quarta-feira, 20 de outubro de 2021

acho que é tempo ainda

 


                     com os dentes

 cravados na memória

 

em 1972

nas dunas do barato

em ipanema

escrevi este poema

ouvindo gal a todo vapor

 

o amor sobreviveu

debaixo da porrada

a barra era pesada

nuvens eram chumbo

bala na cara

de quem afrontasse o milico

 

patas de cavalos na carne

de quem ousasse dar o grito

 

sobrevivi

em couro cru & carne viva

e minha voz índia nativa

é muito pouca para cantar

                         o que restou

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com



                                                  meu sonho no sossego

é um barco naufragado

na boca da barra

 

a farra oficial

tem nome:

ind/gestão

 

- qualquer dia desses

a metáfora do empregado

explode na cara do patrão

 

antes que seja tarde

 

qualquer palavra é um risco

qualquer poema eu arrisco

bala facada carro usado

compra venda laranja goiabeira

          prisão nos dentes

a farsa no país é trágica

e o povo é sempre o indigente



Jura secreta 30

 

afora em mim grafitemas

nenhuma figuralidade

frutas legumes verduras

quem cala a fala consente

houve um tempo que a dita/dura

calou a fala da gente

 

grafito em tua carne de pedra

medusa de sete patas

poema de sete cabeças

miragens do amor

     que enlouqueça

apóstolos na santa ceia

Miró brincando de circo

com os olhos na lua cheia

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

 



 voo liberdade

 

eu prefiro o marllarmaico

o pós concreto

a argamassa do abstrato

desconstruindo o abjeto


                                               Jura secreta 27

rio em pele feminina

 

o rio com seus mistérios

molha meu cio em silêncio

desejo o que nos separa

a boca em quantos minutos

as flores soltas na fala

o pó dos ossos dos anos

 

você me diz não ter pressa

seus olhos fogo na sala

o beijo um lance de dados

cuidado cuidado cuidado

que sou um anjo de fadas

não beije assim meus segredos

 

meus olhos faróis nos riachos

meus braços dois afluentes

pedaços do corpo do rio

meus seios ilhas caladas

das chamas não conhece o pavio

 

se você me traz para o cio

assim que o sexo aflora

esta palavra apavora

o beijo dado mais cedo

quebra meu ser no espelho

meu cerne é carne de vidro

na profissão dos enredos

quanto mais água me sinto

presa ao lençol dos seus dedos

 

o rio retrata meu centro

na solidão de mim mesma

segundo a segundo nas águas

 

lá onde o sol é vazante

lá onde a lua é enchente

lá onde o rio é estrada

onde coloca seus versos

me encontro peixe e mais nada

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com




brazílica

 

goi áis cerrado bordado

vestido de coralina

as vezes me deixa encantado

outras vezes me alucina

me transforma em leopardo

nas garras dessa menina

piqui fruto do mato

olho de boi visgo de jaca

jaraguá jaquatirica

ceilândia olho de vaca

taguatinga em meu retrato

 

onça em mim significa

sabor de carne mordida

lambida até o caroço

na boca da bia morena

planaltina ou plano piloto

que mora na carne/poema

na pele do sague no osso

das mina do lago norte

sem alarde

alvorada ou alvoroço

 

Artur Gomes

Toda Nudez Não Será Castigada

www.braziliricapereira.blogspot.com

 

desejos

 

meus desejos são simples

objetos diretos concretos

sujeitos a metamorfoses

pelo fluxo lunar as marés

o alto mar as altas ondas

maremotos furacões

 

meus desejos são poemas

marítimos elétricos metafísicos

mariscos cozinhados n´água e sal

olho de boi feixes de lua

reflexos cristalinos onde embrulho

baseado pra depois da temperança

 

eu quero música

eu quero dança

e cá com meus botões

você bem sabe onde mergulho


acho que é tempo ainda

 

isadora

quando a vida não for embora

me leva

pode ser a manhã

ou mesmo agora

depois do almoço

 

no fim da tarde

no por do sol

entre paredes pedras

 facas de dois gumes

nos parreirais depois da lua

olhando as águas

escorrerem nos riachos

 

se o rio grande é frio

o de janeiro é muito quente

santa teresa é lá em cima

mas botafogo é cá embaixo

 

se tá feio nossos estados, baby

nossa vida é muito linda

acho que ainda há tempo

acho que é tempo ainda

 

Artur Gomes

O poeta enquanto coisa

www.secretasjuras.blogspot.com





 

Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimargem.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sarau Campos VeraCidade

Sarau Campos VeraCidade   Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia   mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no qu...