domingo, 3 de outubro de 2021

onde a poesia se espalha

 


minha poesia

não é só SagaraNAgem


te amo como posso

corpo alma

carne osso

nervos músculos

todos os desejos maiúsculos



o amor é farto forte justo quente

espalha saliva na língua

provoca cócega nos dedos

e jorra esperma entre os dentes



Artur Gomes

FULINAIMAGEM - a poesia proibida de Artur Gomes

http://artur-gomes.tumblr.com


 onde a poesia

se espalha

a língua nativa

não é fogo de palha

é brasa viva

 

Marcante na medida necessária sempre que leio uma Jura Secreta do Artur Gomes, sinto-me degustando uma bebida diferente, como se estivesse em débito com algo ou com alguém, minha consciência fala abertamente sobre os causos que tomam conta. Um livro para se ler nas horas de reflexão, de desejo, de vontade, e claro, sobretudo, nas inquietações. Um livro excelente para ser lido ao som de Erik Satie ou Beethoven.

 

Vítor Lima

Próximo Parágrafo

 

Nem todo segredo é secreto

Nem todo segredo é guardado

O corpo mesmo dentro dos panos

No espelho é revelado

O amor mesmo quando profano

Tem muito mais de sagrado

 

 A farinha do desejo

 

Eu estava aqui sozinha em meu cavalo branco numa manhã de sábado sem o sol ardendo a tarde e minhas mãos geladas nos lençóis de lã quando o telefone me tirou da cama e me fez pensar nessa manhã de louco todo mistério é muito pouco eu quero essa hortelã na boca eu quero te beijar

 

Cristina Bezerra

https://www.facebook.com/onomedamusa/

 

Poética 42

 

Era uma menina

 vestida de outubro

atravessando a rua

com um girassol no seu vestido

 

suas mãos beijavam o vento

como fossem lábios

        de um beija-flor

 

meus olhos mergulhados

na paisagem

entre os olhos da menina

e o espelho do retrovisor

 

foto.grafei naquela tarde

a cor do seu vestido

e o girassol daquele dia

para me habitarem

seja lá por onde eu for

 

Federico Baudelaire

www.fulinaimargens.blogsot.com

 

poema de 7 patas

na carne santa do poema

para pisar a amargura

na engrenagem do sistema

e extirpar de vez

o pus dessa gangrena

 

 psic/analítica


não durmo. Sonho
Dédala passeia em minha cama
sob os meus lençóis de lã
toda palavra sã me despe
desejo pelos poros pelos
nossos corpos separados
apenas pela penugem do tecido
quase dentro como Joice
me trazendo Dédalus
para o travesseiro

eu te desejo
como tudo que seja carne
nervos músculos ossos

ela foge quando toco
fogo paixão fome
sede tesão sexo
acho até complexo
ela gostar de conversar
mas não sentir
ou não querer

ficar olhando da janela
do seu olho gótico
como quem analisa
mas não pode se envolver

Federika Lispector

www.porradalirica.blogspot.com

 

poética 70

 

preservar esse eco sistema

para o amor toda semana

sem o amor o poema não tem eco

sem eco o amor não tem poema

 

Cristina Bezerra

Poéticas

 

 Poética 39

 

a metafísica da metáfora

está entre dois corpos

que se tocam na distância

como num encontro corpo a corpo

mesmo num mesmo lugar

os corpos não estando

 

Artur Gomes Gumes

www.porradalirica.blogsot.com

 

Jura secreta 26

 

eu sou Drummundo

e me confundo na matéria amorosa

posso estar na fina flor da juventude

ou atitude de uma rima primorosa

e até na pele/pedra

quando me invoco

e me desbundo baratino

e então provoco

um barafundo Cabralino

e meto letra no meu verso

estando prosa

e vou pro fundo

do mais fundo

o mais profundo

mineral Guimarães Rosa

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com

 

as vezes distância dói

no centro

as vezes o buraco é fundo

não sei entender direito

como se mede um mundo

 

Gigi Mocidade

 


Arte da palavra em cena

sobre a mesa um chocolate meio amargo e uma garrafa de café. Clarice retocava a maquiagem enquanto pensava o chocolate em sua boca, para ela comer chocolate é o mesmo que comer livros, mesmo que Federico a imagine mulher doida, mas para ela tanto faz, dá no mesmo, e pare ele isso é muito vago. a garrafa de café permanecia sobre a mesa sem que ninguém a tocasse, todos os sentidos de Clarice estão voltados para o livro e o chocolate.

na foto: Clarice na pele de Rachell Rosa

 

Teatro do Absurdo

Leia aqui https://www.facebook.com/cursoartes

 

todos os dias

acendo minhas lamparinas

e meus lampiões

o pavio aceso

afasta as aves de rapina

e o calor das chamas

aquece os corações


POEMA OBSCENO

 

Façam a festa

cantem e dancem

que eu faço o poema duro

o poema-murro

sujo

como a miséria brasileira

Não se detenham:

façam a festa

Bethânia Martinho

Clementina

Estação Primeira de Mangueira

Salgueiro

gente de Vila Isabel e Madureira

todos

façam

a nossa festa

enquanto eu soco este pilão

este surdo

poema

que não toca no rádio

que o povo não cantará

(mas que nasce dele)

Não se prestará a análises estruturalistas

Não entrará nas antologias oficiais

Obsceno

como o salário de um trabalhador aposentado

o poema

terá o destino dos que habitam o lado escuro do país

— e espreitam.

 

FERREIRA GULLAR

In Na vertigem do dia, 1980



Artur Gomes

fulinaimagens

www.fulinaimagens.blogspot.com

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