quarta-feira, 2 de março de 2022

Coletânea Poetas Vivos - Armando Liguori Junior

 


 TODA SAÍDA É DE EMERGÊNCIA

 

Da porta por onde se passa à ponte de onde se joga

Toda saída é de emergência.

Toda a rota é de fuga

Toda válvula é de escape

 

Abraça teu pet, abra um livro, ouça músicas,

Antes que transborde

 

Faça um sexo, coma um podrão, tome um porre,

Antes que estoure

 

Escreva um poema, corra uma quadra, veja um filme,

Pra dar um alívio

 

Chore, grite, desabafe,

Antes que desabe

 

Dance, medite, reze

Pra ver se passa

 

Empurra a porta, chuta o balde, derruba o muro.

Libera todas as vias

 

Soca a parede, xinga o mundo, toma banho de água fria,

Deixa o ladrão desobstruído para não encher a tua caixa d´água

 

Respira fundo ou cheira ou fuma.

Deixa toda saída desimpedida

 

Protesta, vai pra rua, experimenta a catarse

O que não faltam são alternativas

 

Faz uma vistoria e libera todos os acessos

Até as mais emperradas válvulas de inseguranças.

 

Só não agrida, não bata, não mate

Não descarregue nos outros

Não é saída

É tiro pela culatra

 

Corra perigo

Saia de si

Ou

Corra do perigo

Saia de si


 

NÃO CONTEM COMIGO.

 

E eis que é vida não é mais do que isto

Isto que se vê, que se vive, que se tem.

E isto não nos faz semelhantes

Nem tão pouco distantes

Mesmo que ninguém compreenda.

Não importa de que lado da rua estamos

Continuamos menores do que muitas coisas.

A casa era por aqui

O tempo passou muito rápido

As coisas reais não admitem atrasos.

Apesar de tudo é uma cidade favorável

Apesar de tudo.

Aquele pássaro não tinha o olhar tão triste

Ou seria outro o pássaro!

Ou seriam outros os olhos?

De qualquer forma estamos aqui agora

Não contem comigo no futuro

 

Poemas do livro Toda Saída É De Emergência


  

Façam-me o favor

 

E aí estão vocês, novamente.

Que insistentes, que impertinentes.

Agora, todo o dia é a mesma coisa.

Quem vocês pensam que são?!

Só por que são leves,

Só por que tem asas,

Só por que tem canto na voz;

Poesia no movimento

Acham-se no direito.

Ah! Façam-me o favor.

Saiam... saiam já daqui.

Assim vocês confundem a ordem natural da minha cidade.

Foram muitos e muitos anos

Selecionando cada barulho desagradável

Cada ruído, cada estouro, cada ronco de motor, cada grito.

Anos e anos procurando deixar o ar cada vez mais irrespirável

Os movimentos mais calculados

Anos e anos tornando a vida pesada.

E para quê? Para vocês virem logo pela manhã na minha janela,

E me provocarem com essa sua leveza e

Esse som irritante, de tanta harmonia.

Saiam já daqui.

Vocês não têm asas?! Então voem.

Vão cantar em outro lugar.

Voem para longe... para nunca mais...

Deixem que as coisas sigam como estão

Não quero mudança.

Não agora.

Essa cidade não tem mais espaço para vocês.

Não insistam.  Já disse. Não.


 

C(asa)

 

A palavra casa

Não têm cômodos

 

A palavra asa

Não alça voo

 

A palavra asa mora

Na palavra casa

 

A palavra casa,

Mesmo com

Asa dentro,

Não voa.

 

Poemas do livro A Poesia Está Em Tudo


 

Seria simples não fosse fácil seria bom não fosse imposto seria livre não fosse encosto seria som não fosse canto seria santo não fossem tantos seria ponto não fosse vírgula seria pronto não fosse pressa seria pranto não fosse festa seria porta não fosse fresta seria ontem não fosse nunca seria ombro não fosse nuca seria claro não fosse branco seria espaço não fosse espanto seria estilo não fosse estrago seria sempre não fosse às vezes seria prosa não fosse verso seria melhor não fosse governo seria amor não fosse medo seria agora não fosse cedo seria aqui não fosse ao lado seria pleno não fosse farto seria livre não fosse atado seria acaso não fosse fado seria longo não fosse atalho seria sim não fosse não seria assim não fosse senão seria pedra não fosse sabão seria ruim não fosse bom seria voz não fosse rouquidão seria tanto não fosse pouco seria beijo não fosse soco seria cheio não fosse oco seria pior não fosse ontem seria ateu não fosse deus seria fel não fosse mel seria chão não fosse céu seria meu não fosse teu seria assado não fosse assim seria pesado não fosse cetim seria skate não fosse patim seria pato não fosse ganso seria louco não fosse manso seria fresco não fosse ranço, seria avesso não fosse avesso, seria fim não fosse começo.

 

 

Letras precisam de outras letras

Pares

Afins

Para formarem palavras

Português

Inglês

Mandarim

 

Palavras precisam de outras palavras

Para formarem frases

E transformarem

Versos

Motim

 

Frases precisam de outras frases

Para formarem textos,

Discursos,

Histórias,

Enfim.

 

Histórias precisam de outras histórias

Para formarem o passado.

É assim.

 

Passados precisam de outros passados para formarem o homem que precisa de outros homens para formar o futuro.

E além.

 

Homem precisa de palavras para existir.

 

Homem sem palavra

Não é homem

E fim.

 

Poemas do livro Territórios

 

Armando Liguori Junior

 

 Armando Liguori Junior nasceu em 12 de dezembro de 1964, em São Paulo. Formado em jornalismo pela PUC-SP, e artes cênicas pelo Teatro-Escola Célia Helena.  Trabalha como redator, roteirista, ator em eventos e vídeos corporativos. Tem dois livros publicados; um de poemas (2009), TERRITÓRIOS, outro de dramaturgia: TEXTOS CURTOS PARA TEATRO E CINEMA (2017).  Escreveu, adaptou e atuou em diversos espetáculos da CIA OS TIOS (da qual é um dos fundadores), entre eles: DENTRO DO BOSQUE do filme Rashomon de Kurosawa e MATTEO PERDEU O EMPREGO, do livro de Gonçalo M. Tavares. Atualmente mantém um canal no YouTube (com o nome Armando Liguori), dedicado a leitura poética de diversos autores brasileiros e estrangeiros.



ó baby a coisa por aqui

não mudou nada

embora sejam outras

siglas no emblema

espada continua a ser espada

poema continua a ser poema

 

Artur Gomes





Pátria A(r)mada

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com

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