quinta-feira, 30 de setembro de 2021

FULINAIMAGENS


         Festival Cine Vídeo De Poesia Falada

          Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

veja na página

https://www.facebook.com/studiofulinaim


                                                      Delicadeza

Bebo teus olhos atlânticos
e tua voz portuguesa
como quem bebe no Tejo
saudades de Lisboa

caminho com os teus passos
em direção ao poema do desassossego
Florbela Espanca Alberto Caieiro Fernando Pessoa

Artur Gomes 
O Homem Com A Flor Na Boca

https://www.facebook.com/ohomemcomaflornaboca


                  Para quem quiser conhecer boa parte

da minha obra navegue por esse blog

 “ela é tudo que me sobra”

                          Paulo Leminski

 Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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com os dentes cravados na memória

Artur Gomes entrevista Rafael Nolli

Leia mais no blog EntreVistas

https://arturgumes.blogspot.com/2021/08/rafael-nolli-entrevistas.html

           dialogando com o mestre

 o poema pode ser

um trem fora do trilho

a ponte que caiu

a mulher que não deu filho

a puta que pariu

 Rúbia Querubim

https://www.facebook.com/rubiaquerubim/

 

                diagnóstico urológico

 segundo o urologista

o sangue na urina

transbordou da próstata

sem passar pela bexiga

direto na ureta

e se não fosse tanta dor

juro quem sabe um dia

eu seria um bom poeta

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

 Editora Penalux – 2020

https://www.facebook.com/poetaenquantocoisa/

 


ainda existe uma mulher

que me distorce o crâneo

me disseca me atraca

quando chego ao cais

com esse barco em movimento

corpo nu pegando fogo

essa carcaça de lâminas e ossos

um mulher que me estica o plumo

me deixa arame farpado

a ponto de me sangrar os dedos

Federika Lispector

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Artur Gomes

FULINAIMAGENS

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Tchello d´Barros - entrevista Artur Gomes

  


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO

 

VIDEOPOESIA NA ERA DO LIKE:

MÍDIAS SOCIAIS COMO JANELAS DE EXIBIÇÃO

 Marcelo Barros - Rio de Janeiro/RJ - 2020

 Entrevista

Artur Gomes (RJ) entrevistado via e-mail por Marcelo Barros / Tchello d’Barros (RJ) para a pesquisa Videopoesia na era do like: mídias sociais como janelas de exibição, na ECO/UFRJ. 24-26 nov.2020.

Artur Gomes

Poeta, cineasta, performer, curador e produtor cultural.

É natural de Campos dos Goytacazes (RJ), onde vive. Ministra cursos no Cefet e oficinas na rede Sesc. Com diversos prêmios no Brasil e Exterior, sua trajetória pela Poesia Experimental iniciou na década de 1980, transitando por diversas linguagens e mídias, constituindo um extenso portfólio que passa pela Videopoesia, Poesia Visual, Performance, Teatro, Fotografia e Audiovisual. Entre seus livros de poemas publicados estão Juras secretas, Pátria a(r)mada, O homem com a flor na bocaO poeta enquanto coisa e o recente projeto Com os dentes cravados na memória. Organizou significativas mostras de Poesia Visual e curadorias em Videopoesia. Fundador e diretor da Fulinaíma MultiProjetos culturais, atualmente tem realizado atividades artísticas em diversas instituições pelo Brasil.

 Tchello d’Barros: Autor de uma extensa produção em videopomas, você iniciou nessa linguagem ainda antes do fenômeno das Mídias Sociais. Em que circunstâncias e circuitos eram exibidos tais trabalhos?

 Artur Gomes: Quando iniciei essa trajetória lá pelos idos dos anos de 1980, eu estava na ativa na então Escola Técnica Federal de Campos, que é hoje o Instituto Federal Fluminense - IFF. Essa produção era feita pelo Departamento Audiovisual, que atendia as demandas gerais da Escola, e como eu dirigia a Oficina de Artes Cênicas, toda encenação era documentada pelo Departamento Audiovisual. Daí, comecei a produzir videopoemas em 1983, quando criei a Mostra Visual de Poesia Brasileira, que produzi e executei até o ano de 1994. Os vídeos eram exibidos em TV, salas de aula e auditórios. Essa mostra foi realizada uma vez por ano em cidades como Campos dos Goytacazes, Macaé, Miracema e Rio de Janeiro, no Estado do Rio. Em 1993 ela foi realizada em São Paulo, São Caetano, Santo André e São Bernardo, num projeto executado pelo SESC-SP. Em 1994 foi realizada em Teresina (PI), com apoio da Universidade Federal do Piauí – UFPI e União Brasileira de Escritores - UBE.

Figura 1 – Captura de tela do videopoema Poesia in Concert I

https://www.youtube.

com/watch?v=TwA3RZXkaqQ


                   Fonte: Canal Artur Gomes na Mídia Social Youtube

 Td’B: Em seu videopoema Poesia In Concert I, acessável no Youtube, você mistura linguagens: são áudios de poesia sonora, fotografia, música, atuação, sobreposição de filmagens e registros de videoperformance. Existe um fio condutor em seu processo criativo que justifica essa convergência de linguagens? 

 AG: Existe sim: o propósito de experimentar linguagens. O conceito que dou à palavra Fulinaíma é a possibilidade das misturas, mixegenar a linguagem. Quando resolvi começar a experimentar pra valer a produção audiovisual com poesia, foi exatamente para aproveitar essa plataforma para divulgar poesia. Em 2007 comecei com Jiddu Saldanha, a fazer vídeo com uma câmera de 5 megapixels. No Youtube tem vídeos dessa primeira experiência. A partir daí, comecei a entender as possibilidades que o programa de edição me oferecia para que a experimentação não tivesse limites.

 Td’B: Considerando-se que você organizava nos Anos 80 a Mostra Visual de Poesia Brasileira (SP) e nesta década realizou edições da Mostra Internacional de Poesia Visual (RS), como você interpreta o parentesco entre essa modalidade de expressão artística, geralmente gráfica e estática, com a imagem em movimento da Videopoesia? 

 AG: A partir do envolvimento com essas mostras e eventos, comecei a ver o poema, não apenas como palavra, mas também como grafismo, plasticidade, movimento, para juntar tudo isso com a fala. A oralidade do poema para mim é onde ele fala mais alto, onde ele toca outros sentidos. Essa inquietação me levou a criar em Campos dos Goytacazes em 1999 o FestCampos de Poesia Falada, que foi realizado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima até o ano de 2019.

 Td’B: Seu histórico é de participação em relevantes festivais literários do Brasil, como o Psiu Poético (MG), Congresso Brasileiro de Poesia (RS) e o Art&Fatos Poéticos (SP), encontros com Videopoesia na programação. Ao mesmo tempo, sua intensiva atuação nas Mídias Sociais inclui a disseminação de seus videopoemas nesse meio digital. A Videopoesia em eventos presenciais está com os dias contados ou as mídias sociais são apenas mais uma janela para exibição de videopoemas? 

 AG: Acredito que o momento faz com que estejamos tendo que utilizar as redes sociais, o virtual, para a disseminação de nossos projetos, nossas performances e videopoemas. Mas para mim a ocupação do espaço físico com poesia é fundamental, porque sei que sem poesia uma cidade não é nada. Pelo menos tenho a intenção de levar para um espaço físico a Mostra Cine Vídeo de Poesia Falada, que estou começando a produzir.

 Td’B: O poeta e cineasta Herman Berlandt (EUA), um dos precursores teóricos do Poetry Film ou Videopoetry, apontava que para uma obra audiovisual ser considerada um videopoema deveria conter ao menos um poema narrado ou o texto de alguma forma escrito na tela (Meyer, 2019, p.42). Essa afirmação ainda será válida para a próxima década? E ainda: há alguma teoria ou conceito que norteia suas criações audiovisuais?  

 AG: Eu sou levado pela prática. Meus conceitos e teorias, se é que eles existam, nascem depois do que pratico, experimento, executo. Acredito que essas afirmações tentando definir como o poema deve ser escrito, como deve ser falado, como deve ser levado para o audiovisual, limitam a criatividade.

 Td’B: Você foi curador da Kinopoéticas - Mostra Internacional de Audiovisual (2015), evento presencial onde os videopoemas foram exibidos em telas de computador, TV de plasma e projeção em telão de auditório. Já sua atual Mostra Cine Vídeo de Poesia Falada é exibida diretamente nas Mídias Sociais. Como você tem percebido a reação do público nestes dois ambientes?  

 AG: Quando a Mostra é exibida em um espaço físico, ela tem tempo determinado para acontecer, e esse tempo certamente acaba limitando o acesso do público ao que está sendo exposto. Nas mídias sociais, isso não acontece, a Mostra pode não estar em destaque em algum espaço virtual, mas se ela existe, você faz uma busca no Google que, se o assunto lhe interessa, você vai tê-lo diante dos olhos. Mas para a atual geração, ocupar as redes sociais com seus videopoemas parece ser o bastante.

 Td’B: Em sua trajetória, você teve contato presencial com nomes seminais que se dedicaram à linguagens múltiplas, como Videopoesia, Performance, Poesia Sonora e Poesia Visual, a exemplo de E. M. Melo e Castro (POR), Fernando Aguiar (POR), Enzo Minarelli (ITA), Julien Blaine (FRA), Clemente Padin (URU) e Jiddu Saldanha (BRA). Que aprendizado com estas referências da Poesia Experimental merece ser repassado para a parcela que se interessa por arte da cada vez mais conectada geração millennial? 

 AG: Sim, todos esses poetas citados, estiveram presentes com sua poesia, em pelo menos uma das edições das Mostras que produzi. Alguns não apenas em uma edição, mais em várias. Posso citar pelo menos mais quatro poetas que contribuíram decisivamente para me lançar na experimentação, e nos processos criativos, como: Almandrade, Hugo Pontes, Uilcon Pereira e Moacy Cirne. Acho que todos esses poetas merecem ser pesquisados e estudados por todos que se interessam em experimentação de múltiplas linguagens. E esse legado pus em prática quando comecei a produzir a Mostra Visual de Poesia Brasileira: a intenção não era apenas expor videopoemas, mas todas as linguagens contemporâneas experimentais. Duas frases que li, acho que servem para a geração millennial: “olhar com olhos livres” (Oswald de Andrade), e “experimentar a produção poética conjugando o verbo V(L)ER” (Uilcon Pereira).

 

BARROS, M. Videopoesia na era do like: mídias sociais como janelas de exibição. Monografia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2020, 69p.

y long song baby


  

                                  y love song baby

 

em imburi o vento sopra

gosma de tapioca

manga mandioca litoral abacaxi

são francisco do itabapoana

não me engana

minha língua não precisa

provar lamber comer chupar

para saber o gosto

do amargo fel dessa estrada

que nela se desova

toda cruel veracidade

com toda essa podridão

que se espalhou pela cidade


Artur Gomes Fulinaíma

https://www.facebook.com/poetaenquantocois 



 Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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a/


quarta-feira, 29 de setembro de 2021

relatório

 


A bunda

 

fazia sol em São Conrado

no corpo suor escorrendo

o sal do amor me lambendo

na língua um gosto salgado

a bunda estava com sede

dei-lhe mel e água

depois do beijo na boca

a louca perdeu o rumo

na boca da barra Rio

com duas horas de fumo

fomos fuder no navio

 

Federico Baudelaire

A Traição Das Metáforas

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                                          Relatório

 

I

 

na sala ficaram cacos de pratos

espalhados pelo chão. pedaços do corpo retidos

entre o corredor, após o interrogatório.

um cheiro forte de pólvora e mijo

misturados a dois ou três dias sem banho

depois de feito sexo.

só o fogo da verdade exalando odor e raiva

quando em verde, conspiravam contra nós.

em são cristóvão o gasômetro vomitava

um gás venoso nos pulmões já cancerados

nos quartéis da cavalaria.

 

II

 

me lembro.

o sentimento era náuseas, nojo, asco,

quando as botas do carrasco

bateram nos meus ombros com os cascos.

jamais me esquecerei o nome do bandido

escondido atrás dos tanques

e

se chamavam:

Dragões da Independência

e a gente ali na inocência.

comendo estrumes. engolindo em seco

as feridas provocadas por esporas.

aguentando o coice, o cuspe,

e

a própria ira

dos animais de fardas

batendo patas sobre nós.

 

III

 

com a carne em postas sobre a mesa,

o couro cru, o coração em desespero,

o sangue fluindo pelos poros, pelos pelos.

eu faço aqui

meditações sobre o presente

re cri ando

meu futuro.

tendo o corpo em cada porta

e a cara em cada furo.

tentando só/erguer

as condições pra ser humano

visto que tornou-se urbano

e re-par-tiu

se

em mil pedaços

visto que do sobre-humano

restou cabeça, pés, e braços.

 

Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva – 1987

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Artur Gomes

Pátria A(r)mada

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dandara

 



Quando entramos o quarto era um breu Dandara acendeu a vela na mesinha ao lado da cama desnudou-se abriu as janelas os pelos desalinhados pelo vento por alguns instantes pensei estar diante da musa elétrica de Bento

 

Artur Gomes

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Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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poéticas

                                ofício de poeta          


 

franzir a noite

é o mesmo que bordar o dia

costuro o tempo

com linhas de pesar moinhos de vento

entre o franzido e o bordado

escrevo desenredos

e vou foto.grafando

filmando poesia

na solidão dos meus enredos

 

Artur Gomes

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                           corpo em trânsito

 

em São Paulo uma menina

me chamou de SerAfim

por saber que poesia

é tudo que transa em mim

                                                                                          

                                                                            e ainda uma outra

me chamou de desvairado

por saber que concretismo

anda sempre do meu lado


foi então que em Teresina

me chamaram de Torquato

ao perceberem minha boca

com esse meu vapor barato

 e uma outra feminina

me chamou de Faustino

por re-V(L)ER no meu poema

esse  sotaque feminino

 

no Recôncavo baiano

bem no centro o reconvexo

rasguei todos meus planos

quando fiz primeiro sexo

 

numa feirinha de verdura

uma linda criatura elegante sensual

me pediu pra ler Leminski

quando viu meu visual

no poema de Kandinsky

 

 e encontrei fulinaíma

no universo paralelo

pra revirar o céu de anil

desse país verde amarelo

 revirando a tropicalha

pelo avesso do avesso

foi tamanha a CarNAvalha

que perdi meu endereço

 

fui parar em Ipanema

num 1º de Abril

quando assisti pelo cinema

a pátria mãe que  me pariu

 

fui pro morro da Mangueira

re-inventar Parangolé

por entender que esse brasil

                ainda vai ficar de pé .

 

                                              Federico Baudelaire

                                             O homem com a flor na boca

                                             www.fulinaimargens.blogspot.com



duas rosas vermelhas

em mim significam

tudo aquilo que o oculto

ainda me diz

metáfora lírica que me vem

                        dos olhos dela

 

a flor mais bela

que me pinta em aquarela

no engenho do encantado

e

me visita na janela

em meu sonho acordado

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

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Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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