quinta-feira, 14 de abril de 2022

Coletânea Poetas Vivos

 

SEMMENTE – Wilson Coêlho

 

Não cumpro viver pesadelos

Na identidade de outro

Louco

 

A estabilidade é tão peremptória

Quanto a eternidade

E o rompimento é longo

Como milésimo de segundo

Quando não mais se acredita

Na ordem aberta em leque

De delírios

 

Onde já não há mais direitos

Também nada se invade

Num mundo de vidas e carnes

Que são feridas alastradas

Num contínuo sangraranseios

 

A mor a fim idade ex pelho

Am or a fini dade espe lho

Amor r afim n’idade espelhe-o

Amor afinidade espelho

Amora finidódio (des) espelho

 

Imagem inacaba de monstros

Imaginários

Sem passados de véus

Neste cadafalso obsceno

De sacrifícios duros

De se aturar na lâmina

Fria de cortar cabeças

Ideias

 

O ventre que acolhe

É o mesmo que expulsa

Confundido conteútero

De formas disformes

(es) premeditadas

Hemossuando ardores quentes

No contínuo congelar das cenas

Improvisadas

 

Uá tiss non cem ço

Cor ramea gora

To ummm ão votela

Sonte mor shiva

Trui são dess

Tar ã tu laaa

 

Wilson Coêlho

 

Ilustração: foto de de cena do filme "Je vou salue Marie", de Jean-Luc Godard.




Incêndio 

 

Eu fervo porque ela dança

 como chama de fogo ao vento

dentro de mim moram

pelo menos 13

querubins em movimento

 

Artur Fulinaíma

www.arturfulinaima.blogspot.com





nós, da mallarmargens revista de poesia & arte contemporânea, lamentamos profundamente a partida precoce do escritor e editor Rodrigo Novaes de Almeida, e voltamos nossos sentimentos mais profundos e nossa solidariedade à sua companheira de vida, de edição e de literatura, Christiane Angelotti, e a sua filha Amanda.


Rodrigo marcou o nosso campo como coeditor da significativa Revista Gueto, nossa irmã nos caminhos da poesia e da literatura, e como escritor, deixando uma obra cuja marca pessoal assinala e retrata o nosso tempo de modo original e profundo.

fica, aqui, a nossa homenagem a esse companheiro de estrada, que irá fazer muita falta para tanta gente, mas que também, com sua passagem pelo planeta, deixa sementes que vão florescer, alimento e exemplo para todos.

Rodrigo Novaes de Almeida escreveu os livros "Carnebruta" (Contos, Editora Apicuri e Editora Oito e Meio, 2012), "Das pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros contos" (Editora Patuá, 2018), finalista do 61º Prêmio Jabuti na categoria Contos, em 2019, "A clareira e a cidade" (Poesia, Editora Urutau, 2020), "Do amor e de outras tristezas" (Contos, Editora Urutau, 2021) e "Os gatos: Quinze histórias extraordinárias ou ordinárias", de contos, publicado recentemente pela Patuá.

 

Nuno Rau


Dê Livros Dê Lírios Dê Beijos

 podia ser bailarina como ele pensou quando me avistou pelo retrovisor no portão da minha casa com meu vestido branco e um girassol no joelho poema de carne sangue esperma espuma branca na areia e uma língua de sal em minha espera espreita com sua lâmina d´água a renda bordada sob a pele dos meus tecidos fosse apenas uma lenda exposta nos paralelepípedos da calçada em minha cidade serra desse mar distante onde não sei o que deseja esses olhos de fogo que me fervem quando vejo

 

Rúbia Querubim

www.coletivomacunaimadecultura.blogspot.com




AQUI JAZ - Antonin Artaud

 (tradução de Wilson Coêlho)

Traduzir esse texto Ci-Gît; com seu sentido não-sentido é como tentar subir numa montanha abrupta. Há de conhecer muito bem toda a obra de Artaud. E Wilson Coêlho, através do teatro e da instauração do discurso artaudiano na FM Universitária (peças "Antonin Artaud - Atos de Crueldade" e "Para acabar com o julgamento de deus", essa última, também realizada como programa radiofônico). Assim, Wilson Coêlho é o mais indicado, com sua experiência desse teatro vivo, já que o palco não é só a recitação de um texto literário, mas um crisol, onde vai acontecer a transmutação do próprio corpo. Artaud quer que o espectador ganhe algo - corporalmente - e não só culturalmente. Mas seria um erro assimilar o teatro de Artaud ao psicodrama, simplesmente porque ele considera a psicologia como uma forma podre,
decadente do espírito e do corpo.


Gilbert Chaudanne - pintor, crítico e escritor francês radicado em Vitória.


Adquira o seu exemplar por R$ 30,00 + R$9,00 (frete) = R$ 39,00

PIX Wilson Coêlho Pinto
CPF 562.016.306-78 


cada vez mais um claro enigma paira sobre essa palavra de ordem templo onde não sabemos mais quem está ali e para quê? nem podemos decifrar precisamente o que leva debaixo do braço quando aponta os dedos para o céu

 Artur Gomes Fulinaíma

www.personasarturianas.blogspot.com



fuga e urgências - [alpharrabio edições],

de Dalila Teles Veras

lançado ontem em comemoração
dos 30 anos da Livraria Alpharrabio





O espelho


Sim, lembro daquela parede
na nossa cidade destruída.
Projetava-se quase até o sexto andar.
No quarto havia um espelho,
um espelho inacreditável,
não quebrado, fixo com firmeza.

Já não refletia a face de ninguém,
a mão de ninguém ajeitando o cabelo,
nenhuma porta defronte,
nada que se possa chamar de
lugar.

Era como nas férias -
via-se refletido nele o céu vivo,
as nuvens agitadas no ar feroz,
o pó do entulho lavado por chuvas reluzentes,
voos de pássaros, estrelas, alvoradas.

E como cada objeto bem-feito
funcionava impecavelmente,
com uma profissional falta de assombro.

Wislawa Szymborska

Raptado da time line no facebook de Dudu Galisa




PEQUENO PASSEIO

Pela manhã

penteia os

cabelos

Faz orações

refeições

Lembra da pátria

da mãe

Depois

amarra na cintura a única

possibilidade

e vai

 

EUNICE ARRUDA

Do Livro Tempo Comum - Ed. Pantemporâneo - 2016

Incluso em " Visível ao Destino" - Obra Completa- @editorapatua


Poema do livro " Fragmentos de uma canção impossível " | arrudA | Editora Patuá #proac | 2019/20


a gente se gastou

em todos os becos da vida

não voltamos mais

para as vitrines

das esquinas de comércio

porque fantasias

já não interessam

couro usado resistindo

pele que não se fabrica mais

a gente sabe…

em algum canto de mato

num bar de porão

tocando um blues

continuamente no dia

do ensaio

as portas da rua se abrem

apenas quando fortuitamente

alguém nos descobre os segredos

pelas janelas de nossos cabelos

brancos

 

Clara Baccarin




CUMPLICIDADE VOLUNTÁRIA

Há um oceano de esperanças
morando neste meu
- atual e provisório -
endereço de alma.
Minha residência não é fixa.
A temporalidade me denuncia.
Sou cúmplice declarada
da transitoriedade desta vida.
A lei da gravidade tem sido grave.
Dai sopro ao que é do corpo.
Dai calma ao que é da alma.
Procuro por uma certa
generosidade oceânica
- em dimensões estelares -
no que (me) compete à matéria.
Não faz diferença:
com o passar dos anos
o dano é sempre certo.
Matemática de resultados.

Há um infinito muito específico
residindo bem aqui
neste meu momento único.
A lei de Lavoisier tem sido certa:
a transformação sempre acontece.
Dai sonho aos meus receios.
Dai visão aos meus anseios.
E que a minha ilusão seja leve.
Mais tarde, por certo,
o despertar fará de mim
um infinito a contento,
refeito de horizontes longínquos
onde pousam eternas - e etéreas -
as asas (de anjos)
de todos os meus desejos.

(Nic Cardeal, 13/04/2016 - poema do livro 'Sede de céu', Penalux/2019 - 
📸 imagem do Pinterest)


Funeral Blues

[W.H. Auden]

Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

[ Trad. Nelson Ascher | Imagem Guy Bourdin ]

 Raptado da time line no favcebook de Adelaide do Julinho





 metáfora

 

meta dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
            meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
            na carne seca do futuro 
            meta dentro dessa meta
a chama da lamparina 
com facho de fogo na retina 
pra clarear o fosso escuro

                                                         

Artur Gomes

Do livro Pátria A(r)mada

Editora Desconcertos – 2019

Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020

Segunda edição revisada e ampliada prevista para o  segundo semestre de 2022

 

Artur Gomes é poeta do corpo e da alma. Do corpo, pois as sensibilidades da pele estão devidamente traduzidas na extensão da sua obra. Também da alma, pois extrai das invisibilidades a força de um viver que resiste e insiste nas guerrilhas poéticas do cotidiano. Uma voz que ecoa Brasil afora, seja dizendo seus versos, lançando seus livros ou fazendo da poesia um espetáculo audiovisual.

Escreve e recita com grande expressividade. Produz e arrasta para a ribalta a poesia necessária.  Versos que berram diante do espelho os silêncios que traduzem sua vitalidade poética. Artur publicou livros e se destaca por extrair da palavra escrita a oralidade necessária. Assim, se apresenta agora com mais uma obra para dizer que só o que transborda naturalmente, permanece e se reproduz.

 

Lau Siqueira

Texto para orelha da segunda edição do livro 

Pátria A(r)mada



Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

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