terça-feira, 5 de abril de 2022

Coletânea Poetas Vivos


PRONTO

 

já fui novo

novíssimo em folha

energia + coragem

não me cabiam

dinheiro não me sobrava

mulheres me cobriam de chamas

 

tudo passou na

fumaça de um cigarro

tudo passa

tudo se finda no canto desesperado das cigarras

 

Luís Turiba


Lembranças poéticas:

 DEGUSTAÇÃO

 

A lápis e faca

eu afiei minha língua

para saborear silêncios.

Assim

- quase muda -

brindaram-me com poesia

de sobremesa.

 

Nic Cardeal

02.04.2018 (* poema integrante do livro 'Sede de céu', Editora Penalux, 2019, pg. 110)

*🖌🖍📸Ilustração da minha irmã Márcia Cardeal:



Mulher Longeva


Quando nasceu menina
O pai disse: "que pena".
Cresceu apesar disso,
Uma criança morena.

Conseguiu completar
O quarto ano do grupo.
Ajudava na casa.
E se acabou o estudo.

Casou jovem e virgem.
Não lhe valeu de nada.
Fez docinhos caseiros,
O marido a espancava.

Também fez seus 3 filhos.
Para não fazer mais
Aceitou coito oral,
Aceitou coito anal,
Aceitou coito anual.

Hoje, aos setenta anos,
Faz fila em hospitais,
Recebe uma pensão
De cem reais mensais.

E está aí, sobrevivente,
Incomodando o Presidente.

 

[Renata Pallottini]

[ imagem mira nedyalkova ] 

Raptado da time line de Adelaide do Julinho no facebook

 


Não esquecer Brumadinho: três anos hoje.


ophelia

[sil guimarães]

 

plantas flores pasto poste pássaros

peixes árvore poste montanha vacas

poste grama prado árvore escarpas

barro barro barro barro barro bosta

estrelas palmeira lua pedra poste

telhados sol borbulho lanterna

rocha poste redemunho garrafa

poste sandália boneca moeda

sob a alma a lama sob a lama a alma

o nome na lista dos desaparecidos

enquanto o corpo lacerado respira

enquanto o coração exposto insiste

plantas flores pasto poste pássaros

peixes árvore poste montanha vacas

barro barro barro barro barro bosta

e a sede a sede a sede a sede de

 

[sil guimarães]  

[ imagem douglas magno ]




 AS CALÇAS ALADAS

Para Cazuza

Carrego a navalha no bolso
e o bolso está sempre mais leve –
sair às ruas
a cada vez rasga-me a pele

Sustento-me nesta corda
esticada sobre a sarjeta
Não estou à espera dos ossos
porém tudo que pego
me corta: mesmo o pão nosso
é uma faca furando as artérias

Paguei por vinhos com sangue
e a carne com os olhos da cara
Tenho agora as calças aladas:
restam-me este canto pobre
e esta cerveja barata

Nos dias de hoje viver
é uma hemorragia –

apenas o ar, tão sujo
é respirável ainda

 

Bernardo Caldeira



Cortejo (lançamento)

Quarta-feira
06 de Abril
20 h
Ponto Bar e Piadina

O Cortejo fez parte dos ritos de lançamento do livro 18 Versos para o funeral de Demétrio Panarotto, Editora Papel do Mato. Foi realizado cinco dias após o segundo turno das eleições de 2018, data que marca a chegada ao poder no Brasil de mais um escravocrata (desde sempre assumido) e à serviço das elites e da mídia brasileira. Sem muita precisão de horário, o Cortejo teve início depois das 23h do dia 01 de novembro e percorreu as principais ruas do centro de Florianópolis avançando o dia 02. Os símbolos de vida e morte, presentes no livro e nas movimentações, são sempre percurso.

Agradecimentos: Marcio Fontoura, Sarah Mota, Kaiser Nahas, Denilson Machado, Marcelo Labes, João Lobo, Telma Sherer, Jakson Dartanhan Chiappa, Patricia Costa, Thayllen Couto, Arlyse Ditter, André Arieta, Fongic, Isabela Melim Borges, Alckmar Luiz Dos Santos, Pati Peccin, Aleph Ozuas, Fábio Brüggemann.

Agradecimento mais do que especial ao Tralharia Antiguidades, café e bar (Luiz Henrique Cudo, Guto Lima e Renata Domingues), espaço que sempre abraçou as movimentações artísticas e a cidade.

direção: Demétrio Panarotto
assistente de direção: Thayllen Couto
câmeras: Kaiser Nahas e João Lobo.
montagem: Vitor Carvalho


Eu, que, na procissão, tenho lugar de sota-voga no andor de São Cornélio e faço parte da ala dos compositores do Quem não é, Vai ser!, em verdade, em verdade, vos digo que o nosso dia é todo dia. Daí, em homenagem aos logrados, que não são poucos, publico esse martelo que compus no tempo em que eu ainda era aprendiz de cantador mas já um corno com pós-graduação e doutorado.

 

Das que soube e contei são vinte e sete

Traições em dez anos de casado

Deveria estar acostumado

Mas duvido que um dia se aquiete

Esse meu coração quando promete

Ser fiel se eu lhe der novo perdão.

Nos preceitos de bardo e de cabrão,

Dramatizo e versejo meu queixume:

Dorme junto aos seus pés o meu ciúme

Enjeitado e faminto como um cão.

 

Winston Rangel




 Em 4 peles, 4 burcas, 4 redes


São 4 as paredes que me cercam

em 4 peles, 4 burcas, 4 redes

São cacos e engrenagens que me apertam

todas atadas pelas minhas sedes

Estradas e tensões que me alertam

no rumo inexato das paredes.

 

Romério Rômulo



Que tênue fio é esse,

nosso relógio

sem ponteiros,

lua frágil que carregamos

entre as mãos e que escapa,

foge e volta,

que tênue rio é esse,

que nos carrega

em seu canto,

em seus caminhos

e descaminhos,

e deixa suas águas

em nossas águas,

a vida, preciosa,

às vezes nos afoga.

 

Roseana Murray

Pintura de Edineusa Bezerril

 



10 poemas de um andarilho na própria casa

Feitos durante a pandemia, eles não são canções desesperadas. Veem sim, o horror e as (inúmeras) pedras no caminho para a vida, mas também as miudezas, a beleza de criar e o porvir do mundo: soberbo o muro/ não suportava/ o braço da raiz

Os poemas abaixo fazem parte de brevETERNO, novo livro de Hamilton Faria, com 117 poemas escritos durante a pandemia.

I

escrever poemas
é fazer testamentos
morremos de viver

II

talhar o poema
sem fender a pedra
nem perder a gema

III

de tudo me alimento
do ácido vinho
do suave alento
vezes tento
outra aprendo
ali o extremo veio
onde se esconde
o inteiro e meio

IV

soberbo o muro
não suportava 
o braço da raiz

V

antigo de caminhos
andarilho perdido
segue a beleza

VI

da minha janela
o mundo é plano
redonda é a luz
que se derrama

VII

tudo sumiu
o menino
apagou o giz
na chuva

VIII

dia perguntamos
o porquê das mortes
dia acreditamos
tudo que nos resta

IX

daquela pedra eu sabia
mostrava caminhos
que impedia

X

olho no olho
do espelho
para me ver feliz
vejo um outro meu
mais feliz que eu

 fonte: https://outraspalavras.net/poeticas/10-poemas-de-um-andarilho-na-propria-casa/?fbclid=IwAR1WLurti3GlmlHY_xBgW41Y9aJvREU4776E_g5CpAQyhisu3KNH99kbuLA




Oficina Fotografia e Produção Cine Vídeo

 Direção: Artur Gomes – Dias: Sábados das 15 às 17h – Previsão para iniciar em junho –

 Inscrições na Ong Beija Flor – Casa da Solidariedade – Rua Ari Parreira, 26 – Barra Velha – Gargaú – São Francisco do Itabapoana-RJ – 281230-000

 e continua a campanha para doações de livros para a Biblioteca Bracutaia que será inaugurada dia 1º de Maio.

 Clic no link para ver ovídeo

https://www.youtube.com/watch?v=vJ4I_oM1U3A&t=151s





Mostra Cine Curtas

 Cinema Ambiental

 Incrições: de 5 de abril a 31 de maio

Veja regulamento e Ficha de Inscrição

No blog www.centrodeartefulinaima.blogspot.com




Jura Secreta 96

 

só me queira assim caçado

mestiço vadio latino

leão feroz cão danado

perturbando o teu destino

 

só me queira enfeitiçado

veloz macio felino

em pelo nu depravado

em tua cama sol à pino

 

só me queira encapetado

profanando aqueles hinos

malandro moleque safado

depravando os teus meninos

 

só me queria desalmado

cão algoz e assassino

duplamente descarado

quando escrevo e não assino

 

Artur Gomes

Juras Secretas – Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com





Fulinaima MultiProjetos

www.fulinaimamultiprojetos.blogspot.com

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