SEMMENTE – Wilson Coêlho
Não cumpro viver pesadelos
Na identidade de outro
Louco
A estabilidade é tão peremptória
Quanto a eternidade
E o rompimento é longo
Como milésimo de segundo
Quando não mais se acredita
Na ordem aberta em leque
De delírios
Onde já não há mais direitos
Também nada se invade
Num mundo de vidas e carnes
Que são feridas alastradas
Num contínuo sangraranseios
A mor a fim idade ex pelho
Am or a fini dade espe lho
Amor r afim n’idade espelhe-o
Amor afinidade espelho
Amora finidódio (des) espelho
Imagem inacaba de monstros
Imaginários
Sem passados de véus
Neste cadafalso obsceno
De sacrifícios duros
De se aturar na lâmina
Fria de cortar cabeças
Ideias
O ventre que acolhe
É o mesmo que expulsa
Confundido conteútero
De formas disformes
(es) premeditadas
Hemossuando ardores quentes
No contínuo congelar das cenas
Improvisadas
Uá tiss non cem ço
Cor ramea gora
To ummm ão votela
Sonte mor shiva
Trui são dess
Tar ã tu laaa
Wilson Coêlho
Ilustração: foto de de cena do filme
"Je vou salue Marie", de Jean-Luc Godard.
Incêndio
Eu
fervo porque ela dança
como chama de fogo ao vento
dentro
de mim moram
pelo
menos 13
querubins
em movimento
Artur Fulinaíma
www.arturfulinaima.blogspot.com
nós, da mallarmargens revista de poesia & arte contemporânea, lamentamos profundamente a partida precoce do escritor e editor Rodrigo Novaes de Almeida, e voltamos nossos sentimentos mais profundos e nossa solidariedade à sua companheira de vida, de edição e de literatura, Christiane Angelotti, e a sua filha Amanda.
Rodrigo marcou o nosso campo como coeditor da
significativa Revista Gueto, nossa irmã nos caminhos da poesia e da literatura,
e como escritor, deixando uma obra cuja marca pessoal assinala e retrata o
nosso tempo de modo original e profundo.
fica, aqui, a nossa homenagem a esse companheiro
de estrada, que irá fazer muita falta para tanta gente, mas que também, com sua
passagem pelo planeta, deixa sementes que vão florescer, alimento e exemplo
para todos.
Rodrigo Novaes de Almeida escreveu os livros
"Carnebruta" (Contos, Editora Apicuri e Editora Oito e Meio, 2012),
"Das pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros
contos" (Editora Patuá, 2018), finalista do 61º Prêmio Jabuti na categoria
Contos, em 2019, "A clareira e a cidade" (Poesia, Editora Urutau,
2020), "Do amor e de outras tristezas" (Contos, Editora Urutau, 2021)
e "Os gatos: Quinze histórias extraordinárias ou ordinárias", de
contos, publicado recentemente pela Patuá.
Nuno Rau
Dê Livros Dê Lírios Dê Beijos
podia ser bailarina como ele pensou quando me avistou pelo retrovisor no portão da minha casa com meu vestido branco e um girassol no joelho poema de carne sangue esperma espuma branca na areia e uma língua de sal em minha espera espreita com sua lâmina d´água a renda bordada sob a pele dos meus tecidos fosse apenas uma lenda exposta nos paralelepípedos da calçada em minha cidade serra desse mar distante onde não sei o que deseja esses olhos de fogo que me fervem quando vejo
Rúbia Querubim
www.coletivomacunaimadecultura.blogspot.com
AQUI JAZ - Antonin Artaud
(tradução de Wilson Coêlho)
Traduzir
esse texto Ci-Gît; com seu sentido não-sentido é como tentar subir numa
montanha abrupta. Há de conhecer muito bem toda a obra de Artaud. E Wilson
Coêlho, através do teatro e da instauração do discurso artaudiano na FM
Universitária (peças "Antonin Artaud - Atos de Crueldade" e
"Para acabar com o julgamento de deus", essa última, também realizada
como programa radiofônico). Assim, Wilson Coêlho é o mais indicado, com sua
experiência desse teatro vivo, já que o palco não é só a recitação de um texto
literário, mas um crisol, onde vai acontecer a transmutação do próprio corpo.
Artaud quer que o espectador ganhe algo - corporalmente - e não só
culturalmente. Mas seria um erro assimilar o teatro de Artaud ao psicodrama,
simplesmente porque ele considera a psicologia como uma forma podre,
decadente do espírito e do corpo.
Gilbert Chaudanne -
pintor, crítico e escritor francês radicado em Vitória.
Adquira o seu exemplar por R$ 30,00 + R$9,00
(frete) = R$ 39,00
PIX Wilson Coêlho Pinto
CPF 562.016.306-78
cada vez mais um claro enigma paira sobre essa palavra de ordem templo onde não sabemos mais quem está ali e para quê? nem podemos decifrar precisamente o que leva debaixo do braço quando aponta os dedos para o céu
Artur Gomes Fulinaíma
www.personasarturianas.blogspot.com
fuga e urgências - [alpharrabio edições],
de Dalila Teles Veras
O espelho
Sim, lembro daquela parede
na nossa cidade destruída.
Projetava-se quase até o sexto andar.
No quarto havia um espelho,
um espelho inacreditável,
não quebrado, fixo com firmeza.
Já não refletia a face de ninguém,
a mão de ninguém ajeitando o cabelo,
nenhuma porta defronte,
nada que se possa chamar de
lugar.
Era como nas férias -
via-se refletido nele o céu vivo,
as nuvens agitadas no ar feroz,
o pó do entulho lavado por chuvas reluzentes,
voos de pássaros, estrelas, alvoradas.
E como cada objeto bem-feito
funcionava impecavelmente,
com uma profissional falta de assombro.
Wislawa Szymborska
Raptado da time line no facebook de Dudu Galisa
PEQUENO PASSEIO
Pela manhã
penteia os
cabelos
Faz orações
refeições
Lembra da pátria
da mãe
Depois
amarra na cintura a única
possibilidade
e vai
EUNICE ARRUDA
Do Livro Tempo Comum - Ed.
Pantemporâneo - 2016
Incluso em " Visível ao
Destino" - Obra Completa- @editorapatua
Poema do livro " Fragmentos de uma canção impossível " | arrudA | Editora Patuá #proac | 2019/20
a gente se gastou
em todos os becos da vida
não voltamos mais
para as vitrines
das esquinas de comércio
porque fantasias
já não interessam
couro usado resistindo
pele que não se fabrica mais
a gente sabe…
em algum canto de mato
num bar de porão
tocando um blues
continuamente no dia
do ensaio
as portas da rua se abrem
apenas quando fortuitamente
alguém nos descobre os segredos
pelas janelas de nossos cabelos
brancos
Clara Baccarin
CUMPLICIDADE VOLUNTÁRIA
Há um oceano de esperanças
morando neste meu
- atual e provisório -
endereço de alma.
Minha residência não é fixa.
A temporalidade me denuncia.
Sou cúmplice declarada
da transitoriedade desta vida.
A lei da gravidade tem sido grave.
Dai sopro ao que é do corpo.
Dai calma ao que é da alma.
Procuro por uma certa
generosidade oceânica
- em dimensões estelares -
no que (me) compete à matéria.
Não faz diferença:
com o passar dos anos
o dano é sempre certo.
Matemática de resultados.
Há um infinito muito específico
residindo bem aqui
neste meu momento único.
A lei de Lavoisier tem sido certa:
a transformação sempre acontece.
Dai sonho aos meus receios.
Dai visão aos meus anseios.
E que a minha ilusão seja leve.
Mais tarde, por certo,
o despertar fará de mim
um infinito a contento,
refeito de horizontes longínquos
onde pousam eternas - e etéreas -
as asas (de anjos)
de todos os meus desejos.
(Nic
Cardeal, 13/04/2016 - poema do livro 'Sede de céu', Penalux/2019 - imagem
do Pinterest)
Funeral Blues
[W.H. Auden]
Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.
Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.
[ Trad. Nelson
Ascher | Imagem Guy Bourdin ]
Raptado da time line no favcebook de Adelaide do Julinho
metáfora
Artur Gomes
Do livro Pátria A(r)mada
Editora Desconcertos – 2019
Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020
Segunda edição revisada e ampliada prevista para o segundo semestre de 2022
Artur
Gomes é poeta do corpo e da alma. Do corpo, pois as sensibilidades
da pele estão devidamente traduzidas na extensão da sua obra. Também da alma,
pois extrai das invisibilidades a força de um viver que resiste e insiste nas
guerrilhas poéticas do cotidiano. Uma voz que ecoa Brasil afora, seja dizendo
seus versos, lançando seus livros ou fazendo da poesia um espetáculo
audiovisual.
Escreve e recita com grande
expressividade. Produz e arrasta para a ribalta a poesia necessária. Versos que berram diante do espelho os
silêncios que traduzem sua vitalidade poética. Artur publicou livros e se
destaca por extrair da palavra escrita a oralidade necessária. Assim, se
apresenta agora com mais uma obra para dizer que só o que transborda naturalmente,
permanece e se reproduz.
Lau Siqueira
Texto para orelha da segunda edição do livro
Pátria A(r)mada
Fulinaíma MultiProjetos
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