quarta-feira, 2 de março de 2022

Coletânea Poetas Vivos - Alcides Buss

 


AR-TE

É quando soltamo-nos
de nós
para sermos mais.

É onde, sem estarmos,
descobrimo-nos.

É a parte
que se reparte
qual se fosse uma estrela no céu.

Porque é arte,
dispõe o amor
nas rasuras da vida.

Fazê-la é que são elas!

Há arte em respirar.
Há arte em abraçar.
Que artista nos faz?

 


LIBERDADE

Ela existe.
Milhares de livros foram escritos
pra dizer que ela existe.

Nas ruas, nas escolas,
nas fábricas, nos bares
ela finge existir.

No ideário dos políticos
ela finge existir.

Nos gritos libertários
ela finge existir.

Liberdade: bem sei, és
o pássaro de canto bonito, feito
de letras e de sílabas.


ATÉ O FIM

Nenhum rio salvará o poeta.

Pode ser o Ganges,
pode ser o Tejo,
nenhum rio salvará.

O Amazonas, no mar de suas águas,
tampouco salvará.

Pra azar do poeta,
não há nada que o salve
a não ser nadar, nadar
e um dia, enfim, chegar à praia
com a língua deserta.

Como em toda regra – alertam –,
há exceções.
Camões que o diga!

Dizei, poeta, o que é o amor?

Talvez seja apenas isto,
esse velho acreditar
no outro.


MAS O QUE É POESIA

 

Poesia não é linguagem.
Poesia é vida!

Poesia é vida
que se faz linguagem.

A linguagem
é a língua em viagem
de nada e tudo.

Ao poeta cabe
fazê-la entrar nos arquivos
múltiplos
de que é feito o mundo.

O leitor, porém,
é quem dá sabor e rumo
ao que faz do verso
o elo de uns e outros.

 

Alcides Buss

 

 Alcides Buss reside em Florianópolis, SC, onde atua como escritor, professor e editor. É casado com Denise, pedagoga, e tem três filhos: Deluana, jornalista; Loreno, engenheiro; e Hermano, radialista e produtor gráfico e audiovisual. Seu primeiro livro surgiu em 1970 com o título de Círculo quadrado. Depois dele, publicou mais vinte e cinco títulos, dos quais dois são infantis e muito lidos pelo Brasil afora: A poesia do ABC e Pomar de palavras. Foi o criador dos varais literários e do movimento através do qual um livro é passado, de graça, de uma pessoa a outra. Na Editora da UFSC, da qual foi diretor por dezessete anos, manteve a coleção Ipsis Litteris, que lançou dezenas de novos escritores. Também na UFSC criou oficinas de criação literária de conto, crônica e poesia. Coordena o Círculo de Leitura de Florianópolis. Entre os inúmeros prêmios que já recebeu, destacam-se o da Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo livro A poesia do ABC;  o de Mérito Cultural Cruz e Sousa, do Governo do Estado de Santa Catarina, e o Prêmio Fernando Pessoa, da União Brasileira de Escritores – RJ, pelo livro Janela para o mar. Seu livro mais recente é Em nome da poesia, uma prosa literária, publicado pela Caminho de Dentro Edições.




Pátria A(r)mada

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com

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