PRONTO
já fui novo
novíssimo em folha
energia + coragem
não me cabiam
dinheiro não me sobrava
mulheres me cobriam de chamas
tudo passou na
fumaça de um cigarro
tudo passa
tudo se finda no canto desesperado das cigarras
Luís
Turiba
Lembranças poéticas:
A lápis e faca
eu afiei minha língua
para saborear silêncios.
Assim
- quase muda -
brindaram-me com poesia
de sobremesa.
Nic Cardeal
02.04.2018 (* poema integrante do
livro 'Sede de céu', Editora Penalux, 2019, pg. 110)
Ilustração da minha irmã Márcia Cardeal:
Mulher Longeva
Quando nasceu menina
O pai disse: "que pena".
Cresceu apesar disso,
Uma criança morena.
Conseguiu completar
O quarto ano do grupo.
Ajudava na casa.
E se acabou o estudo.
Casou jovem e virgem.
Não lhe valeu de nada.
Fez docinhos caseiros,
O marido a espancava.
Também fez seus 3 filhos.
Para não fazer mais
Aceitou coito oral,
Aceitou coito anal,
Aceitou coito anual.
Hoje, aos setenta anos,
Faz fila em hospitais,
Recebe uma pensão
De cem reais mensais.
E está aí, sobrevivente,
Incomodando o Presidente.
[Renata Pallottini]
[ imagem mira nedyalkova ]
Raptado
da time line de Adelaide do Julinho no facebook
ophelia
[sil guimarães]
plantas flores pasto poste pássaros
peixes árvore poste montanha vacas
poste grama prado árvore escarpas
barro barro barro barro barro bosta
estrelas palmeira lua pedra poste
telhados sol borbulho lanterna
rocha poste redemunho garrafa
poste sandália boneca moeda
sob a alma a lama sob a lama a alma
o nome na lista dos desaparecidos
enquanto o corpo lacerado respira
enquanto o coração exposto insiste
plantas flores pasto poste pássaros
peixes árvore poste montanha vacas
barro barro barro barro barro bosta
e a sede a sede a sede a sede de
[sil
guimarães]
[ imagem douglas magno ]
Para Cazuza
Carrego a navalha no bolso
e o bolso está sempre mais leve –
sair às ruas
a cada vez rasga-me a pele
Sustento-me nesta corda
esticada sobre a sarjeta
Não estou à espera dos ossos
porém tudo que pego
me corta: mesmo o pão nosso
é uma faca furando as artérias
Paguei por vinhos com sangue
e a carne com os olhos da cara
Tenho agora as calças aladas:
restam-me este canto pobre
e esta cerveja barata
Nos dias de hoje viver
é uma hemorragia –
apenas o ar, tão sujo
é respirável ainda
Bernardo Caldeira
Quarta-feira
06 de Abril
20 h
Ponto Bar e Piadina
O Cortejo fez parte dos ritos de lançamento do
livro 18 Versos para o funeral de Demétrio
Panarotto, Editora Papel do Mato. Foi realizado cinco dias após o segundo
turno das eleições de 2018, data que marca a chegada ao poder no Brasil de mais
um escravocrata (desde sempre assumido) e à serviço das elites e da mídia
brasileira. Sem muita precisão de horário, o Cortejo teve início depois das 23h
do dia 01 de novembro e percorreu as principais ruas do centro de Florianópolis
avançando o dia 02. Os símbolos de vida e morte, presentes no livro e nas
movimentações, são sempre percurso.
Agradecimentos: Marcio Fontoura, Sarah Mota,
Kaiser Nahas, Denilson Machado, Marcelo Labes, João Lobo, Telma Sherer, Jakson
Dartanhan Chiappa, Patricia Costa, Thayllen Couto, Arlyse Ditter, André Arieta,
Fongic, Isabela Melim Borges, Alckmar Luiz Dos Santos, Pati Peccin, Aleph
Ozuas, Fábio Brüggemann.
Agradecimento mais do que especial ao Tralharia
Antiguidades, café e bar (Luiz Henrique Cudo, Guto Lima e Renata Domingues),
espaço que sempre abraçou as movimentações artísticas e a cidade.
direção: Demétrio
Panarotto
assistente de direção: Thayllen Couto
câmeras: Kaiser Nahas e João Lobo.
montagem: Vitor Carvalho
Eu, que, na procissão, tenho lugar de sota-voga no andor de São Cornélio e faço parte da ala dos compositores do Quem não é, Vai ser!, em verdade, em verdade, vos digo que o nosso dia é todo dia. Daí, em homenagem aos logrados, que não são poucos, publico esse martelo que compus no tempo em que eu ainda era aprendiz de cantador mas já um corno com pós-graduação e doutorado.
Das que soube e contei são vinte e
sete
Traições em dez anos de casado
Deveria estar acostumado
Mas duvido que um dia se aquiete
Esse meu coração quando promete
Ser fiel se eu lhe der novo perdão.
Nos preceitos de bardo e de cabrão,
Dramatizo e versejo meu queixume:
Dorme junto aos seus pés o meu ciúme
Enjeitado e faminto como um cão.
Winston
Rangel
São 4 as paredes que me cercam
em 4 peles, 4 burcas, 4 redes
São cacos e engrenagens que me
apertam
todas atadas pelas minhas sedes
Estradas e tensões que me alertam
no rumo inexato das paredes.
Romério Rômulo
nosso relógio
sem ponteiros,
lua frágil que carregamos
entre as mãos e que escapa,
foge e volta,
que tênue rio é esse,
que nos carrega
em seu canto,
em seus caminhos
e descaminhos,
e deixa suas águas
em nossas águas,
a vida, preciosa,
às vezes nos afoga.
Roseana Murray
Pintura de Edineusa Bezerril
10
poemas de um andarilho na própria casa
Feitos
durante a pandemia, eles não são canções desesperadas. Veem sim, o horror e as (inúmeras) pedras no
caminho para a vida, mas também as miudezas, a beleza de criar e o porvir do
mundo: soberbo o muro/
não suportava/ o braço da raiz
Os poemas abaixo fazem parte de brevETERNO,
novo livro de Hamilton Faria, com
117 poemas escritos durante a pandemia.
I
escrever
poemas
é fazer testamentos
morremos de viver
II
talhar
o poema
sem fender a pedra
nem perder a gema
III
de
tudo me alimento
do ácido vinho
do suave alento
vezes tento
outra aprendo
ali o extremo veio
onde se esconde
o inteiro e meio
IV
soberbo
o muro
não suportava
o braço da raiz
V
antigo
de caminhos
andarilho perdido
segue a beleza
VI
da
minha janela
o mundo é plano
redonda é a luz
que se derrama
VII
tudo
sumiu
o menino
apagou o giz
na chuva
VIII
dia
perguntamos
o porquê das mortes
dia acreditamos
tudo que nos resta
IX
daquela
pedra eu sabia
mostrava caminhos
que impedia
X
olho
no olho
do espelho
para me ver feliz
vejo um outro meu
mais feliz que eu
Oficina Fotografia e Produção Cine Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=vJ4I_oM1U3A&t=151s
Mostra Cine Curtas
Cinema
Ambiental
Veja regulamento e Ficha de Inscrição
No blog www.centrodeartefulinaima.blogspot.com
Jura
Secreta 96
só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o teu destino
só me queira enfeitiçado
veloz macio felino
em pelo nu depravado
em tua cama sol à pino
só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os teus meninos
só me queria desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino
Artur
Gomes
Juras Secretas – Editora Penalux – 2018
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