REINTEGRAÇÃO DE POSSE
(Comunidade
do Cimento)
24/03/2019
Sons
de helicópteros,
o
crepitar do fogo,
Repetitivos
sons.
Cansou-se
a poesia
desses
ruídos.
Circula
um
vento de eternidades
varrendo
ruas
e vielas.
A
chuva vem lavar
as
marcas no chão,
como
se não houvesse,
já,
chovido
demasiado
gelando
corações.
Há
distância de olhares,
ausência
de palavras,
braços
cruzados,
mãos
fechadas.
Como
há de lidar
o
meu poema
com
tal indiferença?
Entre
ruídos
de
helicópteros
e
sirenes
morre-se
um pouco
a
cada dia.
E
os sonhos ardem
na
noite em chamas.
Ontem
colhiam
risos
inocentes,
hoje,
guardam,
tão
somente,
cinzas
e silêncio.
SOMOS PÁSSAROS
publicado no livro
Espantologia Marielle
em nossas vozes)
Doeu
a quarta-feira,
noite
de pesadelos.
Nossos
corações estancaram
perplexos,
despedaçados.
Nossos
olhos,
silêncio
avermelhado:
vermelho
mágoa,
vermelho
medo,
vermelho
dor,
vermelho
vergonha.
Vermelho
chagas no corpo,
projéteis
na alma,
territórios
de algemas,
violência.
Disparos
diários
arrebatando
jovens,
crianças,
homens
e mulheres.
E
naquele dia,
mirando
seu corpo,
t
i
r
o
s
como
raios,
balas
certeiras
dilacerando a carne.
Para
matar sonhos,
roubaram
sua voz
sob
uma chuva de balas.
Sangue
derramado na terra
aonde,
diariamente, tombam
os
nossos mortos.
Amanhecemos
feridos,
grito
trancado nas gargantas.
Porém
sua imagem
se
agiganta
ante
nossos olhos.
Nada
deterá seus passos,
seguiremos
o seu rastro.
Unidos,
rompemos o silêncio,
levantamos
os nossos punhos
em
ruas e avenidas.
Sua
voz em nossos ouvidos
nos
pede que sonhemos.
E
do silêncio
imposto
às suas palavras,
do
nosso luto,
como
um disparo
mais
veloz que aqueles tiros,
sobre
seu sangue,
reinventaremos
a luta.
E
você semente
e
nós pássaros.
É HORA DE PREENCHER OS VAZIOS
(altos
índices de mortalidade na Brasilândia, em tempos de Covid)
07/2020
Saímos em
caminhada,
Esta linda
manhã de céu azul
contrasta
com a nossa história
forjada a
lágrimas e a suor.
Seguimos
nós,
Solidários,
ofertamos
nossa voz,
nossas mãos
suadas,
nossos
braços estendidos,
nossos pés
cansados.
Seguimos,
imergidos em
nosso luto,
mergulhados
em nossa dor.
Não podemos
fingir
que tudo
está bem.
Nossas vozes
denunciam
desde sempre
o desprezo
das autoridades,
a escuridão
do dia de amanhã.
A incerteza
abre em nós
feridas
profundas.
Indignados
gritamos:
nossas vidas
importam!
A periferia
resiste!
Lutamos para
barrar o abandono.
Nos
levantamos
para impedir
que o silêncio
das
autoridades
nos corte
fundo a alma
e tire de
nós
o que de
mais sagrado temos:
Nossas
vidas.
Hoje, em
nosso país,
o medo
recria abismos,
amplia ainda
mais as desigualdades.
A vida
colide com a morte!
É hora de
proteger a vida.
É hora de
preencher os vazios
de nosso
ser.
É hora de
gerar novas maneiras de viver.
Lutamos pela
vida
e a queremos
plena.
O sol ainda
brilha no céu.
Enquanto
houver vida, resistiremos.
Depois não
haverá
tempo para o
talvez.
Efêmero é o
tempo.
A hora é
agora.
DE ENCONTROS E DESPEDIDAS
Não
te assustes com a noite,
que
se faz em minh’ alma.
Não
te assustes com o brilho,
do
olhar, apagado.
Não
te assustes com o silêncio
dos
lábios, calados.
É
a hora das lembranças,
para
que não desapareça
a
vida que sempre foi...
E
quando meu olhar no teu
lembrar
teus lábios sobre
os
meus lábios;
E
lembrar teus dedos entre
os
meus dedos, emaranhados,
sintas
o vento sussurando
em
teus ouvidos
palavras
do meu amor.
E
escrevas teus versos.
Mas
quando novamente
me
chamares...
Como
onda do mar
a
revolver a areia,
como
o vento
que
não tem morada,
beijes
minha memória.
E
que um pássaro venha
te
contar num canto,
num
sussurro,
que
já não sou
e
me leva o vento
e
te levo em sonhos,
amor
meu
para
sempre.
ESSÊNCIA
Se
céu
dividiria
estrelas.
Sou
chão
partilho
sombras
sob
o sol.
Lavo
a alma
em
sonhos
tons
e
cores.
E
dura o dia
e
longa a noite.
Mansa
garoa
sobre
a terra.
Orvalho
acarinhando
pétalas,
rebeladas
ardem.
Fogo
em
chamas
a
tocar o infinito,
aí
sou céu
e
livre,
e
divido
estrelas,
sendo
chão
e sombras.
revolucionário
Botou os olhos
no futuro
e nunca mais
pode aceitar
este
presente.
liberdade,
SONHO E POESIA
Há vozes que se calam
na contramão da vida
no quarto vazio
nos anseios esquecidos.
Há silêncio no olhar
perdido
nos pensamentos feridos
nos corações amargos
nas mãos recolhidas.
Há ignorância em excesso
na prisão perpétua
do conhecimento furtado
da memória negada.
Há violência roubando a
vida
disparando o medo
manchando a terra
de sangue e de vergonha.
Há apelo e angústia
no peito rompido pela dor
no olhar indecifrável
da miséria e da fome.
Há ódio jorrando
das frases silenciadas
nas palavras cansadas
nas prisões do egoísmo.
Há maldade sobrando
no vazio da alma
nas armadilhas da noite
nas sombras do dia.
Há sonhos abandonados
na terra adormecida
nas manhãs proibidas
no futuro retido.
Mas há sombras que
do fundo do poço retornam.
Há mãos que fazem brotar
do chão
o grão seco que se torna
pão.
Há liberdade nos gritos
que pela cidade ecoam
Há desejos insaciados
convertidos em luta.
Há sonhos forjados
no cerne da alma
sonhos que constroem
e reconstroem o verso.
Há poesia vertendo
do canto daqueles
que arrombam a porta da
alma
e em todos os homens
semeiam
a esperança.
Sonia Bischain
Natural de São Paulo/SP, Sonia R. Bischain mora na Vila Penteado, distrito de
Brasilândia, periferia da capital. É escritora (romancista, contista, poeta),
fotógrafa e design. Fez diagramação, capa/fotografia/ilustração de seus livros
e de outros publicados por coletivos e saraus da periferia de SP. Participou em
várias exposições fotográficas individuais e coletivas em casas de cultura,
bibliotecas e saraus de SP. Fez parte de eventos literários no Brasil, França,
Cuba, Paraguai, Chile e Argentina. É uma das organizadoras do 'Sarau da Brasa', que acontece desde 2008, com um trabalho
voltado para a literatura em bibliotecas e escolas públicas da região do
Distrito de Brasilândia.
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