O POEMA DAS ANGÚSTIAS
Tudo é possível quando os sentidos
são tão finos
que se pode desenhar com um espinho
o poema das angústias
até que se diga
: haja luz!
e a luz se faça tão límpida e clara
que nada reste de maldito ou inútil
dos humanos sobre a Terra
e sejamos outros, diversos,
refeitos não da lama
mas do lótus
em nossas mãos nunca mais as armas
em nossos corpos unicamente as almas
[moradoras provisórias de uma casa
sem demora]
Tudo será etéreo quando - por fim -
os véus se desfizerem?
Outra vez a Voz será ouvida?
no silêncio da palavra muda
mundana
sobraremos assim vazios
dissolvidos entre os contornos
contínuos do tempo?
E o poema das angústias... restará
desfeito
pelo mesmo espinho que sangrou teu
peito?
[o que será da alma depois que do
corpo - da casa sem demora - não sobre nem mais a sombra?]
Nic Cardeal
28.04.2022
hipótese de abril
[sil guimarães]
exatamente por que é dezembro
chove não chove esquenta esfria
não tem fim este mês apócrifo
como aquela tardinha errada
que fingia ser de uma sexta-feira
e era — sem dúvida — de segunda
não tem fim este espelho onde
mais uma ruga nos sobre/assalta
aos poucos somos o contrário de nós
enquanto os dias teimam & voltam
não tem fim esta espera pela festa
o bolo os balões os vivas os votos
tudo eclesiasticamente enfadonho
que nos estraçalha nesta data querida
antropofágico
por traz dessa palavra
tem desejo
Dandara sempre me dizia
quando interpretava Adele
a personagem erótica
dos Retalhos Imortais do SerAfim
com os nervos comendo a própria pele
e não era Jura Secreta
era cena do Além da Mesa Posta
um banquete antropofágico
nesse país de bosta
Artur Gomes
https://fulinaimargem.blogspot.com/
Peça de Adriano Moura sobre a morte
de Cícero Guedes, militante do MST, Estreia no dia 05 de Junho, às
19:00, no Teatro Trianon em Campos dos Goytacazes RJ.
Não perca!
A CASA QUE MORA EM MIM
Começo a me despedir de minha casa,
recolho lembranças no chão dos quartos,
gritos de crianças, cheiros, imagens de festas,
o rito do café da tarde, que trouxe comigo
da casa de minha mãe.
Junto sustos e tristezas que restaram no beiral
das janelas, que abrem para o jardim da frente,
encontro, por acaso, planos que se perderam,
memórias descoloridas,
o sonho que não se cumpriu,
no meio da sala ensolarada,
esperando por mim, em vão.
Envelheci.
Levo o que se recusa a ficar,
o amor, os primeiros dentes das crianças,
o hábito de vigiar suas chegadas noturnas,
na rumorosa adolescência,
a alma da minha morada, seu cheiro indefinido,
mas bom. Alecrim?
Deixo o arcabouço de alvenaria, o barulho de chuva
no toldo das janelas, o assobio do vento
na telha francesa.
Uma parte da casa fica, outra parte vai em mim.
toada
assim é se lhe parece
ou mais coisa que o valha
já tirei sangue em navalha
por muito menos que isso
agora disputo a dedo
só pra mostrar o serviço
se for bom não renego
se for mal dou desdobro
ponho na conta do sogro
dou cascudo em menino
sem nenhum desatino
não aceito malogro
logo que o sol levanta
já enchi bem a pança
e me pus a caminho
de encontrar meu destino
até onde a vista alcança
já fui louco e fui criança
herbert emanuel
A caminho do poente vou desconstruindo bezerros de ouro
A caminho do poente
deixo largos sorrisos na moldura,
uma árvore plantada em março de 72,
cadernos de caligrafia, medalhas de
bronze,
o emblema da primeira escola,
minhas calças de tergal,
e todas as migrações
do desejo...
A caminho do poente
deixo pedaços de espelhos quebrados,
um gol perdido no segundo tempo da
partida,
cartões postais, o apito da fábrica,
a vela da primeira comunhão,
minha boina vermelha,
e todos os translados
da paixão...
A caminho do poente
deixo um prego fincado na parede
branca,
viagens de trem para um subúrbio de
Caxias,
a boemia dos versos, a vida dura na
capital,
a lembrança do primeiro porre,
minhas sandálias franciscanas,
e todas as vicissitudes
do amor...
A caminho do poente
vou derretendo os desejos,
as paixões e os amores embrutecidos,
enquanto miro nas nuvens à minha
esquerda
as cores raras de um fim de tarde,
e o sol que encobre
tudo...
A caminho do poente
vou desarmando as ilusões,
desconstruindo os bezerros de ouro,
despindo as esperanças,
desfazendo os sonhos,
as utopias...
A caminho do poente
vou me desintegrando,
vou me despedindo,
vou me deixando...
Joilson Bessa.
Alphaville, últimos dias de abril de
2022.
Poema da inesquecível mulher
mal caibo em mim, sem ti
no que importa
Sou trava de uma casa redigida
no vão da tua mão subtraída
Romério Rômulo
imagem: Pablo Picasso
Mundo Da Lua
verão de mil novecentos e setenta e
quatro
dois olhos de mar passeavam sob a luz
da lua
Angélica catava estrelas na areia
logo depois da meia noite o galo
cantou
o peixe pulou nas águas da sereia
encantado com a voz que vinha
mergulhei no bosque e sangrei
a pele das solas dos sapatos
não demorou o ato do amor enquanto
que até hoje o gosto da língua trago
como um pircieng cravado
nos dentes da memória
Artur Fulinaíma
Suor & Cio
trago ainda bem guardado
tudo o que ainda não escrevi
juras secretas
versos alados
beijos não roubados
segundos minutos
poemas não falados
nessas horas que não vivi
Federico Baudelaire
www.personasarturianas.blogspot.com
CONVITE
Aproveitamos também para convidar você a conhecer a UNIASSELVI
nossa futura parceira nessa grande jornada.
https://blog.uniasselvi.com.br/
São
Francisco do Itabapoana-RJ – 27 de Abril de 2022
Luiz Cesar
- Sorriso – Ong Beija Flor – Casa da Solidariedade
Fulinaíma MultiProjetos
https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/
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