EPOS
para Adriana Abreu
Nomeia-me, ó Musa, cantor deste mundo
suspenso
que seja minha voz como água em
córrego denso
que resista e que se espalhe com a
força do vento
e que traga só a alegria onde houver
o tormento
Sei quanto é difícil a um poeta
evocar teu nome
e manter-se ainda firme na meta que o
consome
de escolher cada palavra, verbo,
frase, pronome
que não venha a sucumbir de sua
própria fome
que seja atento, vivo e forte a tudo
em volta
que mergulhe fundo no mar agitado da
revolta
e traga à superfície a tua voz sonora
e solta
livre de toda sanha sinistra que a
emudeça
que só o poema e não o poeta transpareça
e que a memória destes versos não
pereça
Herbert Valente de Oliveira
MULHER
Em algum lugar além
Vozes veladas cavam
Seu ocluso canto alvo.
Invertem a longa nota
Em invernal fino som
A converter cristalino
Canto em silêncio.
O vocalize sibilino
Escoa sóbre vasto
Grave e agudo que
Ondula langue e leve
Pelo campo tonal.
Tudo se reduz a denso
E baixo que perambula
Pelo entorpecido campo
Ante a derradeira nota.
Daniell
TW
em Taboão das Trevas
colho versos
Ciranda
o feminino é plural
08 poemas das minas
leia aqui https://scenariumlivrosartesanais.wordpress.com/2022/03/09/08-poemas-das-minas
Guernica é a representação da insanidade humana.
Digo não à morte
quando amo, estendo a mão
ao outro, faço pão e café,
acendo o fogo.
Digo não dizendo sim,
quando abraço de longe
os que fogem da guerra,
mulheres jovens e velhas
e crianças, sim ao amor.
Digo não ao céu quando
despeja bombas ao invés
de luz e estrelas.
Digo sim
aos donos da morte,
quando conversam
em volta da mesa,
abandonam as armas,
aos que buscam
um caminho possível.
Cada número dos milhares
e milhões de mortos
e fugitivos,
é tatuado em nossos
corpos.
Roseana Murray
Pomba Gira
A pomba rola
faz ninho no meu pé de sirigüela
poema de 7 cores
grafitado em aquarela
Exu está de ronda
Oxossi é quem me leva
Ogum é queme guia
Xangô quem me preserva
Yansã é quem me chama
Yemanjá a que mesalva
Oxum que me protege
de qualquer má companhia
Federika
Lispector
SubVersão PoÉtica
www.personasarturianas.blogspot.com
Pindorama
ainda sonhamos uma Pindorama
sem falso moralismo sem drama
que os poemas arrombem as portas
de todos vis sistemas
e desarme as armaduras
vermelha nossa bandeira em terra
alçada ao sabor do
vento
saudando o sol da liberdade
nossa alegria sempre em movimento
com todos os povos reunidos
numa grande aldeia indigenista
e derrotarmos para sempre
qualquer que seja no planeta
as insanas criaturas
que com fardas e
gravatas
ainda comandam
a dita dura
Federico
Baudelaire
SubVersão PoÉtica
www.arturkabrunco.blogspot.com
DESTA VEZ
VOCÊS NÃO ME MATAM
o rio Hovy chora
não é um lamento
é coisa sem nome
o sertão foi embora
pra cidade grande
nossos nativos
foram junto
uns beberam de morte
outros enforcaram-se
muitos perderam-se
de dor
a vida passava na estrada
os invasores os invasores
os invasores
fui um desses filhos da terra
em outra vivência
fui tanto
e agora sou pouco
velho vestido de poema
levitando entre o pântano
a serra e o deserto
das almas deste mundo
e agora sou pouco
mas desta vez
vocês não me matam
(Lalo
Arias/fevereiro, 2019)
(Fotografia: India Guarani Kaiowa de Mato Grosso
do Sul; Google Imagens, sem menção do
autor)
foi quando me cortou as asas o anjo da poesia.
SubVersão
PoÉtica
oficial quase sempre
me dá asco
sou o carrasco
da farda e da gravata
inimigo nº 1
do nó que não desata
Artur Fulinaíma
www.fulinaimagens.blogspot.com
Coletivo Macunaíma De Cultura
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