terça-feira, 1 de março de 2022

Coletânea Poetas Vivos

 

 

de minha cama provisória
vejo o céu e o silêncio
microcosmo disfarçado
o mundo real não é aqui

 

Dalila Teles Veras




 NUBLADAS


A casa pede consolo
o céu está cinza
nuvens espessas cheirando a despedidas
olhares vazios pelos corredores
janelas trancadas receando vendavais
- é preciso colocar de volta os tapetes ao chão
enxugar os molhados de hoje
aguar a alma das securas de amanhã
preparar o café, o almoço, o jantar -

porém,
se precisarmos abandonar a casa sozinha
é de bom alvitre que saiamos com os pés calçados
mãos lavadas e olhos abertos - atentos, perplexos -
há rumores de que tempos absurdos andam por aí
aos bandos
- e tempos estranhos pedem cuidado -
aconselha-se ainda
que prossigamos no caminho da vida sem grandes alardes
[façamos silêncio, tudo é tão tarde!]
diz-se que é chegado o tempo de acontecer
- acontece e pronto -
sigamos em frente
não há maneira de estancar a ferida
derramada em tristezas por entre as retinas
a não ser seguindo a sina - os sinais, as rotinas -

porque viver também se vive em casas nubladas
ainda que em alegrias mínimas ou angústias máximas

que em casas nubladas a alma não seja expurgada
permaneça alojada no timo, nas quinas dos olhos
ou mesmo a espiar por entre as fibras diversas
que fazem membranas entre os gestos sutis das lembranças!

que em casas nubladas
'inda seja permitido um verbo na garganta
a dizer sobre as dores incandescentes dos desejos
- moradores rebeldes do coração -


(Nic Cardeal, 01.03.2021)

#poemasdesobrevivênciaàquarentena - seguindo na sobrevivência...




O MENSAGEIRO

para António Cunha

 

uma imagem, uma voz, um gesto! escolhe qual preferes!

captura! cunha a medalha!

ah! não esquece o clima, o quarto, o guarda- roupa

e sobretudo o som

o entorno de penumbra...

põe tudo isso... oh, sim, põe tudo na medalha

como se o vento cortasse

a garganta jorrasse

a mão arabescasse no vitral da igreja.

no ribombar dos sinos

ouve

o coração da medalha

estufado em loucuras de perplexidade

encimando a medalha

o nome!

não esqueças o nome!

sim! o primeiro!

o nome grávido

o nome mastigado

o nome parido

o nome sonoro

o nome curtido

o nome que é sonho

entendeste bem?

esse nome cunhado

esse nome lavrado,

repartido, amado

ora, meu amigo,

esse nome

é

Antônio.

 

(Anna Miranda)






ESCURO

 

O abajur apaga

Deve ter queimado a lâmpada

O escuro toma conta

Volta o medo de criança

Quando tudo escurece

É como se o mundo

Fechasse os olhos

E nos anoitecesse

Atrás de suas pálpebras fechadas

O escuro toma conta de tudo

Nos cega

Mas não por muito tempo

Os olhos se acostumam

Também com a escuridão

E o contorno das coisas

Voltam a aparecer

Não existe escuro absoluto

Pelo menos não por muito tempo

 

Armando Liguori Junior




 Na TV

 

Hora do almoço

Meu prato cheio esbarra nas prateleiras

vazias dos supermercados da Ucrânia

Vazios os meus olhos se multiplicam

pelos bebês amontoados no subsolo de

um hospital de Kiev

Mães e voluntárias não dormem

Pregam fitas crepe nos vidros para que

não se estilhacem com a trepidação causada

pelos aviões russos que sobrevoam zonas civis

como sabujos farejando inocência e sangue

A torre de TV de Kiev explode

Na tela

A minha TV não desliga

Mas os corpos dos cinco mortos não aparecem

É proibido.

Mortos assustam crianças e brasileiros sensíveis

Um pai ucraniano diz aos filhos que a fuga

é uma filmagem da Marvel

Os meninos riem eufóricos, dispostos

à caminhada que se acelera entre a crença

na brincadeira e a realidade cruenta

Meu prato cheio esfriou.

No lettering daquela TV 24 horas, a notícia de que

crianças ucranianas com câncer pedem o fim da guerra

 

Cinthia Kriemler






Acidade navega sobre o nada”

Ouro Preto tem as tintas da manada.

Ouro Preto tem as cores mais cruéis.

Onde encontro estas cores nos pincéis

Quando morro nos olhos da amada?

Marílias, por aqui sempre podeis!

A cidade navega sobre nada."

Romério Rômulo


Love
song


quando você me aperta o coração
cortando da gaivota
o silêncio
da solidão, o frio
aprendo aos poucos os acordes de "La Vie em Rose"
te dou metade d palavra amor
e espero do caminho,
a outra metade

Natália Agra

do livro De Repente Chuva
Corsário Satã - 2017



terça feira de carnaval

 

te esperei com quibe de peixe

e no freezer sua Amistel preferida

às 5 você não veio

duas doses de vodka com pitanga

para dar coragem e

cair no samba no boi da cara preta

não me vesti de tranga

apenas esse vestidinho transparenta

para provocar os capixabas caretas

se você viesse

o amor seria no mar

entre corais mariscos

nossas pernas entrelaçadas

entre  as partículas de areia

você meu cavalo marinho

eu sua branquinha sereia

 

Rúbia Querubim

www.personasarturianas.blogspot.cm







EntreVistas

www.arturgumes.blogspot.com

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