domingo, 30 de outubro de 2022

O Pau Brasil Sangra

 


O Pau Brasil sangra

 

Amazônia clama por socorro

o fogo queima e o mundo

gira feito carrapeta

armar o país de livros

única forma de salvação para o planeta

 

olha o tesouro que acaba de chegar aqui na Estação 353. com este poema do livro Pátria A(r)mada 2ª Edição.

valeu Luis Turiba - grande amigo poeta e parceiro

 

Deus não joga dados

mas a gente lança

sem nem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

mas como me disse mallarmè

:

- vida não é lance de dedos

A vida é lança de dardos

Deus não arde no fogo

mas eu ardo

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada –

Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio 2020

2ª Edição – 2022

Desconcertos Editora – São Paulo-SP

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/



 

mote

os versos me intimidam
o cerne
o lastro
o domínio do verbo
não me reconhecem
escapam-me insólitos

as palavras insubordinam-se
busco fôlego
lume
seiva
fórmulas nos antigos códices
pergaminhos sagrados
congo que me salve a alma

tremem- me as mãos
os dedos gemem
deliro
à frente incógnita
nenhum alento
nem corda que me alcance

espero poema música
que se espalhe
me espelhe
dance comigo pela sala
mas as palavras a mim se negam
a liberdade lhes tornou fala

poesia é mote
colcha de retalhos
crise dialética
contingência
discurso
práxis
bipolaridade a espantar incautos

menos valia
encolho-me
valham-me todos os deuses
:
a poesia não se vende

 

Ivy Menon



DELÍRIO

Michaela Schmaedel

 

Um bem-estar

se esconde sob a ironia

atormentar os vivos

e os mortos

com a teoria de dias

mais capazes

o mundo desmoronando

e eu aqui

pensando em versos.

 



Ilusão

 

com uma esperança nova

vinda sabe-se lá de onde

está mais bonita hoje a rua

 

o verde ajuda a esquecer

o infortúnio

 

o amor aparece

a voz, o cabelo, as mãos

 

coloco lado a lado

o que já não há

o que resiste

 

numa tentativa vã.

 

Michaela Schmaedel

Paisagens inclinadas

Editora 7Letras – 2022



Do silêncio que fala

 

Tem dias que calo

não pelas palavras

que me tiraram

e sim

pela saudade dos amigos

que me faltam

 

calado,

me entrego a lembranças

que dispensam palavras

e giram no moinho de água

dos meus olhos

 

em dias que calo

e me digo mais palavras

do que quando falo

 

calado

reinvento alegrias,

recupero vozes

e dou movimento a imagens

que se perderam no outro lado

das pontes caídas

 

em dias que calo

e mesmo assim

falo.

 

Ademir Antonio Bacca

In Sala de Espelhos

3i Editora Ltda – 2022

Org. Chris Resplande




A Rosa do Povo

para Drummond, Darcy Ribeiro e Oscar Niemayer  in Memória

 

a rosa de Hiroshima ainda fala

a rosa de ainda cala

Frida e seu cabelos de aço

Picasso pintou Guernica

e quando os generais de Franco

lhe perguntaram:

- foi você quem fez isso:

ele prontamente respondeu

- não, foi vozes quem fizeram.

 

Agora trago a Rosa do Povo

para os dias de hoje nesse Templo escuro

quem poderá viver nesse presente?

quem poderá prever nosso futuro?

nem Zeus nem o diabo que os carregue

eu quero um reggae um arte lata

a vida é muito cara nada barata

eu sou Drummundo Curumin - no fundo 

Tupã Rebelde não pede  arrego

poesia é pra tirar o teu conforto

poesia é pra bagunçar o teu sossego

 

Artur Gomes

https://porradalirica.blogspot.com/


Fulinaíma MultiProjetos

https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/


domingo, 16 de outubro de 2022

Geleia Geral - Revirando A Tropicália

 



Geleia Geral – Revirando A Tropicália

28 outubro ou nada - 2022 - 19h

Por onde andará Fulinaíma?

 

Elenco:

 

Artur Gomes + Adriano Moura + Aimèe Cisneiro + Aline Portilho + Christina Cruz + Joilson Bessa + Marcella Roza + Marcelo da Rosa + Serginho do Cavaco + Tchello d`Barros  




Mostra Visual de Poesia Brasileira

Poesia em Movimento

 

o delírio

é a lira do poeta

se o poeta não delira

sua lira não profeta

 

leia mais no blog https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/


 

QUE PAÍS É ESTE?

Fragmento

 

Universidade Livre de Alvito

(Afonso Romano de Sant'Anna)

 

1

Uma coisa é um país,

outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,

outra um regimento.

Uma coisa é um país,

outra o confinamento.

 

Mas já soube datas, guerras, estátuas

usei caderno “Avante”

— e desfilei de tênis para o ditador.

Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”

e éramos maiores em tudo

— discursando rios e pretensão.

 

Uma coisa é um país,

outra um fingimento.

Uma coisa é um país,

outra um monumento.

Uma coisa é um país,

outra o aviltamento.

 

Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça

em busca da especiosa raiz? ou deveria

parar de ler jornais

e ler anais

como anal

animal

hiena patética

na merda nacional?

 

Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo

comendo o que as traças descomem

procurando

o Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso

que nos impeliu a errar aqui?

 

Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos

nacionais, como qualquer santo barroco

a rebuscar

no mofo dos papiros, no bolor

das pias batismais, no bodum das vestes reais

a ver o que se salvou com o tempo

e ao mesmo tempo

– nos trai

 

2

Há 500 anos caçamos índios e operários,

há 500 anos queimamos árvores e hereges,

há 500 anos estupramos livros e mulheres,

há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

Há 500 anos dizemos:

 

que o futuro a Deus pertence,

que Deus nasceu na Bahia,

que São Jorge é que é guerreiro,

que do amanhã ninguém sabe,

que conosco ninguém pode,

que quem não pode sacode.

 

Há 500 anos somos pretos de alma branca,

não somos nada violentos,

quem espera sempre alcança

e quem não chora não mama

ou quem tem padrinho vivo

não morre nunca pagão.

 

Há 500 anos propalamos:

este é o país do futuro,

antes tarde do que nunca,

mais vale quem Deus ajuda

e a Europa ainda se curva.

 

Há 500 anos

somos raposas verdes

colhendo uvas com os olhos,

semeamos promessa e vento

com tempestades na boca,

sonhamos a paz da Suécia

com suíças militares,

vendemos siris na estrada

e papagaios em Haia,

nada nada congemina:

a senzalamos casas-grandes

e sobradamos mocambos,

bebemos cachaça e brahma

joaquim silvério e derrama,

a polícia nos dispersa

e o futebol nos conclama,

cantamos salve-rainhas

e salve-se quem puder,

pois Jesus Cristo nos mata

num carnaval de mulatas.

 

Este é um país de síndicos em geral

este é um país de cínicos em geral

este é um país de civis e generais.

Este é o país do descontínuo

onde nada congemina

e somos índios perdidos

na eletrônica oficina

Nada nada congemina:

 

a mão leve do político

com nossa dura rotina,

o salário que nos come e

nossa sede canina,

e a esperança que emparedam

a nossa fé em ruína,

placidez desses santos

e a nossa dor peregrina,

e nesse mundo às avessas

– a cor da noite é obsclara

e a claridez, vespertina.




Fulinaíma MultiProjetos

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