sábado, 16 de outubro de 2021

ode ao burguês

 


                        o prazer de ser mulher

 

há muito

não me vestia

como hoje

 

pele de lua

sombra de luz

e nada mais

 

na fresta da janela

eu e ele eu e ela

a fome o desejo

a lancinante saudade

do teu beijo

 

que me entra como quer

e traz pro meu corpo

o prazer de ser mulher

 

Gigi Mocidade

www.suorecio.blogspot.com

 

tenho o desejo na carne

língua voraz entre os dentes

tenho o cio entre os dedos

 

Federika Bezerra

www.fulinaimargem.blogspot.com




“PARTICULARIDADES”, DE GILKA MACHADO (1893-1980)

 

Gilka Machado foi uma importante poeta brasileira, precursora da literatura erótica escrita por mulheres. Com o seu trabalho revolucionário, se tornou um marco de resistência numa época em que o desejo feminino era tratado como tabu.

 

Muitas vezes, a sós, eu me analiso e estudo,

os meus gostos crimino e busco, em vão, torcê-los;

é incrível a paixão que me absorve por tudo

quanto é sedoso, suave ao tato: a coma… os pelos…

Amo as noites de luar porque são de veludo,

delicio-me quando, acaso, sinto, pelos

meus frágeis membros, sobre o meu corpo desnudo

em carícias sutis, rolarem-me os cabelos.

Pela fria estação, que aos mais seres eriça,

andam-me pelo corpo espasmos repetidos,

às luvas de camurça, aos boás, à pelica…

O meu tato se estende a todos os sentidos;

sou toda languidez, sonolência, preguiça,

se me quedo a fitar tapetes estendidos.

 

fonte: http://revistapolen.com/7-poemas-eroticos-brasileiros



o que mostra teu espelho

a transparência que você não vê

ou a aparência que você não viu

teu espelho reflete você

ou outra cara que em você surgiu?

 

Federika Lispector

https://www.facebook.com/federikalispector/

 

no instante D

a língua travessa

o ponto G

trepa no céu da boca

e salta pelos mamilos

e tudo aquilo que jorra

é gozo.


                                     injúria secreta

 

suassuna no teu corpo

couro de cor compadecida

ariano sábio e louco

inaugura em mim a vida

 

pedra do reino no riacho

gumes de atalhos na pedreira

menina dos brincos de pérola

pétala na mola do moinho

palavra acesa na fogueira

 

pós os ismos tudo e pós

 na pele ou nas aranhas

na carne ou nos lençóis

no palco ou no cinema

 

a palavra que procuro

é clara

 quando não é gema

 

até furar os meus olhos

 com alguma cascata de luz

devassa em mim

quando transcende

lamparina que acende

e transforma em mel

o que antes era pus

 

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com




ode a Iansã

 

durante o amor

o beijo é tempestade

o coito é mar de fogo

o corpo é ventania

 

o punhal de vênus

me penetra a boca

abaixo do umbigo

 

convido então o mar

o rio o vento

tudo em movimento

pra gozar comigo

 

depois do amor

o corpo é maresia

o mar o rio o vento

cessa o movimento

no meu corpo em calmaria

 

Gigi Mocidade

www.brazilicapereira.blogspot.com



profana

 

não sou tigresa em tua cama

nem caviar em tua mesa

não sou mulher de fama

muito embora sempre tesa

 

não vim da boca do lixo

saí da pele do ovo

meu coração de galinha

virou orgasmo do povo

 

Artur Gomes Gumes

do livro Suor & Cio – 1985

www.suorecio.blogspot.com

 

jura não secreta

fosse muita mais

que uma jura não secreta

poema em linha reta

nos vales do café

 

entre uma linha e outra

na estrada do encontro

muito mais que fotografia

 

a pele na grafia

do dia que amanhece

na porta de uma igreja

da noite que viemos

 

fosse muito mais

 onde estivemos

e quase não tocamos

a lua no espelho

no poema que escrevesse

por quanto mais ainda quisesse

 

Artur Fulinaíma

O homem com a flor na boca

www.arturfulinama.blogspot.com



o barato da poesia é o vapor não  o sentido explícito do gozo e sim o que ele tem de malícia entre as entre/linhas ou até nas entre/minhas. eu gosto assim muito mais que assado, as derivações no jogo dos contrastes, de pernas pra rua, de bundas pra lua, e uma mar de peixes mergulhando nos lençóis da minha boca

 

 pra quê panos?

a viagem é uma só

:

nus viemos ao mundo

e nus retornaremos ao pó

 

quando eu era canela

morava nos olhos dele

 

que me comia com olhos

e os dele também eu comia  

 

Gigi Mocidade


Ode ao Burguês


Eu insulto o burguês! O burguês-níquel

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!

O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!

Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!

Que vivem dentro de muros sem pulos,

e gemem sangue de alguns mil-réis fracos

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês

e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!

Fora os que algarismam os amanhãs!

Olha a vida dos nossos setembros!

Fará sol? Choverá? Arlequinal!

Mas as chuvas dos rosais

O êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!

Morte às adiposidades cerebrais!

Morte ao burguês-mensal!

Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!

Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!

_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?

_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!

_ Más nós morremos de fome!

Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!

Oh! Purée de batatas morais!

Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!

Ódio aos temperamentos regulares!

Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!

Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados

Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,

sempiternamente as mesmices convencionais!

De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!

Dois a dois! Primeira posição! Marcha!

Todos para a central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!

Morte ao burguês de giolhos,

cheirando religião e que não crê em Deus!

Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!

Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...

 

Mário de Andrade

in Paulicea Desvairada




 Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimagens.blogspot.com

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