terça-feira, 12 de outubro de 2021

o peão tranca-ruas

 


O PEÃO TRANCA-RUAS 

FECHA AS ENCRUZILHADAS

 

o peão tranca-ruas sabe: assim como as marés

as calmarias dissimulam tormentos e presságios

– e o palácio do rei exala um fedor insuportável

 

a fedentina do reino fermenta a insânia

nas docas nos açougues nas alcovas

sob a luz das estrelas que nada dizem

sob a capa de veludo com signos ocultos

o tranca-ruas, soberano de outros reinos,

fecha as encruzilhadas sacode os mares

 

a cólera saqueia as mandíbulas da morte

a ferocidade jorra sobre o manto de ódio

a névoa da loucura nubla os olhos de todos

 

nem o ferreiro sabe mais a dobra do ferro

nem o toneleiro conhece a ciência dos tonéis

nem o farsante distingue a última farsa

 

boticários receitam venenos aos enfermos

velhos insones gemem como morsas abatidas

fedallah, el bárbaro, pisa no rabo do diabo

 

o rei agora come a própria bosta o bispo

chafurda no próprio vômito os piratas

pilharam os barris de perfume da rainha

 

chamem perseu quebrem os espelhos

cortem a cabeça da medusa decapitem

o fantasma amarelo – urram os súditos

 

todos se insultam sob o sol escaldante

os vinhos raros se tornaram vinagre

todos se odeiam sob a luz da lua fria

 

e o fedor das bostas do rei e o olor azedo

dos peidos da rainha e o vômito do bispo

e o mijo do cavalo e os fantasmas da torre

 

toda a fedentina e a podridão de tudo

e os snipers explodindo cabeças e os fiéis

orando no templo saqueado e os mortos

 

navegando em mares proibidos e as parteiras

empurrando de volta os bebês para o ventre

murcho coberto de cracas e musgos e insetos

 

sequer os ratos suportam a brisa infestada

de gases as nuvens carregadas de cólera

a fúria dos ventos que espalham a peste

 

e retorcem as faces dos mortos insepultos

as carnes podres dos fantasmas nas vigias

as asas amputadas do pássaro traiçoeiro

 

unguentos de barbatana não fecham as feridas

óleo de leão-marinho lamparina de lúcifer

urina de gato espermacete de baleia branca

 

folhas laceradas de bétulas siberianas

nada pode afastar a vilania a perfídia

a desgraça que se abateu sobre o tabuleiro

 

nem mesmo a tribo dos palavras longas

conhece mais os segredos da cura

a reza que transmuta treva em rosa

 

qual deus-patife espalhou a discórdia

sobre as pedras do reino? – pergunta

a rainha ao bispo que come e vomita

 

quem moveu a primeira peça neste jogo sujo?

– indaga o rei cagado aos fantasmas da torre

qual o maldito que abriu a tampa da latrina?

 

ninguém pode sobreviver ao pântano

de si mesmo – relincha o cavalo mijão entre

túmulos violados e torres alquebradas

 

o peão tranca-ruas sabe: assim como os mortais

os próprios deuses nem sempre são felizes

– e o palácio do rei exala um fedor insuportável

 

*****

Ademir Assunção

outubro / 2019

do livro em progresso

O Jogo de Xadrez - Uma Fábula Escatológica




Jura Secreta 48

sagarínica fulinaimânica

 

não sou iluminista

nem pretender

eu quero o cravo e a rosa

cumer o verso e a prosa

devorar a lírica a métrica

a carne da musa

 

seja branca negra amarela

vermelha verde ou cafuza

 

eu sou do mato

curupira carrapato

sou da febre sou dos ossos

sou da Lira do Delírio

São Virgílio é o meu sócio

 

Pernambuco Amaralina

vida breve ou sempre vida/severina

sendo mulher ou só menina

que sendo santa prostituta

ou cafetina

 

 devorar é minha sina

e profanar é o meu negócio

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

imagem: Felipe Stefani


Festival Cine Vídeo De Poesia Falada

Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

https://www.facebook.com/studiofulinaima


sequestro teu corpo poema

na entrada da sala de cinema

teu corpo levo para cama

e o poema teço sob os lençóis

de Iracema


Clic no link e veja todos os poetas/intérpretes com participações no neste Festival https://fulinaimicamente.blogspot.com/2021/10/jessica-iancoski-os-dados.html

 

Fulinaíma Multi Projetos

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(22)99815-1268 – whatsapp



 

Artur Gomes

FULINAIMAGEM

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