com os dentes
cravados na
memória
em 1972
nas dunas do barato
em ipanema
escrevi este poema
ouvindo gal a todo vapor
o amor sobreviveu
debaixo da porrada
a barra era pesada
nuvens eram chumbo
bala na cara
de quem afrontasse o milico
patas de cavalos na carne
de quem ousasse dar o grito
sobrevivi
em couro cru & carne viva
e minha voz índia nativa
é muito pouca para cantar
o que restou
Artur Gomes
www.secretasjuras.blogspot.com
meu sonho no sossego
é um barco naufragado
na boca da barra
a farra oficial
tem nome:
ind/gestão
- qualquer dia desses
a metáfora do empregado
explode na cara do patrão
antes que seja tarde
qualquer palavra é um risco
qualquer poema eu arrisco
bala facada carro usado
compra venda laranja goiabeira
prisão nos dentes
a farsa no país é trágica
e o povo é sempre o indigente
Jura secreta 30
afora em mim grafitemas
nenhuma figuralidade
frutas legumes verduras
quem cala a fala consente
houve um tempo que a dita/dura
calou a fala da gente
grafito em tua carne de pedra
medusa de sete patas
poema de sete cabeças
miragens do amor
que enlouqueça
apóstolos na santa ceia
Miró brincando de circo
com os olhos na lua cheia
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2018
voo liberdade
eu prefiro o marllarmaico
o pós concreto
a argamassa do abstrato
desconstruindo o abjeto
Jura secreta 27
rio em pele feminina
o rio com seus mistérios
molha meu cio em silêncio
desejo o que nos separa
a boca em quantos minutos
as flores soltas na fala
o pó dos ossos dos anos
você me diz não ter pressa
seus olhos fogo na sala
o beijo um lance de dados
cuidado cuidado cuidado
que sou um anjo de fadas
não beije assim meus segredos
meus olhos faróis nos riachos
meus braços dois afluentes
pedaços do corpo do rio
meus seios ilhas caladas
das chamas não conhece o pavio
se você me traz para o cio
assim que o sexo aflora
esta palavra apavora
o beijo dado mais cedo
quebra meu ser no espelho
meu cerne é carne de vidro
na profissão dos enredos
quanto mais água me sinto
presa ao lençol dos seus dedos
o rio retrata meu centro
na solidão de mim mesma
segundo a segundo nas águas
lá onde o sol é vazante
lá onde a lua é enchente
lá onde o rio é estrada
onde coloca seus versos
me encontro peixe e mais nada
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
brazílica
goi áis cerrado bordado
vestido de coralina
as vezes me deixa encantado
outras vezes me alucina
me transforma em leopardo
nas garras dessa menina
piqui fruto do mato
olho de boi visgo de jaca
jaraguá jaquatirica
ceilândia olho de vaca
taguatinga em meu retrato
onça em mim significa
sabor de carne mordida
lambida até o caroço
na boca da bia morena
planaltina ou plano piloto
que mora na carne/poema
na pele do sague no osso
das mina do lago norte
sem alarde
alvorada ou alvoroço
Artur Gomes
Toda Nudez Não Será Castigada
www.braziliricapereira.blogspot.com
desejos
meus desejos são simples
objetos diretos concretos
sujeitos a metamorfoses
pelo fluxo lunar as marés
o alto mar as altas ondas
maremotos furacões
meus desejos são poemas
marítimos elétricos metafísicos
mariscos cozinhados n´água e sal
olho de boi feixes de lua
reflexos cristalinos onde embrulho
baseado pra depois da temperança
eu quero música
eu quero dança
e cá com meus botões
você bem sabe onde mergulho
acho que é tempo ainda
isadora
quando a vida não for embora
me leva
pode ser a manhã
ou mesmo agora
depois do almoço
no fim da tarde
no por do sol
entre paredes pedras
facas de dois gumes
nos parreirais depois da lua
olhando as águas
escorrerem nos riachos
se o rio grande é frio
o de janeiro é muito quente
santa teresa é lá em cima
mas botafogo é cá embaixo
se tá feio nossos estados, baby
nossa vida é muito linda
acho que ainda há tempo
acho que é tempo ainda
Artur Gomes
O poeta enquanto coisa
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Artur Gomes
FULINAIMAGEM
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