage ou no carro

na camisinha de vênus

vírus H corroendo

 

em vita/plus ou na sala

meu olho gótico TVendo

BraziLírica lâmpada fala

por um tanto ou tanto quase

cento e dez em cada fase

não sendo assim acaba sendo

 

poema 2

 

debaixo da sacada a escada torta

pássaro sem teto acima do delírio

coração de porco crava no oco da noite

a faca cega, punhal de cinco estrelas

na constelação do cão maior

 

por onde Úrsula nua passeia

Dédala de Dandi

Deusa de Dali

 lua de Dadá

no coração do pintor sem fronteiras

acima do pé de abóbora

embaixo do pé de cajá

Malásia não é aqui

Espanha não além mar

Salvador não é Dali

a mulher que eu quero mesmo

e uma Dedé que não Dadá

 

Bia de Dante do inferno Itamarati/Itamaracá

constelação ursa maior

pra Dadá meu coração pra Dedé não sou cantor

quando quero quero mesmo

espuma nylon pele tecido isopor.


poundianna

 

Torquato era uma poeta

que amou a Ana

Leminski profeta

Que amou Alice

 

um dia pós veio Uilcon torto

pegou a Jóia di Ana

e juntou na PereirAlice

 

com o corpo de alma das duas

foi Bouvoir Assombradado

pra lá de França ou Bahia

roendo o osso do mito

 

pois tudo que Sartre dizia

o Anjo jurou já ter dito

 

Nonada

:

- Biúte ria

 

Artur Gomes

BraziLírica Pereira : A Traição Das Metáforas

www.braziliricapereira.blogspot.com




 

Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimagens.blogspot.com


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