Naufragar
no neoliberalismo
o pirata toca sax no farol
dói-lhe o dente do siso
podre
exalação na borrasca
naufragar, no entanto, não é preciso
e algumas coisas se perderam
no caminho
o pirata interposto
sem caravela, sem brio
com a cara maquilada
nas janelas de ar bravio
que algumas coisas se perderam
casa, lona e alguns dentes
o pirata pede socorro
no farol
quer deixar os motoristas contentes
recolhe despojos das ruas
risinhos d’escárnio
quase lhe cortam
a ponta do dedo esmagada
pelo vidro elétrico,
pede, um pirata esquálido
Dueto
o vento zomba da carne
espanca a pele e a anca
rasga à navalha a pelanca
o vento zumbe na cara
e esbraveja no ouvido
esfarrapa à farpa a entranha
vento e ventre a grunhir
vazando a víscera vazia
a fome e a noite fria
Freedom
a gente se acostuma
a andar na corda bamba
com a corda no pescoço
a roer osso
e dar o almoço pela janta
a cantar que o país se agiganta
enquanto assiste ao saque
em nome de uma liberdade
que só funciona em inglês.
Carolina Rieger
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