Amanhã meu corpo dói
se não é de danças e de
bênçãos
que eu o cubro
Amanhã as ondas devolvem
o que sem sentir com o
dentro
eu mergulhei
Amanhã o coração regurgita
onde eu pisei
sem caber todo
o meu ser
vigésima quarta
na terceira vez que te vi
não entendi
o que eu estava fazendo
ali
fiquei sem intenção
pousando o peso
dos meus ombros
nas suas mãos
na sexta vez que te vi
eu quis fugir
quis abrir a porta
para você sair
não queria que você
chegasse muito perto
e deixasse o peso da sua
perna
encontrando encaixe
no arco do meu
quadril
na décima oitava vez que
te vi
me abri
para os seus oceanos
extravasarem
em minha carne
sedenta
absorvi a voracidade
da sua vontade
antiga
na vigésima quarta vez que
te vi
rompi os mundos e
entendi
tenho falado com paredes brancas
gastado meus gritos em
inabaláveis alvuras
tenho sangrado em telas
sem acolhida
que vertem meu sangue em
borras de café
esmaecidas
sou uma artéria aberta
pulsando
em corações cegos
indiferentes a abalos
sísmicos
muros fundidos em ferros e
ferrugens
impermeáveis às fortes
ondas
protegidos dos
desmoronamentos
no doloroso silêncio de
suas
velhas âncoras
CLARA BACCARIN
Clara
Baccarin é poeta do interior paulista. Formada em
Letras e mestre em Estudos Literários pela Unesp, publicou três livros: o
romance Castelos
Tropicais (Editora Chiado),
a coletânea de poemas Instruções para Lavar a Alma (publicação
independente), e o de crônicas Vibração e Descompasso (Editora
Laranja Original). É colunista dos sites Conti Outra e A soma de
todos os afetos e tem poemas publicados em diversas revistas
literárias no Brasil e em Portugal. Seu livro Instruções para Lavar a Alma recebeu o prêmio Guarulhos de Literatura 2017. Vísceras é
seu segundo livro de poemas contemplado com o edital de poesia do ProaC.
Fonte:
https://www.poesiaprimata.com/clara-baccarin/clara-baccarin-visceras-2019/
Artur Gomes
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