sábado, 9 de outubro de 2021

sobra - personagens continuam invadindo minha obra

 


                           apenas um rascunho

para não perde a trilha do poema:

 

CARNAVALESCO

 

lança perfume

confete

serpentina

cheirinho da vovó

 

na pauliceia

conheci boteco

de nome estranho

 

líbero Badaró

 

de dia era purpurina

de noite era pó


um poema duro

como diamante

 

breve

como flor da noite

 

explosivo

como dinamite

 

fatal

como um haraquiri

 

certeiro

como um cruzado

de muhammad ali

 

Ademir Assunção

do livro: RISCA FACA

selo DEMÔNIO NEGRO

São Paulo – 2021

 

por onde vais cinzia farina

vestida assim de letras

por este mares de sal

me olhas na fresta da porta

ou de Lisboa em Portugal



Texto de Nuno Rau para orelha do livro O Poeta Enquanto Coisa de Artur Gomes – Editora Penalux  - 2020

Andamos no presente como vagando sobre um território rumo a outro, o futuro, para onde olhamos (além do olhar atento à nossa paisagem, o agora), mas sem perder a ligação com os territórios de onde viemos, o passado, de onde nos enviam mensagens-cabogramas. Ocorre que, antes, essas mensagens pareciam trilhar cabos unificados, e hoje elas nos vêm por uma rede de miríades de fios entrelaçados, com origens várias, por wi-fi, mescladas aos arcaicos sinais de fumaça, batidas de tambor. O poeta contemporâneo tão mais contemporâneo se torna quando, atento ao presente absoluto para pensar a direção de seus passos, fica também atento aos sinais do passado, não dispensando o gesto ameríndio de perscrutar nas matas o aproximar-se da civilização predatória (como os nativos norte-americanos encostavam o ouvido nos trilhos do trem) enquanto observa, na tela de seu dispositivo, a nuvem de futuros prováveis, nem todos gloriosos: assim um poeta se torna criador de mundos. Artur Gomes performa, em “O poeta enquanto coisa”, a sua dança tribal em que diversos dados da tradição se mesclam em sua reinterpretação ancorada no hoje, o que sempre implica numa tomada de posição política do poeta, que brindamos aqui, com alegria, porque nos traz luz sobre um momento particular de trevas na vida civil. É por estas vias que o liquidificador estético do poeta mistura antropofagicamente em suas iguarias-poemas, para que brindemos, deuses gregos com orixás, filosofia e orgia, mente e corpo, política e sexo, o corpo que precisa estar presente cada vez mais nos poemas, afastando quando possível os séculos de metafísica que nos oprimem. Evoé, Artur! Que seu canto ecoe pelos corações e mentes do presente e do tempo que virá.

Poética 88

 

gosto dos tecidos

que cobrem a pele das ovelhas

gosto do mel

do útero das abelhas

nem sempre o vinho

em meu altar é sacrifício

o meu ofício

em Passo Fundo o sobre nome

é mais sagrado

que a cópula nas igrejas

não sei o nome que se dá

a tudo isso

só sei que gosto

de estar com os olhos fundos

no mais profundo do orifício

 

Pastor de Andrade

https://www.facebook.com/pastordeandrade




                                                      com os dentes

 cravados na memória

 

ela agora cuida

de gastronomia

afastou-se da fulia

mas não mata a fome

de amor que ainda tenho

 

venho por longos anos

com esse ronco na boca

 do estômago

 

não quero pânico - não entro

quero o vento

            removendo esse recife

que me leva a pernambuco

 

pode ser qualquer ladeira

pode ser boa viagem

de preferência ao som de um frevo

ou na flauta algum chorinho

quero ver se ainda sirvo

pra cantar boi pintadinho

 

Artur Gomes Fulinaíma

https://www.facebook.com/arturgomesmemoria/

 houve um tempo algum tempo atrás que um Circuito cultural de arte entre povos passamos por pedra dourada e por outras belezas de minas, no ano de 2013, também por algumas outras cidades do estado do rio e do espírito santo. fomos parar em são sebastião do sacramento e lá quase beijei a mina no  sacrossanto virgem  altar de algum convento

 

pedra dourada

foi uma pedra

que atravessou

o meu caminho

 

a mina eu beijei os olhos

com muito amor devagarinho

 

a pedra repartiu-se

 em duas

a mina permanece intacta

ingênua inocente

como fruta virgem

paridade semente




 

Poética 42

 

era uma menina

vestida de outubro

atravessando a rua

com um girassol no seu vestido

 

suas mãos beijavam o vento

como fossem lábios

de um beija-flor

 

meus olhos mergulhados

na paisagem

entre os olhos da menina

e o espelho do retrovisor

 

foto.grafei naquela tarde

a cor do seu vestido

e o girassol daquele dia

para me habitarem

seja lá por onde eu for

Federico Baudelaire

www.fulinaimargens.blogspot.com




 Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimagens.blogspot.com

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