primeiro
de maio
por cortar o
dedo picando cebola
e sentiu
como arde muito mais
em contato
co’a água sanitária
que usa para
lavar
o banheiro
e como torna
a sangrar quando esfrega
as roupas no
tanque
e como torna
a doer quando lava
xícaras,
panelas, talheres, copos e pratos e
em seguida
começa tudo
de novo?
chega uma
hora em que o corte
esmorece
entrega os
pontos
se dá por vencido
e
exaurido
resolve
cicatrizar
a dureza do
trabalho
invisível
é demais
para ele
as mãos
insubordinadas
sorriem
como se
tivessem todos os dentes na boca
nessas mãos
mora a
boniteza
de
tum-tum-tuns de zabumba e fraseados de pífano
nessas mãos
mora a
determinação
de vulcões,
terremotos e dobramentos modernos
nessas mãos
mora o
enfrentamento
de frear
processos produtivos e cavucar terra seca
nessas mãos
mora a mais
aguerrida possibilidade
de parir-se
poesia
ode à
civilização
letargia
: um bafo de
morte aportou no correr
do nosso
tempo
a selvageria
expurgada de
nossos corpos
prostrou-se
ante o sobejo de fé
que tomamos
por empréstimo
postos a
terços tresvariamos
súplicas
socados em
gratidões eternas
à santa
patriarcal trindade
são quartas
e quartas-feiras
evocando a
tisna
profana
do fundo de
nossas panelas
com quantas
com quais
infâncias
balançando
seus dentes de leite
sustentamos
o consumo?
à sua imagem
semelhança
divagamos
estas carcaças
de alheias
propriedades privadas
(coisa de
sangue
é andar
sempre às voltas co’o desejo
de nos
tornarem
alvos)
panfleto
a cidade
agoniza
gentes
& jeitos
no sinal
[há de se
bater
o barro
aguar
amassar
sentir
seu gosto
viço-verve
por entre
os dedos
moldá-lo
ao grito
golpe
de corpo
fornalha
ascender
à escuta
a mouquidão
lesada
no passeio]
você passa
preso
preço
pressa
acelera
a vida
pela hora
da morte
sinfonia
de ossos
: o poema
que sempre
escapole
ao trato
das mãos
vive lá
manifesto
pelas ruas
reclamando
por você
reclamando
que você
hesita
treme
tropeça
quando
é preciso
coragem
coragem
¿escutou?
cotidiano
a partir daí
os espinhos
não feriam seus pés
eram
instrumentos cirúrgicos
com eles
brincava
estourando calos de sangue e bolhas d’água
as pontas de
pau
de pedra
como mágica
haviam desaparecido
seus
calcanhares e dedos não tinham sequer notícias
de machucões
ou topadas
até o sol
que
continuava quente sobre nossas cabeças
não
importava
era somente
o sol tremulando um horizonte
distante
como aquele
par de sapatos tinha aparecido
lá por casa
não sabíamos
mesmo
apertados
nunca houve
um sorriso tão contente em seus dias
corria
solta pra
cima e pra baixo que a poeira cobria
gostava de
chutar pedras também
e tinha
superpoderes
dizia
usou até não
poder mais
e me abraçou
quando
mãinha disse
: pega esse
sapato pra tu, menino
cochichando
que agora eu é que tinha superpoderes
quem dera
tivesse seus superpoderes até hoje
(a gente
nunca
imagina
que vá
acontecer co’a gente
uma coisa
dessas
não assim)
[entre
canga & cangapé]
risquei a pemba
no terreiro
da poesia
e baixou
mané de bia
entre bença
e saravá
e baixou
mané de bia
entre bença
e saravá
puxou um
coco
por ali em
meio à feira
embolando a
brincadeira
no balanço
do ganzá
embolando a
brincadeira
no balanço
do ganzá
seguindo o
rastro
logo
entraram nessa dança
seo aleixo e
zé criança
que desceram
para cá
seo aleixo e
zé criança
que desceram
para cá
também
pousou
quando ouviu
essa zoada
nosso kumba
das estrada
zé limeira
de tauá
nosso kumba
das estrada
zé limeira
de tauá
o povo todo
foi gingando
as escassezes
pois
sorrindo muitas vezes
cantou lá,
lá, lá, lá,lá
pois
sorrindo muitas vezes
cantou lá,
lá, lá, lá,lá
e quem
passava
só bastava
ouvir o mote
que chamava
nos pinote
por aqui,
por acolá
que chamava
nos pinote
por aqui,
por acolá
quebrou de
banda
coqueando
toda prosa
una chica
muy hermosa
que conosco
aqui está
una chica
muy hermosa
que conosco
aqui está
pegou seo
mário
nosso amigo
das missões
cheia de
pelintrações
se jogaram
no fuá
cheia de
pelintrações
se jogaram
no fuá
bem nessa
hora
[entre canga
& cangapé]
quando todos
demos fé
quem chegou
foi dona euá
quando todos
demos fé
quem chegou
foi dona euá
trajada em
fonte
disse que
frente ao despeito
verso na
caixa dos peito
é mesminho a
patuá
verso na
caixa dos peito
é mesminho a
patuá
: por essa
brecha
floridinha
de repente
no caminho à
nossa frente
boniteza é o
que mais há
no caminho à
nossa frente
boniteza é o
que mais há
por essa
brecha
miudinha
& sertaneja
fiquem
firmes na peleja
nunca deixem
de lutar
fiquem
firmes na peleja
nunca deixem
de lutar
Paulo
Dantas
sertanejo de
santa luzia/pb, vive no abc paulista, onde pratica o ofício da poesia popular.
O Poeta
Enquanto Coisa
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