há muito
não me vestia
como hoje
pele de lua
sombra de luz
e nada mais
na fresta da janela
eu e ele eu e ela
a fome o desejo
a lancinante saudade
do teu beijo
que me entra como quer
e traz pro meu corpo
o prazer de ser mulher
Gigi Mocidade
tenho o desejo na carne
língua voraz entre os dentes
tenho o cio entre os dedos
Federika Bezerra
www.fulinaimargem.blogspot.com
“PARTICULARIDADES”, DE GILKA MACHADO (1893-1980)
Gilka Machado foi uma importante poeta brasileira, precursora da
literatura erótica escrita por mulheres. Com o seu trabalho revolucionário, se
tornou um marco de resistência numa época em que o desejo feminino era tratado
como tabu.
Muitas vezes, a sós, eu me analiso e estudo,
os meus gostos crimino e busco, em vão, torcê-los;
é incrível a paixão que me absorve por tudo
quanto é sedoso, suave ao tato: a coma… os pelos…
Amo as noites de luar porque são de veludo,
delicio-me quando, acaso, sinto, pelos
meus frágeis membros, sobre o meu corpo desnudo
em carícias sutis, rolarem-me os cabelos.
Pela fria estação, que aos mais seres eriça,
andam-me pelo corpo espasmos repetidos,
às luvas de camurça, aos boás, à pelica…
O meu tato se estende a todos os sentidos;
sou toda languidez, sonolência, preguiça,
se me quedo a fitar tapetes estendidos.
fonte: http://revistapolen.com/7-poemas-eroticos-brasileiros
o que mostra teu espelho
a transparência que você não vê
ou a aparência que você não viu
teu espelho reflete você
ou outra cara que em você surgiu?
Federika Lispector
https://www.facebook.com/federikalispector/
no instante D
a língua travessa
o ponto G
trepa no céu da boca
e salta pelos mamilos
e tudo aquilo que jorra
é gozo.
injúria secreta
suassuna no teu corpo
couro de cor compadecida
ariano sábio e louco
inaugura em mim a vida
pedra do reino no riacho
gumes de atalhos na pedreira
menina dos brincos de pérola
pétala na mola do moinho
palavra acesa na fogueira
pós os ismos tudo e pós
na pele ou nas aranhas
na carne ou nos lençóis
no palco ou no cinema
a palavra que procuro
é clara
quando não é gema
até furar os meus olhos
com alguma cascata de luz
devassa em mim
quando transcende
lamparina que acende
e transforma em mel
o que antes era pus
Artur Gomes
www.secretasjuras.blogspot.com
ode a Iansã
durante o amor
o beijo é tempestade
o coito é mar de fogo
o corpo é ventania
o punhal de vênus
me penetra a boca
abaixo do umbigo
convido então o mar
o rio o vento
tudo em movimento
pra gozar comigo
depois do amor
o corpo é maresia
o mar o rio o vento
cessa o movimento
no meu corpo em calmaria
Gigi Mocidade
www.brazilicapereira.blogspot.com
profana
não sou tigresa em tua cama
nem caviar em tua mesa
não sou mulher de fama
muito embora sempre tesa
não vim da boca do lixo
saí da pele do ovo
meu coração de galinha
virou orgasmo do povo
Artur Gomes Gumes
do livro Suor & Cio – 1985
jura não secreta
fosse muita mais
que uma jura não secreta
poema em linha reta
nos vales do café
entre uma linha e outra
na estrada do encontro
muito mais que fotografia
a pele na grafia
do dia que amanhece
na porta de uma igreja
da noite que viemos
fosse muito mais
onde estivemos
e quase não tocamos
a lua no espelho
no poema que escrevesse
por quanto mais ainda quisesse
Artur Fulinaíma
O homem com a flor na boca
www.arturfulinama.blogspot.com
o barato da poesia é o vapor não o sentido explícito do gozo e sim o que ele tem de malícia entre as entre/linhas ou até nas entre/minhas. eu gosto assim muito mais que assado, as derivações no jogo dos contrastes, de pernas pra rua, de bundas pra lua, e uma mar de peixes mergulhando nos lençóis da minha boca
a viagem é uma só
:
nus viemos ao mundo
e nus retornaremos ao pó
quando eu era canela
morava nos olhos dele
que me comia com olhos
e os dele também eu comia
Gigi Mocidade
Ode ao Burguês
Eu insulto o burguês! O
burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês,
brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões!
Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis
fracos
para dizerem que as filhas da senhora
falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono
das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao
burguês-tiuguiri!
Padaria Suíssa! Morte viva ao
Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus
anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
_ Más nós morremos de fome!
Come! Come-te a ti mesmo, oh!
Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á
infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e
molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem
arrependimentos,
sempiternamente as mesmices
convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o
compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição!
Marcha!
Todos para a central do meu rancor
inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e
mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em
Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio
cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Mário de Andrade –
in Paulicea Desvairada
FULINAIMAGEM
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