apenas um rascunho
para não perde a trilha do poema:
CARNAVALESCO
lança perfume
confete
serpentina
cheirinho da vovó
na pauliceia
conheci boteco
de nome estranho
líbero Badaró
de dia era purpurina
de noite era pó
como diamante
breve
como flor da noite
explosivo
como dinamite
fatal
como um haraquiri
certeiro
como um cruzado
de muhammad ali
Ademir Assunção
do livro: RISCA FACA
selo DEMÔNIO NEGRO
São Paulo – 2021
por onde vais cinzia farina
vestida assim de letras
por este mares de sal
me olhas na fresta da porta
ou de Lisboa em Portugal
Texto de Nuno Rau para orelha do livro O Poeta Enquanto Coisa de Artur Gomes – Editora Penalux - 2020
Andamos no presente como vagando sobre um território rumo a outro, o
futuro, para onde olhamos (além do olhar atento à nossa paisagem, o agora), mas
sem perder a ligação com os territórios de onde viemos, o passado, de onde nos
enviam mensagens-cabogramas. Ocorre que, antes, essas mensagens pareciam
trilhar cabos unificados, e hoje elas nos vêm por uma rede de miríades de fios
entrelaçados, com origens várias, por wi-fi, mescladas aos arcaicos sinais de
fumaça, batidas de tambor. O poeta contemporâneo tão mais contemporâneo se
torna quando, atento ao presente absoluto para pensar a direção de seus passos,
fica também atento aos sinais do passado, não dispensando o gesto ameríndio de
perscrutar nas matas o aproximar-se da civilização predatória (como os nativos
norte-americanos encostavam o ouvido nos trilhos do trem) enquanto observa, na
tela de seu dispositivo, a nuvem de futuros prováveis, nem todos gloriosos:
assim um poeta se torna criador de mundos. Artur Gomes performa, em “O poeta
enquanto coisa”, a sua dança tribal em que diversos dados da tradição se
mesclam em sua reinterpretação ancorada no hoje, o que sempre implica numa
tomada de posição política do poeta, que brindamos aqui, com alegria, porque
nos traz luz sobre um momento particular de trevas na vida civil. É por estas
vias que o liquidificador estético do poeta mistura antropofagicamente em suas
iguarias-poemas, para que brindemos, deuses gregos com orixás, filosofia e
orgia, mente e corpo, política e sexo, o corpo que precisa estar presente cada
vez mais nos poemas, afastando quando possível os séculos de metafísica que nos
oprimem. Evoé, Artur! Que seu canto ecoe pelos corações e mentes do presente e
do tempo que virá.
Poética 88
gosto dos tecidos
que cobrem a pele das ovelhas
gosto do mel
do útero das abelhas
nem sempre o vinho
em meu altar é sacrifício
o meu ofício
em Passo Fundo o sobre nome
é mais sagrado
que a cópula nas igrejas
não sei o nome que se dá
a tudo isso
só sei que gosto
de estar com os olhos fundos
no mais profundo do orifício
Pastor de Andrade
https://www.facebook.com/pastordeandrade
com os dentes
cravados na
memória
ela agora cuida
de gastronomia
afastou-se da fulia
mas não mata a fome
de amor que ainda tenho
venho por longos anos
com esse ronco na boca
do estômago
não quero pânico - não entro
quero o vento
removendo esse recife
que me leva a pernambuco
pode ser qualquer ladeira
pode ser boa viagem
de preferência ao som de um frevo
ou na flauta algum chorinho
quero ver se ainda sirvo
pra cantar boi pintadinho
Artur Gomes Fulinaíma
https://www.facebook.com/arturgomesmemoria/
houve um tempo algum tempo atrás que um Circuito cultural de arte entre povos passamos por pedra dourada e por outras belezas de minas, no ano de 2013, também por algumas outras cidades do estado do rio e do espírito santo. fomos parar em são sebastião do sacramento e lá quase beijei a mina no sacrossanto virgem altar de algum convento
pedra dourada
foi uma pedra
que atravessou
o meu caminho
a mina eu beijei os olhos
com muito amor devagarinho
a pedra repartiu-se
em duas
a mina permanece intacta
ingênua inocente
como fruta virgem
paridade semente
Poética 42
era uma menina
vestida de outubro
atravessando a rua
com um girassol no seu vestido
suas mãos beijavam o vento
como fossem lábios
de um beija-flor
meus olhos mergulhados
na paisagem
entre os olhos da menina
e o espelho do retrovisor
foto.grafei naquela tarde
a cor do seu vestido
e o girassol daquele dia
para me habitarem
seja lá por onde eu for
Federico Baudelaire
www.fulinaimargens.blogspot.com
Artur Gomes
FULINAIMAGEM
Nenhum comentário:
Postar um comentário