quinta-feira, 24 de março de 2022

Coletânea Poetas Vivos

 


SAMBA DE SAMBAR

NO ESTÁCIO DE SÁ

 

De onde quer que seja ou que venha, pois tenha

Na ponta da língua de origem uma Arte,

Beleza em que o vento roda a saia à parte

Da fala em que história cantada se empenha

Em dizer no pé, seja de onde venha:

No tempo que gira, cante quem vem lá:

No jogo de cena, corpo, camará:

Comboio de seres, sendo caravana...

A caminho daqui; levada africana:

Samba de Sambar no Estácio de Sá.

 

Jogando a palavra no verso, a malícia:

 Arte de brincar, brigar sorridente;

Som: a corda treme Sol do Continente:

Peito ao berimbau: lá vem a polícia.

Sustenta o folguedo; na fuga, a perícia...

Tira o pé daqui, fingindo que é lá.

Lá vem Meia lua, Capoeira dá

E tira resposta, gemedeira ao longo...

Do eito pra roda, caminho é do Jongo:

 Samba de Sambar no Estácio de Sá.

 

Em tempo: as vozes, sotaque de hermanos,

Que era uma vez do falar hispânico

No singrar dos mares-sem-fim-ceânico,

De Terra de mouros, cristãos e baianos;

Teatro nas ruas, revoar dos panos

Faz baixar o Santo, rito, saravá!

Tá feita a cabeça, povoa o gongá,

Conclama o ritmo, sincroniza o pé,

Sincopado em rima, já é candomblé:

Samba de sambar no Estácio de Sá.

 

Deix’stá que mais povo vem, vira esquina...

Mora amando o Morro, na Penha ajoelha,

Reza e precisão: vida se emparelha:

De repente, o mestre aprende o que ensina.

Ensina a quem canta sambar, é Usina

De Som: Tempo fecha, abre o patuá.

Lá vem mãe de Santo, benzer Cazuá...

Pra Santo de Casa, milagre incomum,

Que pede passagem pro Burungundum:

Samba de sambar no Estácio de Sá

 

Navegando o verso bebido na fonte

Da escrita, na face cantada da História.

O protagonismo só tem se a memória

Se fizer por onde ser viva, ser ponte

Que emende, aponte a ciência que monte

A peça, o compasso do instante que dá

Espaço ao sentido; xim-xim, mungunzá

Munganga, Maria Padilha, Molambo;

Mãinha Maria, cria do Mocambo;

Samba de sambar no Estácio de Sá.

 

Com mãos à navalha, malandro dá passe,

Que é poesia, valente nascença

Do novo batuque, que demanda vença,

Sustância e vigor; conteúdo trace

Trajeto do anel, que de mão em mão passe

Pro tempo vindouro: quem viver, verá:

Do Morro do Estácio até o Ceará,

Desfeitas amarras dos Filhos de Exu,

Som formoseado alforria o Lundu:

Samba de sambar no Estácio de Sá.

 

Tempos, que soprando vivos pensamentos,

São tempos de amar, viver de Aruanda.

Em tempos de deuses, Caminho da Umbanda,

Cambindas e Blocos, Maracas, intentos

Modernos; de celebridades, êh ventos!

Inventos... Dou fé que é Lá

A Nota que Dó-Ré-Ni-Mim, Caifá!

Tempos, tinos, ritmos, pontos cardeais:

Tempos marcha à frente: Outros Carnavais:

Samba da Sambar no Estácio de Sá.

 

Tempos de, quem sabe, todo em poesia;

Que a noite criança seja o sol da lua;

Derramado em verso, frevando na rua

Do Bairro: a pisada é fluente, é folia;

Batente martela pão de cada dia.

Cada pé de bamba, de banda é bumbá!

Umbu-de-Raíz! Diz no pé Rei Obá:

- É o Morro ensinando a quem pula do asfalto,

Vai, pisa na Roda do Partido Alto:

Samba de Sambar no Estácio de Sá!

 

Liberdade de expressão é Deixa Falar!

Nome que foi dado à primeira Escola

De Samba, que abre cordas, desenrola

Vocal, faz teatro, faz vez do lugar:

A grande epopéia: samba de sambar;

Que tanto dá samba, que até maracá

Chocalha a batida, rima de ganzá;

Onde o Mestre-Sala , mais Porta-Bandeira

Fazem da Avenida Estação-Primeira:

Samba de sambar na Estácio de Sá.

 

A versão que corre e que de fato é

Verdade é que todos os compositores:

Batuta de mestres: Viram professores:

Dão aulas de ritmo dizem que até

a grande alegria faz do Cabaré

Cenário em folia, onde o BEABÁ

Do Samba sambado tem DENEÁ

É a voz do Morro no Rio de Janeiro,

São Sebastião, cantar do Terreiro:

Samba de Sambar no Estácio de Sá.

 

        Diz-se que a História do Rio é desde

Que Mané é Mané e malandro é malandro

Malandra palavra: só rima em meandro

Mané rima tanto que até se diz que

Mar aberto ao som, Mané fez- se vê

Vivo personagem: Permanente está

Nas ondas que rezam flor de Iemanjá, 

No baticumbum : olhai, Redentor!

Frente aos Orixás, Deus toca tambor;

Samba de sambar no Estácio de sá

 

 Oficialmente se auto-narrando,                             

 A História nos conta que em mil e seiscentos

  E SESSENTA E CINCO, DE ACONTECIMENTOS

 O maior contado é que foram chegando,

 Fazendo de conta que não, mas tomando...

 Não sei se era o Mem de Sá ou quiçá,

 Estácio,  sambado de índio, foi lá.

         Fincou Cruz de Malta no Cara de Cão,

         Morro que em Janeiro, Rio de Sebastião,

         Deu samba no Mem de Estácio de Sá.

 

 (Poema inspirado no romance DESDE QUE O SAMBA É SAMBA, de Paulo lins)

 

POEA PARA EMECI CORDEL

 

Em letra errada eu não vou

Trocar o gê pelo gê.

Pior cego é quem não lê,

Na rima o toque que eu dou;

Não ouviu, não atinou

Que o Carcará, na visão,

Tem Olhos de Gavião.

Com seu bico volteado,

Pousando é Mourão-Voltado,

Voando é volta-mourão.

 

Se madeira é mororó,

É Moura, é voz, é viola...

É Baião que desenrola

Notas na dobra do nó...

Madeira que dá em dó.

Entre a Urbe e o Sertão,

Rap no pancadão!

Hip de dedo que é dado,

Hop de mourão-voltado,

Funk de Volta-Mourão...

 

Na Pancada d Ganzá:

Parada que o tempo loa,

Onda-mar que o tempo voa.

Vida longa pra Uauá!

Nas voltas que o Mundo dá,

Entre a palavra e a mente,

Bom de improviso é repente.

Reza a Lenda em Pensamento:

Bons ventos pro movimento

Do mar do meio ambiente.

 

No Reino da Poesia,

Se a rima sonora é top,

Rep no repente é pop:

Poema que alumia

No Mar da Estrela-Guia.

Entre a corda e a caçamba,

Cambembe-câmbio-que-bamba...

Que bebe água que mel...

É. Sou Eemeci Cordel.

Pirapora, axé, meu samba...

 

Samba de Coco, Cocada...

Na pisada do tamanco,

Tangolomango no tranco!

Pega no ganzá, pancada

De banda, baque, levada...

Bonita, encantos de rua.

Peleja que continua...

Arte Pública no tom.

Maior que tu, segue o som:

Toque de Bênção, Mãe-Lua...

 

        TERCEIRA MARGEM DO CÉU.

 

Principia com Velho-Chico – Rio São Francisco -, que, cantando em Travessias, desagua na figura de Santos Dumont, que à Luz do 14-Bis, reina nos Céus de Paris e logo, em sonora rima, baixa em Machado de Assis que, Pé no Chão, Cuca na Lua, desce o Morro do Livramento, embrenha-se por Veredas Em Cordel... logo alcança os ri ecimafes, em Pernambuco e escuta ao longe – e tão perto - o “riso grosso” de Leandro Gomes de Barros – Pai do Cordel - que lhe abre caminho até à Terceira Margem do Céu, onde está fincado o Marco da Poesia Brasileira.  Daí, o Pulo do Sapo, - na Viola do Urubu - nos leva De Volta à Festa No Céu. Lá o Criador assina Carta, decretando que Festa na Terra – Tradições, Folguedos e Cordéis – será permanente. Quando o Sapo desce é entoando uma cantiga como:

“Dou um pulo na Espanha,

Pulo pra Itororó!

Encontro Festa tamanha,

No sertão de Caicó!

Vendo que é Festa no Céu,

Dou pulo, tiro chapéu,

Pois já não me encontro só!

 

Assim segue , formando uma grande roda – de ciranda - com o público presente.

 

 

 

 BRASIL: É BOM NOS REVER.

 

1 Tambores e Maracás

Marcam no pé a sonora

Chegança, povo, simbora!

Ritmo da hora se faz

Em pé de verso que traz

No compasso, a cadência;

Na rima já te ciência.

Olha a Caixa do Divino:

Pela mão de um menino,

É toque de consciência.

 

2 Se o primeiro toque é dado,

Passa a deixa pro segundo;

Toca o terceiro e o mundo

Já escuta um redobrado,

Que toca o mundo mudado,

Pra melhor nosso cenário

Navegar no imaginário

Das águas, bem onde a história,

Nos remansos da memória,

Corre em liso itinerário.

 

3 No Olho D’áua Nascente,

No cocuruto da Serra,

Água de beber que berra

Feito cabrito velente,

Pelas barbas do poente,

Desce pra boca do povo,

Que já  tá de pote novo,

Colhendo água da fonte.

Correndo estreito horizonte,

Mundo das águas é um ovo!

 

4 Brasil, brasa, bronze, breu...

Brasil, brejo, beira e borda,

Brasil, bamba, bebe, aborda

Um Brasil bambo de seu;

Brasil, berimbau bateu...

Brasil, êh, roda, êh, mandinga!

Brasil de Ciranda, êh, ginga!

Brasil das pernas êh, bambo...

 

  5 Brasil, é bom nos rever.

Brasil, um tempo, uma data;

Brasil, uma rima exata,

Quando o Brasil quer dizer:

- Brasil, falta-nos saber

Deste Brasil do monturo,

Quintal de reza e futuro.

Brasil, tua lenda reza

Nosso passado que pesa

Um ponto cego no escuro.

 

6 Brasil do “ Ah, lá! Terra à vista!”

Missa rezada em Primeira

lição tomada na esteira

Brasil da Selva, onda a mista

Gente é à venda e conquista.

Brasil, tua biografia

Temperada na agonia.

Em língua de toma lá

dá cá; na meta em que está,

Só te salva a poesia.

 

7 Brasil, onde a brasileira...

Gente ainda não acabada

De nascer, já tá passada

A limpo, a sujo e à beira

Da Estrada Boiadeira,

De oculto mau elemento:

Culto de fuás ao Vento.

Eita, Brasil, teu juízo,

Se reinventar é preciso,

Na Arte do Fazimento.

 

8 Brasil de foice e martelo,

De rios virando morro,

Quilombola, preto forro,

De branco, olho amarelo

De fome, farto farelo.

Basil de faca norturna,

De peixeirada diurna.

Compadre, um olho na Missa,

Outro fechado em cobiça

De padre, em Boca de Furna.

 

9 Brasil começando a ler

Páginas do Romançal;

Brasil, de Zero a Cabral;

Carnaval, Brasil de ser

Tão índio, sertão de ter

Beleza, um imaginário

Profundo, onde o rosário

Corre conta e o futebol

Brinca de Brasil ao sol,

Sem Cartola hereditário.

 

Edmilson Santini

 

Edmilson Santini, nascido em Águas Belas-PE; é ator, educador, também escritor e cordelista: Conta, canta, encena, no Teatro Em Cordel, histórias de sua autoria. Entre seus trabalhos para encenação, destacam-se A CHEGANÇA DO ALMIRANTE NEGRO NA PEQUENA ÁFRICA: Teatro de Rua pela Cia. de Mysterios e Novidades (ganhador dos Prêmios Myriam Muniz, FATE, PETROBRAS, etc.); O CASAMENTO DA FILHA DE MAPINGUARI, pelo Grupo Experimental Vivarte, do Acre; assim como a CHAP- Cia Horizontal de Arte Pública – RJ. Atuou, por nove anos, como dinamizador (Oficina de Cordel) no projeto SEGUNDO TURNO CULTURAL, da Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de janeiro. DE MACHADO A GONZAGÃO: UMA VIAGEM EM CORDEL é um trabalho que segue tocando, juntamente com a Oficina de Contação e Criação De Histórias Em Cordel. Apresentou, por muito tempo, seu trabalho – unindo apresentações e Oficina de Palavra Rimada - no CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA - Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul. FAYGA OSTROWER: NAS ASAS DA OUSADIA, desenvolvido em homenagem ao Centenário de Fayga Ostrower, a Dama de Xilogravura brasileira no Século 20. Enfim: ROGACIANO LEITE: CARNE E ALMA DE POETA, nos 50 ANOS DO MOVIMENTO ARMORIAL, realizado pelo Centro de Artes da UFF-Niterói.

Segundo lugar no Prêmio Nísia Floresta De Literatura-210 Anos.

Mais informações podem obtidas tanto no Facebook: Edmilson Santini Santini, como no Youtube: Edmilson Santini; Instagram: Edmilsonsantinisantini; assim com na página da Cia Teatro Em Cordel.  

 

 

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