JOVENS
para continuar-se a crer
que possa seguir-se um só caminho.
é evidente
de superar-se o papel em branco.
Nicanor Parra
Raptado da time line no facebook de
Dudu Galisa
A inveja mata
e faz do invejoso
um réptil
sem corpo
nem alma
apenas um réptil venenoso
querendo com sua inveja
me matar
a mim e ao meu amor à poesia
Fernanda Villas Boas
"Santos ocupados
Implorei a tantos santos,
nem sei qual me socorreu.
Os passos que andei no escuro,
entrando fundo na noite,
amassando muita dor,
que santo viu e virou
contra o escuro luz tão clara
que a noite se amanheceu?
Naquela tarde arranhada
por mil gritos de socorro,
a correria atulhando
as ruas de solidão,
na cara larga do pânico
que santo, que santo veio
e duro nela bateu?
Agora que os pés do medo
avançam sobre meu peito,
esmagam minha alegria,
que santo vê e implora
por mim, encostado em Deus?
Eu pedi a tantos santos...
Estavam muito ocupados
desatando nós do mundo,
curando vastas feridas,
regando no tempo certo
as plantações do meu Deus.
Estavam muito ocupados...
Um deles, porém, deteve-se,
e, oculto, me socorreu!"
Oswaldo de Camargo
Dia de Todos os Santos, 2016
Raptado da time line no facebook de
Lau Siqueira
UM POEMA DE FABÍOLA LACERDA
essa caixa preta,
o que escondo
de mim?
que parte de mim?
a finitude?
mas qual das mortes?
será que choro,
será que grito,
na caixa preta?
o que não me digo?
essa cegueira
esse mutismo
é triste abismo?
a felicidade da vigília é o que
protejo nessa caixa preta?
ou sua fragilidade?
ou sua inesxistência?
acordo à madrugada
suada, chorando
acordo com estrondo
do bater da tampa
da caixa preta
o que escondo
devo (me) manter
na caixa preta?
Fabíola de Lacerda
Raptado
da time line no facebook de Claudio Daniel
ESPERAR
Esperamos o outro,
a primavera, uma oferta, uma doação,
o adequado,
a cura,
o fim do jogo,
o próximo ato,
o prêmio da loteria,
o diagnóstico,
Godot.
Esperar, dizem.
O quê — não importa.
Importa como esperamos:
de pé é a melhor maneira.
Esperar em outra posição
encurta a esperança.
Mário
Baggio
DONA MAURA
Traçam guerra.
Sobre a mesa
Dona Maura faz um bolo.
É quarta-feira
E não existe mais TV.
As bombas caem.
Dona Maura coça as
costas.
Raptado da time line no facebook de Angel Cabeza
Com sua ausência perfumada
De tão noturnos lábios chega,
Passos sem passos que me sorvem
Em sonolenta embriaguez.
Me jogo neste estranho abismo
De sua fria e branca pele.
Seus dentes sorvem minh' ausência
E meu corpo é seu precipício.
Sufoco espelhos em banquete
Do mais ausente e puro branco
E não reflito a sobra deste
Escuro corpo que me veste
Em sua opaca e densa sombra.
Somos o nada do que sou.
Seus dentes sorvem minh' ausência
E meu corpo é seu precipício.
Sua boca sorve o rubro corpo
Que se condensa em minha pele.
Respiro minha sombra opaca
Que cobre os olhos de penhasco
E bebo estranha e rubra dama
Que espalha intensa escuridão.
Seus dentes sorvem minh' ausência
E meu corpo é seu precipício
Daniell TW
RITO DO AMOR MORTO
que fazer das minhas mãos
que não lavram mais o sonho,
não jogam a tarrafa de luz da manhã
sobre os quintais do mundo velho,
não desenham a imagem
do ansiado homem novo
não acreditam mais na revolução
que fazer dos meus olhos,
duas minas d'água,
de onde escorrem minhas melhores memórias
Iluminadas, florais.
por fim, que fazer deste amor morto
que trago no colo pra te devolver,
se não te acho mais.
vou deita-lo num barco azul
e solta-lo no cais
na corrente de mar
que leva às geleiras
solitárias, longínquas,
abrigo de corações tombados,
pra nunca mais
pra nunca mais.
Fernando Leite Fernandes
Abri a mão em palma:
a linha seguia em 'eme'
até virar ao dorso
(nenhum gesto afoito)
- os dedos ficaram perplexos!
Encontrei sulcos atravessados
avisando-me que a vida anda em percalços:
talvez seja aquele passo em falso,
quando o coração escorrega,
cai de cara no asfalto escuro,
arrebentando veias,
sangrando tristezas armazenadas
em sacolas lacradas.
(Esqueci de dizer que houve um rasgo escuso).
Sem agulha
não sei costurar melancolias estrangeiras
- por isso renego o grito,
a palavra maldita -
prefiro engolir silêncios em seco
do que naufragar profundidades sem solução.
- A água na comporta dos olhos jorrou sem medo
pelo desvio padrão costumeiro (e nem era mais tempo de verão).
(Nic
Cardeal, em 05.04.2019)
(
vem de longe
o cheiro de terra molhada
o canto de pássaro escondido
vem de longe
o ruído do trator
o sol na varanda
a lavoura de algodão
vem de longe
o carrinho de rolemã
o pega-pega no quintal
o recreio na escola
vem de longe
o correio elegante nas quermesses
o beijo no banco da praça
vem de longe
o jeito ingênuo
de levar a vida
vem de longe
a vontade louca
de começar tudo outra vez
vem de longe
vem de longe
tão perto da memória
Dinovaldo Gillioli
Pintura: Silvana Oliveira
ESPELHO D’ÁGUA
Como se estivesse apagando
um texto inteiro. Empurrando
letra por letra para o abismo.
Assim percorro a memória
da minha pele.
Deletando uma verdade
imponderável. Segredos
na sede da alma.
Sem algemas.
Teu nome agora
é Poema.
Na força da Ayahuasca.
É de dentro que o solo
irrompe ou se dissolve.
No mais,
a vida é maneira.
Até a Lua mostra-se inteira
e depois vai minguando
nas sombras...
O que demora para partir
nunca volta. O tempo
é agora.
(...)
Hoje aguei as flores.
Flores tristes em terra
de artifícios.
Tanta água.
Vida doce.
Sede absurda.
Lau
Siqueira, poema.
Mariana
Siqueira, ilustração.
Jura secreta 17
meu objeto concreto
é um poema abstrato
impressionista realista
quem sabe neo concretista
poderoso artefato
uma bomba de Hiroshima
uma rosa parafina
ou quem sabe uma menina
que conheci só no retrato
Jura Secreta 31
de Dante a Chico Buarque
todos os poetas
já cantaram suas musas
Beatriz são muitas
Beatriz são quantas
Beatriz são todas
Beatriz são tantas
algumas delas na certa
também já foram cantadas
por este poeta insano e torto
pra lhes trazer o desconforto
do amor quando bandido
Beatriz são nomes
mas este de quem vos falo
não revelo o sobrenome
está no filme sagrado
na pele do acetato
na memória do retrato
Beatriz no último ato
da Divina Comédia Humana
quando deita em minha cama
e come do fruto proibido
Jura Secreta 32
fosse apenas o que já foi dito
escrito falado pensado
não fosse tudo o que já foi maldito
e nada do que nunca foi sagrado
falo em tua boca enquanto em transe
um anjo me ilumina tanto
que mesmo mudo em tua língua canto
como um diabo que subindo aos céus
tentou muito mais de uma vez
quem sabe Gregório ou quem sabe Castro
descendo aos infernos como sempre fez
talvez Camões no corpo de um astro
me lance a infinita chama da pornô Gráfica lucidez
Jura Secreta 33
sampleAndo
o poema pode ser
um beijo em tua boca
carne de maçã em maio
um tiro oculto sob o céu aberto
estrelas de néon em Vênus
refletindo pregos no meu peito em cruz
na Paulista Consolação
na Água Branca Barra Funda
metal de prata desta lua que me inunda
num beijo sujo com uma Estação da Luz
nos vídeos.filmes de TV
eu quero um clipe nos teus seios quentes
uma cilada em tuas coxas japa
como uma flecha em tuas costas índia
ninja gueixa eu quero a rota teu país ou mapa
teu território devastar inteiro
como uma vela ao mar de fevereiro
molhar teu cio e me esquecer na Lapa
Jura secreta 29
esfinge
o amor
não é apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele
cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge:
Clarice/Beatriz:
assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nossos profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo
é que na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente
o nome tem seus mistérios que
se escondem sob panos
o sol é claro quando não chove
o sal é bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve
o mar que vai e vem não tem volta
o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta
onde o poema não tem fim
Artur Gomes
do livro
Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
Oficina Fotografia e Produção Cine Vídeo
Direção: Artur Gomes – Dias: Sábados
das 15 às 17h – Previsão para iniciar em junho - Inscrições na Ong Beija Flor –
Casa da Solidariedade – Rua Ari Parreira, 26 – Barra Velha – Gargaú – São Francisco
do Itabapoana-RJ – 28230-000
e continua a campanha para doações de
livros para a Biblioteca Bracutaia que será inaugurada dia 1º de Maio.
clic no link para ver ovídeo
https://www.youtube.com/watch?v=vJ4I_oM1U3A&t=151s
Fulinaíma MultiProjetos
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