segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

múltiplas linguagens

Clarice sempre me tira do centro
me entorna o eixo Artur Gomes me desentorta 
mostra outra porta de entrada pra saída nunca sei se é chegada muito menos despedida


Federika Lispector

https://www.facebook.com/studiofulinaima/



metáfora alquimia


cavalga cavala
com teu dorso no horizonte
ventania
pássaro de patas
pisa do vento
na metáfora/alquimia

a menina corre
pela estrada
na velocidade do fogo
com seus cabelos de plumas

felina arranha as pedras
com suas unhas de mar
nessa tarde de maio
quero vinho/poesia

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com




SENTENÇA

faz muito tempo que eu venho
nos currais deste comício,
dando mingau de farinha
pra mesma dor que me alinha
ao lamaçal do hospício.

e quem me cansa as canelas
é que me rouba a cadeira,
eu sou quem pula a traseira
e ainda paga a passagem,
eu sou um número ímpar
só pra sobrar na contagem.

por outro lado, em meu corpo,
há uma parte que insiste,
feito um caju que apodrece
mas a castanha resiste,

eu tenho os olhos na espreita
e os bolsos cheios de pedras,
eu sou quem não se conforma
com a sentença ou desfeita,
eu sou quem bagunça a norma,
eu sou quem morre e não deita.

                 Salgado Maranhão


Subversiva


A poesia

Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país


                Ferreira Gullar




quero saber mais como os Portugueses trucidaram os índios na confederação dos Tamoios. para isso devo seguir os passos de Anchieta e me embrenhar pelo litoral. seguir as entranhas das florestas é o que me resta. Cristina Bezerra cuidará do virtual.


não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presas pela covardia
eu sou voragem
dentro da noite veloz
na vertigem do dia

Federika Lispector


fosse Alice essa menina
brincando à flor da pele
com a menina dos meus olhos
seria eu um mar de abrolhos
pra molhar esses dois olhos
que me olham sem me ver

Federico Baudelaire


seja pornográfico como
Carlos Drummond de Andrade

Em face dos últimos acontecimentos

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
Que o nosso avô português?

Oh ! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros,
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
Fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso a teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos? 


Poema Obsceno

Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira

Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)

Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do
país
– e espreitam.

Ferreira Gullar




múltiplas linguagens


 

por toda pele nua
onde a linguagem voraz
penetre a carne crua
e no delírio eu possa
ter-te estrela
em noite à luz
                 da lua

Artur Gumes

  



múltiplas poéticas



A descoberta


Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.

 

Oswald de Andrade
(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.)


canção amiga


Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
no jeito mais natural
dois caminhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

Carlos Drummond de Andrade




meu corpo

no epicentro do mundo
parabolicamará
quando o mar dá no sertão
e o sertão está no mar

         Beatriz Gumes


O Analfabeto Político


O pior analfabeto
é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado
e o pior de todos os bandidos:
O político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.



                                     Bertold Brecht


com tanto céu 

tanto véu

                pra quê ?

Artur Gomes Gumes
https://www.facebook.com/giginua/?fref=ts


múltiplas poéticas



 jura secreta 14


eu te desejo flores
lírios brancos margaridas
girassóis rosas vermelhas
tudo quanto pétala

asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema

eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro teu perfume
teu sabor, teu suor tua doçura

e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos

eu te desejo e posso
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura

Artur Gomes
foto.poesia
www.fulimaimagens.blogspot.com

na foto: May Pasquetti fotografada durante o XXIII Congresso Brasileiro de Poesia - Bento Gonçalves-RS - outubro de 2015

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Artur Gomes - 50 Anos de Poesia



felínica

desfolhei teu bem-me-quer
flores do mal não dá sossego

a hora
do desassossego
me chega sem aviso como agora

teu corpo fala o infalível
e tem as curva de estradas
que não percorri

não sei porque ainda estou com fome
e não comi

Artur Gomes
May Pasquetti - foto: Artur Gomes Gumes - na Usina do Gasômetro - Porto Alegre-RS

www.fulinaimagens.blogspot.com


Artur Gomes – 2023 – 50 Anos de Poesia – Memória e Resistência – Uma Trajetória Multilinguagens

 Em 1980 escrevi e publiquei a primeira edição do livro O Boi-Pintadinho com prefácio de Osório Peixoto. Logo depois seus textos, poemas e letras de cantorias foram adaptadas para o Auto do Boi-Pintadinho – Teatro de Rua - que até 1987 percorreu as ruas, praças, becos, quadras de esportes e estádios de futebol em Campos dos Goytacazes.

 No elenco para a sua primeira incursão pelas ruas, foi formado por alguns alunos da Oficina de Teatro da ETFC, alguns componentes da Banda Marcial e algumas pessoas envolvidas com Teatro na cidade, como: Pavuna, Ferrugem, Guilherme Freitas, Amauri Joviano, e Gina Ruelles. Além da rua, em 1980 fizemos também uma apresentação no Teatro de Bolso, tendo com trilha sonora a música Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho. A partir de 1981, todo elenco passou a ser formado por alunos e alunas da Oficina de Teatro da ETFC.

 Em 1981, com Boi-Pintadinho, parceria com Paulo Ciranda, vencemos o Festival de Música de Miracema-RJ.

 Em 1987, em homenagem a Eleição de Luciano D´Ângelo para a direção da Escola, encenamos no Ginásio de Esportes a Ciranda do Boi Cósmico, com alguns elementos em sua concepção criados pelo professor, Marcos Maciel, no laboratório de eletrotécnica e um cenário de lâminas de papel krafit criado por Genilson Soares, os famosos pênis voadores, que desciam do teto do Ginásio até o chão, o que levou alguns funcionários e professores, a entrarem em estado de surto.


Tudo Arde - poema em construção

 

suspenso

       no Ar

não penso

atravesso o portão da sua casa

o corpo em fogo

a carne em brasa

tudo arde

nas cinzas das horas

no silêncio da tarde

vou entrando sem alarde

sem comício

como um pássaro

que acaba de cantar

em pleno hospício


a poética da gramática

para Adriano Moura e Aluysio Abreu Barbosa

as vezes te procuro não encontro escrevo ponto
no lugar de vírgula aparece reticências
nem Homero esclarece a Odisseia no meu peito
quando a trema é trama do insatisfeito

 

Artur Gomes

Leia mais no blog

https://fulinaimagens.blogspot.com/

 

Sarau Campos VeraCidade

Sarau Campos VeraCidade   Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia   mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no qu...