minha poesia
não é só SagaraNAgem
te amo como posso
corpo alma
carne osso
nervos músculos
todos os desejos maiúsculos
o amor é farto forte justo quente
espalha saliva na língua
provoca cócega nos dedos
e jorra esperma entre os dentes
Artur Gomes
FULINAIMAGEM - a poesia proibida de Artur Gomes
se espalha
a língua nativa
não é fogo de palha
é brasa viva
Marcante na medida necessária sempre que leio uma Jura Secreta do Artur Gomes, sinto-me degustando uma bebida diferente, como se estivesse em débito com algo ou com alguém, minha consciência fala abertamente sobre os causos que tomam conta. Um livro para se ler nas horas de reflexão, de desejo, de vontade, e claro, sobretudo, nas inquietações. Um livro excelente para ser lido ao som de Erik Satie ou Beethoven.
Vítor Lima
Próximo Parágrafo
Nem todo segredo é secreto
Nem todo segredo é guardado
O corpo mesmo dentro dos panos
No espelho é revelado
O amor mesmo quando profano
Tem muito mais de sagrado
Eu estava aqui sozinha em meu cavalo
branco numa manhã de sábado sem o sol ardendo a tarde e minhas mãos geladas nos
lençóis de lã quando o telefone me tirou da cama e me fez pensar nessa manhã de
louco todo mistério é muito pouco eu quero essa hortelã na boca eu quero te
beijar
Cristina Bezerra
https://www.facebook.com/onomedamusa/
Poética 42
Era uma menina
vestida de outubro
atravessando a rua
com um girassol no seu vestido
suas mãos beijavam o vento
como fossem lábios
de um beija-flor
meus olhos mergulhados
na paisagem
entre os olhos da menina
e o espelho do retrovisor
foto.grafei naquela tarde
a cor do seu vestido
e o girassol daquele dia
para me habitarem
seja lá por onde eu for
Federico Baudelaire
www.fulinaimargens.blogsot.com
poema de 7 patas
na carne santa do poema
para pisar a amargura
na engrenagem do sistema
e extirpar de vez
o pus dessa gangrena
não durmo. Sonho
Dédala passeia em minha cama
sob os meus lençóis de lã
toda palavra sã me despe
desejo pelos poros pelos
nossos corpos separados
apenas pela penugem do tecido
quase dentro como Joice
me trazendo Dédalus
para o travesseiro
eu te desejo
como tudo que seja carne
nervos músculos ossos
ela foge quando toco
fogo paixão fome
sede tesão sexo
acho até complexo
ela gostar de conversar
mas não sentir
ou não querer
ficar olhando da janela
do seu olho gótico
como quem analisa
mas não pode se envolver
Federika Lispector
www.porradalirica.blogspot.com
poética 70
preservar esse eco sistema
para o amor toda semana
sem o amor o poema não tem eco
sem eco o amor não tem poema
Cristina Bezerra
a metafísica da metáfora
está entre dois corpos
que se tocam na distância
como num encontro corpo a corpo
mesmo num mesmo lugar
os corpos não estando
Artur Gomes Gumes
Jura secreta 26
eu sou Drummundo
e me confundo na matéria amorosa
posso estar na fina flor da juventude
ou atitude de uma rima primorosa
e até na pele/pedra
quando me invoco
e me desbundo baratino
e então provoco
um barafundo Cabralino
e meto letra no meu verso
estando prosa
e vou pro fundo
do mais fundo
o mais profundo
mineral Guimarães Rosa
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
as vezes distância dói
no centro
as vezes o buraco é fundo
não sei entender direito
como se mede um mundo
Gigi Mocidade
Arte da palavra em cena
sobre a mesa um chocolate meio amargo e uma garrafa de café.
Clarice retocava a maquiagem enquanto pensava o chocolate em sua boca, para ela
comer chocolate é o mesmo que comer livros, mesmo que Federico a imagine mulher
doida, mas para ela tanto faz, dá no mesmo, e pare ele isso é muito vago. a
garrafa de café permanecia sobre a mesa sem que ninguém a tocasse, todos os
sentidos de Clarice estão voltados para o livro e o chocolate.
na foto: Clarice na pele de Rachell
Rosa
Teatro do Absurdo
Leia aqui https://www.facebook.com/cursoartes
todos os dias
acendo minhas lamparinas
e meus lampiões
o pavio aceso
afasta as aves de rapina
e o calor das chamas
aquece os corações
POEMA OBSCENO
Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira
Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira
Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
— e espreitam.
FERREIRA
GULLAR
In Na vertigem do dia, 1980
Artur Gomes
fulinaimagens
Nenhum comentário:
Postar um comentário