educação pela dança
Uma educação pela dança por lições
para aprender do corpo, garimpá-lo
até flagar sua fala mineral
quando a verdade, líquida, evapora
e leva ao céu as casas nele suspendidas
e quando a pedra preciosa, cabralina
é musical na escuta de uma dúbia lírica
de dentro para fora se entornando etílica
em meio as notas de uma orquestra visceral:
lições dos órgãos, dos violões dos ossos
que afinam nos tendões suas bambas cordas
abrindo a carne em
cálice e corola
houvesse pólen rutilando ritmos
Outra educação pela dança: no sertão
que é o mundo inteiro atravessando o corpo
ao infinito e desde o nada, entre veredas
de fora para dentro, em busca de uma Ítaca
na seca subjetiva, cujo mar em fosso
esconde-se onde o coro das sereias se ouve
em cada fêmur, nos quadríceps, no eclipse
do pé trazido ao ombro e em nossos heterônimos
fingindo a dor deveras de vestir Pessoas:
se no caminho de uma pedra tem Drummond
no mineral da artéria pulsa o claro enigma
de um coração que dança arranjos para um livro
das ignorãnças sobre o humano e seu abismo
biografia
Por sete anos, eu calei meu verso
para espremer poesia de outras faces:
fazer brotar, talvez, na ciência a arte
foi sempre meu teórico projeto
O caos na víscera do artista escapa
ao tratadístico das teses gélidas:
o excesso de ordem cerra em cemitério
o corpo-terremoto da palavra
Fui aos filósofos sangrar as regras:
adeus às antonímias de
Descartes
depois às prescrições de toda a Estética
Platão jamais deixou de ser um vate
Para educar ao não saber quem sabe
me quis um poeta solto ao magistério:
sobre as carteiras refutei o estático
conforme o transe de um docente elétrico
Me possuí, que até pensei ser médium
nas aulas quase rio em rito iniciático
de um cérebro cientista ao céu sagrado:
restou-me um doutorado nesta fé
Se me cumpri no axé da encruzilhada
entre os saberes, deslizando afetos
cruzou-me a dança como um novo método
de deslizar o que se diz em verbo
Agora escrevo-danço e coreografo
as letras bêbadas de bailes, gestos
para mover o poema como ensaio
em culto à carne do alfabeto
Igor
Fagundes
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https://www.youtube.com/watch?v=uI7vLJ9iQp8
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Nascido em 5 de dezembro de 1981 no Rio de Janeiro, Igor Fagundes é poeta, ensaísta, crítico literário, ator, jornalista, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde leciona Filosofia, Estética, História e Crítica da Dança, e doutor em Poética pela mesma universidade, com a tese que deu origem a este livro. Além de Poética na incorporação, assina a autoria de outras sete obras, das quais quatro são de poesia e três do gênero ensaio. Publicou: Transversais (2000); Sete mil tijolos e uma parede inacabada (2004); Por uma gênese do horizonte (2006/Prêmio Literário Livraria Asabeça); Os poetas estão vivos – pensamento poético e poesia brasileira no século XXI (2008/ Prêmio Literário Cidade de Manaus: Melhor Ensaio de Literatura); Zero ponto zero (2010); 33 motivos para um crítico amar a poesia hoje (2011); e Permanecer silêncio (2011). Como coorganizador e coautor, assina Convite ao pensar (2014) e O educar poético (2014). É também o organizador da antologia poética O galope de Ulisses (2014), de José Inácio Vieira de Melo; e coautor de outros quase 30 livros, dentre os quais Roteiro da poesia brasileira – anos 2000 (organização de Marco Lucchesi); Chico Buarque – o poeta da mulher, dos desvalidos e dos perseguidos (organização de Rinaldo Fernandes); Pensamento poético: à escuta das questões da arte (organização de Antônio Máximo Ferraz); Caminhos da violência em busca da visão compartilhada, Violência simbólica e estratégias de dominação e Quem conta um conto: estudos sobre contistas femininas estreantes nas décadas de 90 e 2000 (todos organizados por Helena Parente Cunha); e Secchin: uma vida em Letras (coorganização de Godofredo de Oliveira Neto e Maria Lúcia Guimarães de Faria). Possui cerca de 60 premiações em concursos e festivais literários. No teatro, campo em que também obteve prêmios, atuou em 14 espetáculos, escreveu três e dirigiu dois. É fundador e atualmente o coordenador do NuNada – Núcleo Interdisciplinar de Filosofia, Poética e Corporeidade na UFRJ e da Rede Poética – Núcleo Interinstitucional de Pesquisas em Arte e Filosofia. Em 2020 prefaciou o livro O Poeta Enquanto Coisa, de Artur Gomes, lançado pela Editora Penalux.
Com Os Dentes Cravados Na Memória
Artur Gomes entrevista Igor Fagundes http://arturgumes.blogspot.com/2020/05/igor-fagundes-entrevistas.html
Artur Gomes
FULINAIMAGEM
www.fulinaimagens.blogspot.com
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