domingo, 10 de outubro de 2021

para uma menina com a flor na boca

 


Para Uma Menina

Com Uma Flor Na Boca

 

cada palavra

ou nome

sendo de gente

ou coisa

traz em si

suas nuances

léxicas

sendo Luana

ou Jéssica

sendo paixão

ou fome

sendo cidade

ou surto

ou condição estética

cada palavra

ou nome

traz em si

sua porção poética

dentro da arte

ou fora

na pele

que tens agora

no olho

nas pernas

nas coxas

estando ainda mais dentro

umbigo

intestino útero

mar de desejos

tantos

que a boca

sorrindo implora

ou mesmo

calado o pranto

atormente

teu corpo

e chora

cada palavra

ou nome

é signo

verbo cilada

se queres silêncio

não grito

se queres mistério

não mito

na carne

no sangue

no osso

está a palavra amada

quando palavra flor

não espada.

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com



o risco

 

atravessar as portas

ultrapassar janelas

paredes muros cidades

o risco

de te matar

saudade

 

dentro da boca  quero

penetrar garganta

laringe esôfago estômago

enquanto

dançamos bolero

sendo um tango

enquanto fado

arrisco

o beijo guardado

 

num copo de vinho

ou de menta

sabor  pimenta

ou alho

doce mel da pimenta

enquanto a palavra

entra

 

pelos teus olhos e

abras

teu cais do porto

fechado

 

arrisco

meus dedos e dados

nos lances mais atrevidos

dos nossos sextos sentidos

por tudo que foi esperado

 

prosa concreta

num dia qualquer de verão ou inverno fomos almoçar no Netuno Flutuante restaurante que fica sobre a represa Billing na via Anchieta a caminho de São Bernardo. Silvia Passareli, José Homero e meu xará Arthur haviam acabado e desmontar uma exposição na Escola de Artes de São Caetano.

 Depois de um almoço regado a muita vodka e sagatiba, retornamos para São Paulo, e aí em estado etílico avançado Arthur que não Rimbaud,  o nosso guia, perdeu o caminho e a poesia porosa virou prosa concreta para Haroldo de Campos. Não sabia  mais se estávamos no caminho de Anchieta, São Bernardo, Santo André, São Caetano ou se estávamos voltando de uma nova Granada na Espanha. José Homero enrolava a língua de tal forma, que nem um perfeito chinês iri entender o seu dialeto mandarim.

 Clic no link para ver o vídeo – não vou fazer cena

https://www.facebook.com/FulinaimaProducoes/videos/1954678881215757

 

 

zorra secreta

tenho em mim
que amor não sangra
apenas angra
quando o mar não está pra peixe

tenho um feixe

de amor guardado
quando penso
me dá um tremor
da língua
às solas dos sapatos

só a dama do vapor
é capaz de compreender

os meus baratos

trago em mim tuas unhas
mesmo nunca estando
entre meus dedos

se nunca estive

 te procurando
como agora estando
absinto não me cura

não pense

metáforas à parte
juras secretas

poéticas fulinaímicas
o que te tenho

 é carNAvalha

 

minha língua muito cínica
no teu corpo se espalha
como na avenida

 o samba-enredo



 nunca pensei

trepar no corpo

das palavras

como cristina bezerra

me disse que trepo

 

na verdade

o corpo da palavra

tinha nome

exposto no poema

punhal

músculo

ereto

entre as unhas

e os dedos dela

 

tinha um coelho

no colo

e o sobrenome

da planta

que deixa a língua

mais bela



Com Os Dentes

Cravados Na Memória

 Mesmo com uma grande dor, provocada por um bico de papagaio que a décadas insiste em cantar na minha coluna, roubando-me as vezes a paciência, passei uma tarde de ontem (16 novembro 2017), super divertida no Auditório Miguel Ramalho em cia da equipe de Coordenação de Projetos de Audiovisual e Design Para Educação - Centro de Referência do IFF Campos Campus Centro.

 Motivo do Encontro: um depoimento sobre os mais de 50 anos que Vivi no IFF desde os tempos de aluno no Ginásio Industrial na então ETC (Escola Técnica de Campos), de 1961 a 1964. Passando pelo período de 1968 a 1986 quando já servidor da ETFC(Escola Técnica Federal de Campos), trabalhei como Linotipista na Oficina de Artes Gráficas (Tipografia).

 De 1975 a 1985 mesmo subvertendo a ordem natural vigente que direcionava a instituição, criei totalmente à revelia da direção na época, uma Oficina de Teatro, que se manteve subversiva até 1986 (pois era assim que os professores reacionários da época se referiam a atividade.

 Nunca fui poeta de bons modos, bons costumes, e como os alunos da Oficina de Teatro, eram também alunos da ETFC, nos "anos de chumbo" onde o Diretor da instituição era indicado  pelo MEC, depois de algum curso na Escola Superior de Guerra, era normal que a minha atividade com Teatro dentro da Escola fosse tratada como Subversão.

 Em 1986, acontece as primeiras "Eleições Diretas", nas Escolas Técnicas Federais e nas Universidades Federais, pós Ditadura. Na ETFC se elege Diretor o Professor de Matemática Luciano D´Angelo. Como desde 1980 o trabalho com a Oficina de Teatro havia ultrapassado os muros da Escola e invadido as ruas de Campos, com o Auto do Boi-Pintadinho, Luciano então, me transfere da Tipografia para o Grupo de Atividades Culturais, criando um espaço físico próprio para as minhas atividades com Teatro.

 Em 1997 a ETFC já havia se transformado em CEFET, e com a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases), criada por Darcy Ribeiro, a Oficina de Teatro, como outras Oficinas de Arte que já existiam então passam a fazer parte da grade curricular para os alunos do Curso Técnico (nível médio). No período de 1997 a 2002 passo então a Coordenador da Oficina de Artes Cênicas, até a minha aposentadoria em 2002.

 De 2011 a 2012 convidado pelo então Diretor  do IFF Campos Campus Centro, Jefferson Manhães, volto a instituição para Dirigir Oficinas de Criação e Produção Cine Vídeo e crio o I Festival de Cinema Curta-IFF, realizado em 2012 no Auditório Cristina Bastos.

 As 3 horas de bate papo e gravações foram poucas para narrar os períodos e os fatos em seus mínimos detalhes. Esperava que um dia, acompanhando e vivendo as transformações do IFF como acompanho, que esse depoimento viesse a acontecer, e esses 50 anos vividos ali dentro pretendo transformar no livro Com Os Dentes Cravados Na Memória, onde não só o que vivi dentro do IFF será contado, mas também muito da minha travessuras culturais por este país a fora.

 Equipe da Coordenação de Projetos de Audiovisual e Design para Educação que trabalharam nas gravações: Larissa Vianna, Rodrigo Otal, Carlos Henrique Morelato e Lionel Mota.

 

Artur Gomes

Com Os Dentes Cravados na Memória

https://www.facebook.com/arturgomesmemoria/




 seja pornográfico como

Carlos Drummond de Andrade

Em face dos últimos acontecimentos

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
Que o nosso avô português?

Oh ! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros,
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
Fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso a teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?

 

recolho da minha amada Cristina Bezerra pra

colocar mais pimenta em algum molho no tempero

 

satírica

 

eu não sou santa

nem tão pouco freira

a hóstia que consumo

tem gosto de macumba

e não é flor que se cheira

eu sou umbanda

e minha banda toca

atabaques na sexta feira

 

Cristina Bezerra

 

no coração dos boatos

 agora que descobri ser o irmão mais novo de Biúte vou morar nos telhados do Palácio Jaburu. Assim posso ver todos os fantasmas que transitam nos corredores do Palácio depois da meia noite. E pelas minhas contas são muitos, pelo menos 583 já vi passeando por ali, numa orgia desenfreada de lavagem de roupa suja, apesar de todos estarem travestidos de terno e gravata, não escondiam o mal cheiro que exalava de suas caricaturas

Federico Baudelaire

www.porradalirica.blogspot.com





 Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimagens.blogspot.com

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