SAMBA DE
SAMBAR
NO
ESTÁCIO DE SÁ
De onde quer que seja ou que venha, pois tenha
Na ponta da língua de origem uma Arte,
Beleza em que o vento roda a saia à parte
Da fala em que história cantada se empenha
Em dizer no pé, seja de onde venha:
No tempo que gira, cante quem vem lá:
No jogo de cena, corpo, camará:
Comboio de seres, sendo caravana...
A caminho daqui; levada africana:
Samba de Sambar no Estácio de Sá.
Jogando a palavra no verso, a malícia:
Arte de brincar, brigar
sorridente;
Som: a corda treme Sol do Continente:
Peito ao berimbau: lá vem a polícia.
Sustenta o folguedo; na fuga, a perícia...
Tira o pé daqui, fingindo que é lá.
Lá vem Meia lua, Capoeira dá
E tira resposta, gemedeira ao longo...
Do eito pra roda, caminho é do Jongo:
Samba de Sambar no Estácio
de Sá.
Em tempo: as vozes, sotaque de hermanos,
Que era uma vez do falar hispânico
No singrar dos mares-sem-fim-ceânico,
De Terra de mouros, cristãos e baianos;
Teatro nas ruas, revoar dos panos
Faz baixar o Santo, rito, saravá!
Tá feita a cabeça, povoa o gongá,
Conclama o ritmo, sincroniza o pé,
Sincopado em rima, já é candomblé:
Samba de sambar no Estácio de Sá.
Deix’stá que mais povo vem, vira esquina...
Mora amando o Morro, na Penha ajoelha,
Reza e precisão: vida se emparelha:
De repente, o mestre aprende o que ensina.
Ensina a quem canta sambar, é Usina
De Som: Tempo fecha, abre o patuá.
Lá vem mãe de Santo, benzer Cazuá...
Pra Santo de Casa, milagre incomum,
Que pede passagem pro Burungundum:
Samba de sambar no Estácio de Sá
Navegando o verso bebido na fonte
Da escrita, na face cantada da História.
O protagonismo só tem se a memória
Se fizer por onde ser viva, ser ponte
Que emende, aponte a ciência que monte
A peça, o compasso do instante que dá
Espaço ao sentido; xim-xim, mungunzá
Munganga, Maria Padilha, Molambo;
Mãinha Maria, cria do Mocambo;
Samba de sambar no Estácio de Sá.
Com mãos à navalha, malandro dá passe,
Que é poesia, valente nascença
Do novo batuque, que demanda vença,
Sustância e vigor; conteúdo trace
Trajeto do anel, que de mão em mão passe
Pro tempo vindouro: quem viver, verá:
Do Morro do Estácio até o Ceará,
Desfeitas amarras dos Filhos de Exu,
Som formoseado alforria o Lundu:
Samba de sambar no Estácio de Sá.
Tempos, que soprando vivos pensamentos,
São tempos de amar, viver de Aruanda.
Em tempos de deuses, Caminho da Umbanda,
Cambindas e Blocos, Maracas, intentos
Modernos; de celebridades, êh ventos!
Inventos... Dou fé que é Lá
A Nota que Dó-Ré-Ni-Mim, Caifá!
Tempos, tinos, ritmos, pontos cardeais:
Tempos marcha à frente: Outros Carnavais:
Samba da Sambar no Estácio de Sá.
Tempos de, quem sabe, todo em poesia;
Que a noite criança seja o sol da lua;
Derramado em verso, frevando
na rua
Do Bairro: a pisada é fluente, é folia;
Batente martela pão de cada dia.
Cada pé de bamba, de banda é bumbá!
Umbu-de-Raíz! Diz no pé Rei Obá:
- É o Morro ensinando a
quem pula do asfalto,
Vai, pisa
na Roda do Partido Alto:
Samba de
Sambar no Estácio de Sá!
Liberdade de expressão é Deixa
Falar!
Nome que foi dado à primeira Escola
De Samba, que abre cordas, desenrola
Vocal, faz teatro, faz vez do lugar:
A grande epopéia: samba de sambar;
Que tanto dá samba, que até maracá
Chocalha a batida, rima de ganzá;
Onde o Mestre-Sala , mais Porta-Bandeira
Fazem da Avenida Estação-Primeira:
Samba de sambar na Estácio de Sá.
A versão que corre e que de fato é
Verdade é que todos os compositores:
Batuta de mestres: Viram professores:
Dão aulas de ritmo dizem que até
a grande alegria faz do Cabaré
Cenário em folia, onde o BEABÁ
Do Samba sambado tem DENEÁ
É a voz do Morro no Rio de Janeiro,
São Sebastião, cantar do Terreiro:
Samba de Sambar no Estácio de Sá.
Diz-se que a História do Rio é desde
Que Mané é Mané e malandro é malandro
Malandra palavra: só rima em meandro
Mané rima tanto que até se diz que
Mar aberto ao som, Mané fez- se vê
Vivo personagem: Permanente está
Nas ondas que rezam flor de Iemanjá,
No baticumbum : olhai, Redentor!
Frente aos Orixás, Deus toca tambor;
Samba de sambar no Estácio de sá
Oficialmente se auto-narrando,
A
História nos conta que em mil e seiscentos
E
SESSENTA E CINCO, DE ACONTECIMENTOS
O maior
contado é que foram chegando,
Fazendo
de conta que não, mas tomando...
Não
sei se era o Mem de Sá ou quiçá,
Estácio, sambado de índio, foi lá.
Fincou Cruz de
Malta no Cara de Cão,
Morro que em Janeiro, Rio de Sebastião,
Deu samba no Mem de Estácio de Sá.
(Poema
inspirado no romance DESDE QUE O SAMBA É SAMBA, de Paulo lins)
POEA PARA
EMECI CORDEL
Em letra errada eu não vou
Trocar o gê pelo gê.
Pior cego é quem não lê,
Na rima o toque que eu dou;
Não ouviu, não atinou
Que o Carcará, na visão,
Tem Olhos de Gavião.
Com seu bico volteado,
Pousando é Mourão-Voltado,
Voando é volta-mourão.
Se madeira é mororó,
É Moura, é voz, é viola...
É Baião que desenrola
Notas na dobra do nó...
Madeira que dá em dó.
Entre a Urbe e o Sertão,
Rap no mó pancadão!
Hip de dedo que é dado,
Hop de mourão-voltado,
Funk de Volta-Mourão...
Na Pancada d Ganzá:
Parada que o tempo loa,
Onda-mar que o tempo voa.
Vida longa pra Uauá!
Nas voltas que o Mundo dá,
Entre a palavra e a mente,
Bom de improviso é repente.
Reza a Lenda em Pensamento:
Bons ventos pro movimento
Do mar do meio ambiente.
No Reino da Poesia,
Se a rima sonora é top,
Rep no repente é pop:
Poema que alumia
No Mar da Estrela-Guia.
Entre a corda e a caçamba,
Cambembe-câmbio-que-bamba...
Que bebe água que mel...
É. Sou Eemeci
Cordel.
Pirapora, axé, meu samba...
Samba de Coco, Cocada...
Na pisada do tamanco,
Tangolomango no tranco!
Pega no ganzá, pancada
De banda, baque, levada...
Bonita, encantos de rua.
Peleja que continua...
Arte Pública no tom.
Maior que tu, segue o som:
Toque de Bênção, Mãe-Lua...
TERCEIRA
MARGEM DO CÉU.
Principia
com Velho-Chico – Rio São Francisco -, que, cantando em Travessias, desagua na figura
de Santos Dumont, que à Luz do 14-Bis, reina nos Céus de Paris e logo, em
sonora rima, baixa em Machado de Assis que, Pé no Chão, Cuca na Lua, desce o
Morro do Livramento, embrenha-se por Veredas Em Cordel... logo alcança os ri ecimafes,
em Pernambuco e escuta ao longe – e tão perto - o “riso grosso” de Leandro
Gomes de Barros – Pai do Cordel - que lhe abre caminho até à Terceira Margem do
Céu, onde está fincado o Marco da Poesia Brasileira. Daí, o Pulo do Sapo, - na Viola do Urubu - nos
leva De Volta à Festa No Céu. Lá o Criador assina Carta, decretando que Festa na
Terra – Tradições, Folguedos e Cordéis – será permanente. Quando o Sapo desce é
entoando uma cantiga como:
“Dou um pulo na Espanha,
Pulo pra Itororó!
Encontro Festa tamanha,
No sertão de Caicó!
Vendo que é Festa no Céu,
Dou pulo, tiro chapéu,
Pois já não me encontro só!
Assim segue , formando uma grande roda – de ciranda - com o
público presente.
BRASIL: É BOM NOS REVER.
1 Tambores e Maracás
Marcam no pé a sonora
Chegança, povo, simbora!
Ritmo da hora se faz
Em pé de verso que traz
No compasso, a cadência;
Na rima já te ciência.
Olha a Caixa do Divino:
Pela mão de um menino,
É toque de consciência.
2 Se o primeiro toque é dado,
Passa a deixa pro segundo;
Toca o terceiro e o mundo
Já escuta um redobrado,
Que toca o mundo mudado,
Pra melhor nosso cenário
Navegar no imaginário
Das águas, bem onde a história,
Nos remansos da memória,
Corre em liso itinerário.
3 No Olho D’áua Nascente,
No cocuruto da Serra,
Água de beber que berra
Feito cabrito velente,
Pelas barbas do poente,
Desce pra boca do povo,
Que já tá de pote novo,
Colhendo água da fonte.
Correndo estreito horizonte,
Mundo das águas é um ovo!
4 Brasil, brasa, bronze, breu...
Brasil, brejo, beira e borda,
Brasil, bamba, bebe, aborda
Um Brasil bambo de seu;
Brasil, berimbau bateu...
Brasil, êh, roda, êh, mandinga!
Brasil de Ciranda, êh, ginga!
Brasil das pernas êh, bambo...
5 Brasil, é bom nos
rever.
Brasil, um tempo, uma data;
Brasil, uma rima exata,
Quando o Brasil quer dizer:
- Brasil, falta-nos
saber
Deste Brasil
do monturo,
Quintal
de reza e futuro.
Brasil,
tua lenda reza
Nosso
passado que pesa
Um ponto
cego no escuro.
6 Brasil do “ Ah, lá!
Terra à vista!”
Missa rezada em Primeira
lição tomada na esteira
Brasil da Selva, onda a mista
Gente é à venda e conquista.
Brasil, tua biografia
Temperada na agonia.
Em língua de toma lá
dá cá; na meta em que está,
Só te salva a poesia.
7 Brasil, onde a brasileira...
Gente ainda não acabada
De nascer, já tá passada
A limpo, a sujo e à beira
Da Estrada Boiadeira,
De oculto mau elemento:
Culto de fuás ao Vento.
Eita, Brasil, teu juízo,
Se reinventar é preciso,
Na Arte do Fazimento.
8 Brasil de foice e martelo,
De rios virando morro,
Quilombola, preto forro,
De branco, olho amarelo
De fome, farto farelo.
Basil de faca norturna,
De peixeirada diurna.
Compadre, um olho na Missa,
Outro fechado em cobiça
De padre, em Boca de Furna.
9 Brasil começando a ler
Páginas do Romançal;
Brasil, de Zero a Cabral;
Carnaval, Brasil de ser
Tão índio, sertão de ter
Beleza, um imaginário
Profundo, onde o rosário
Corre conta e o futebol
Brinca de Brasil ao sol,
Sem Cartola hereditário.
Edmilson
Santini
Edmilson
Santini, nascido em Águas Belas-PE; é ator, educador, também escritor
e cordelista: Conta, canta, encena, no Teatro Em Cordel, histórias de sua
autoria. Entre seus trabalhos para encenação, destacam-se A CHEGANÇA DO
ALMIRANTE NEGRO NA PEQUENA ÁFRICA: Teatro de Rua pela Cia. de Mysterios e
Novidades (ganhador dos Prêmios Myriam Muniz, FATE, PETROBRAS, etc.); O
CASAMENTO DA FILHA DE MAPINGUARI, pelo Grupo Experimental Vivarte, do Acre;
assim como a CHAP- Cia Horizontal de Arte Pública – RJ. Atuou, por nove anos,
como dinamizador (Oficina de Cordel) no projeto SEGUNDO TURNO CULTURAL, da Secretaria
de Cultura da Cidade do Rio de janeiro. DE MACHADO A GONZAGÃO: UMA VIAGEM EM
CORDEL é um trabalho que segue tocando, juntamente com a Oficina de Contação e
Criação De Histórias Em Cordel. Apresentou, por muito tempo, seu trabalho –
unindo apresentações e Oficina de Palavra Rimada - no CONGRESSO BRASILEIRO DE
POESIA - Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul. FAYGA OSTROWER: NAS ASAS DA
OUSADIA, desenvolvido em homenagem ao Centenário de Fayga Ostrower, a Dama de
Xilogravura brasileira no Século 20. Enfim: ROGACIANO LEITE: CARNE E ALMA DE
POETA, nos 50 ANOS DO MOVIMENTO ARMORIAL, realizado pelo Centro de Artes da UFF-Niterói.
Segundo lugar no Prêmio Nísia Floresta De Literatura-210 Anos.
Mais informações podem obtidas tanto no Facebook: Edmilson
Santini Santini, como no Youtube: Edmilson Santini; Instagram: Edmilsonsantinisantini;
assim com na página da Cia Teatro Em Cordel.
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