O PEÃO TRANCA-RUAS
FECHA AS ENCRUZILHADAS
o peão tranca-ruas sabe: assim como
as marés
as calmarias dissimulam tormentos e
presságios
– e o palácio do rei exala um fedor
insuportável
a fedentina do reino fermenta a
insânia
nas docas nos açougues nas alcovas
sob a luz das estrelas que nada dizem
sob a capa de veludo com signos
ocultos
o tranca-ruas, soberano de outros
reinos,
fecha as encruzilhadas sacode os
mares
a cólera saqueia as mandíbulas da
morte
a ferocidade jorra sobre o manto de
ódio
a névoa da loucura nubla os olhos de
todos
nem o ferreiro sabe mais a dobra do
ferro
nem o toneleiro conhece a ciência dos
tonéis
nem o farsante distingue a última
farsa
boticários receitam venenos aos
enfermos
velhos insones gemem como morsas
abatidas
fedallah, el bárbaro, pisa no rabo do
diabo
o rei agora come a própria bosta o
bispo
chafurda no próprio vômito os piratas
pilharam os barris de perfume da
rainha
chamem perseu quebrem os espelhos
cortem a cabeça da medusa decapitem
o fantasma amarelo – urram os súditos
todos se insultam sob o sol
escaldante
os vinhos raros se tornaram vinagre
todos se odeiam sob a luz da lua fria
e o fedor das bostas do rei e o olor
azedo
dos peidos da rainha e o vômito do
bispo
e o mijo do cavalo e os fantasmas da
torre
toda a fedentina e a podridão de tudo
e os snipers explodindo cabeças e os
fiéis
orando no templo saqueado e os mortos
navegando em mares proibidos e as
parteiras
empurrando de volta os bebês para o
ventre
murcho coberto de cracas e musgos e
insetos
sequer os ratos suportam a brisa
infestada
de gases as nuvens carregadas de
cólera
a fúria dos ventos que espalham a
peste
e retorcem as faces dos mortos
insepultos
as carnes podres dos fantasmas nas
vigias
as asas amputadas do pássaro
traiçoeiro
unguentos de barbatana não fecham as
feridas
óleo de leão-marinho lamparina de
lúcifer
urina de gato espermacete de baleia
branca
folhas laceradas de bétulas
siberianas
nada pode afastar a vilania a
perfídia
a desgraça que se abateu sobre o
tabuleiro
nem mesmo a tribo dos palavras longas
conhece mais os segredos da cura
a reza que transmuta treva em rosa
qual deus-patife espalhou a discórdia
sobre as pedras do reino? – pergunta
a rainha ao bispo que come e vomita
quem moveu a primeira peça neste jogo
sujo?
– indaga o rei cagado aos fantasmas
da torre
qual o maldito que abriu a tampa da
latrina?
ninguém pode sobreviver ao pântano
de si mesmo – relincha o cavalo mijão
entre
túmulos violados e torres alquebradas
o peão tranca-ruas sabe: assim como
os mortais
os próprios deuses nem sempre são
felizes
– e o palácio do rei exala um fedor
insuportável
*****
Ademir Assunção
outubro / 2019
do livro em progresso
O Jogo de Xadrez - Uma Fábula
Escatológica
sagarínica fulinaimânica
não sou iluminista
nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca negra amarela
vermelha verde ou cafuza
eu sou do mato
curupira carrapato
sou da febre sou dos ossos
sou da Lira do Delírio
São Virgílio é o meu sócio
Pernambuco Amaralina
vida breve ou sempre vida/severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina
devorar é minha sina
e profanar é o meu negócio
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2018
imagem: Felipe Stefani
Studio Fulinaíma Produção Audiovisual
https://www.facebook.com/studiofulinaima
sequestro teu corpo poema
na entrada da sala de cinema
teu corpo levo para cama
e o poema teço sob os lençóis
de Iracema
Clic no link e veja todos os poetas/intérpretes com participações no neste Festival https://fulinaimicamente.blogspot.com/2021/10/jessica-iancoski-os-dados.html
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(22)99815-1268 – whatsapp
Artur Gomes
FULINAIMAGEM
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