quarta-feira, 9 de março de 2022

Coletânea Poetas Vivos

 


nem aconteceu

entre tantos acontecimentos

e você aí com medo

de que não aconteça

o que já tem acontecido

o medo do desconhecido

o medo do conhecido

o medo de não ser

um desconhecido

caminho novo

ou um familiar

caminho nunca

antes percorrido

o medo

de escutar o chamado

ir e depois não querer voltar

como se não escutar o chamado

ignorar os ventos vibrando

minhas janelas

fosse uma opção


                       Clara Baccarin 

 

                   


"latinoamericana"

 

ando por aí com meu corpo brasileiro e com a certeza de

que sou muito mais feliz e mais triste que todo o mundo

ando por aí erguendo corpos do solo: os braços, as mãos

são só memória muscular herdada e movida por pura bênção

e quando abro a boca, sei que sou música e silêncio, sou

melodia e ruído, eu falo em ritmo de marcha e em melisma

hoje não tenho carne, fibras ou ossos: tenho sedimentos

intermitentes entre história, continuação e algo a mais

que ficou cá por dizer, por ser desenterrado, mas nunca

eu apenas conheço a liberdade em estado de fogo cruzado

ando por aí com meu corpo brasileiro e com a certeza de

que meu senso de propriedade é fluido, aquoso, mosaical

e tudo me atravessa - fino como flecha, grande como nau

 

                                                            Amanda Vital


Mais um "mimo" do poesia.net. Abraço forte e sempre grato, caro poeta Carlos Machado.


CARTÃO POÉTICO - DALILA TELES VERAS

* 8 de Março - Dia da Mulher *





autorretrato

 

quando nasci

uma anja invocada disse:

vai, mara, ser louca

na vida

cumpro a sina

tomo manga com leite

lavo a cabeça quando

sangro

bebo pinga em balcão

saio com as meninas

coloridas

elas de salto quinze

eu no reles do chão

sou desdobrável

como adélia

dias me maquio

e me vejo bela

outros saio sem filtro

e me enxergo eu

canto dolores duran

às quintas

e roquenrol às sextas

o resto vou de bolero

passando pelo samba

e tango e rap e vinícius

que gosto do lance

do amor

tive filhos

paridos da mansidão

a iluminarem caminhos

tive dores

nascidas do medo

e da escuridão

por isso distribuo

palavras

entre versos

entre dentes

que às vezes

escorrem pela boca

sem permissão

a anja que tudo vê

abre as janelas dentro

de mim

toma um café bem forte

(reclama da falta de gim)

e vai pentear os cabelos

 

Mara Magaña

 

imagem: natalia iashnova







Jose Salgado Maranhão Salgado Maranhão

para celebrar o Dia da Mulher








Jura secreta 16

 para may pasquetti 


fosse esta menina Monalisa 
ou se não fosse apenas brisa 
diante da menina dos meus olhos 
com esse mar azul nos olhos teus 

não sei se MichelÂngelo 
Da Vinci Dalí ou Portinari

 te anteviram 
no instante maior da criação 

pintura de um arquiteto grego 
quem sabe até filha de Zeus 

e eu Narciso amante dos espelhos 
procuro um espelho em minha face 
para ver se os teus olhos 
já estão dentro dos meus 

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

www.secretasjuras.blogspot.com



Pátria A(r)mada

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