terça-feira, 12 de abril de 2022

Coletânea Poetas Vivos - Artur Gomes

 


pan(demônica)

para Salgado Maranhão

inspirado no seu poema Pá

 

passeio os pés descalços

sobre covas rasas

contando ossos no poema exposto

no sujeito do objeto

 

tudo isso exposto

nesse papo reto

segue o passo norte

 

não leio cartas de suicídio

nem decreto de hospício

na tentação que me conforte

 

quero matar o genocídio

pra não morrer antes da morte

            

metáfora

 

meta dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
            meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
            na carne seca do futuro 
            meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
 
com facho de fogo na retina 
pra clarear o fosso escuro

                                                        

Quem

cada poeta tem a sua pessoal linguagem vertigem voltagem espanto. alguns tem até desmaios. uns escrevem outros cantam outras falam. conheci um que me dizia ouvir vozes não só apenas Ferreira Gullar. uma outra queria ter meu fogo. uma outra é a mulher que só em sonhos sabe o quanto bem-me-quer. outra se assanhava diante do espelho. alguns são mágicos como uns que brincam com o sal do maranhão. outros são flechas certeiras atiradas em nosso peito. dois que conheci dando os primeiros passos um pensava na fábrica o outro em Regis Bonvicino, hoje um corsário o outro cult. nem sei porque estou escrevendo isso. é que ontem conversando com um por telefone descobri mais um montão de particularidades sobre ele. conheci um também grande mestre e amigo que só queria saber de escritemas e gostava de ensinar curto circuitos. agora esse é Quem e chegou ontem em Campos na casa da minha irmã depois de 2 meses postado nos correios em São Paulo. me lembro agora dos passeios com Flora na praça General Osório em Ipanema que encontrava sempre um que me dizia ter um poema escrito só com a palavra Bunda mas que só permitiria ser publicado depois da sua morte e gostava de afirmar também que prefácio não é bengala. eu sou um Homem Com A Flor Na Boca, de cactos, de lótus, de lírios que me trazem conteúdo. e baudelérico baudelírico despetalo pétala por pétala com espinhos com talo com tudo.

 

  antes que seja tarde

 

qualquer palavra é um risco 
qualquer poema eu arrisco 

mesmo quando cilada
bala carro usado facada
compra venda laranja goiabeira

 

o lança chamas no circo

o dado lance no jogo

a mulher que come fogo

congresso de picadeiro

trapacear no senado é mágica

executivo carniceiro

 

poema não é brincadeira

comum baseado no ventre
farinha prisão entridentes
a farsa no país é trágica
e o povo é sempre o indigente

 

                       

mar de lama  

 

aqui tem os mais profundos  bem mais fundo  os mais imundos minerais  o mar de lama mata a mata  não só ferro não só ouro não  só prata mata muito mais  mata também o couro cru  a carne viva                   meus oriundos ancestrais

 


pandemônica 2

 

como preservar a Amazônia como exterminar a miséria se as 7 patas da Besta cavalgam pelo  planalto?  poema de 7 foices atrás da face anticristo e nos palácios os crápulas com suas caras de vidro com suas bíblias e vícios   devastam para o pasto pro  gado queimam  florestas e bichos queimam a fauna e a flora matam em nome de cristo por algum pastor são ungidos  nunca vi tanto canalha nesses       pantanais reunidos

 

indicativo

olho dentro do teu olho para que olhe na minha cara e cara a cara me diga a quantas anda a nossa briga do nosso amor pela ética se é tão estranha a poética de só pensar lá na frente que até perdi a conta nesse pretérito faz de contas das quantas vezes que já votei pra presidente e o nosso país do futuro
                   nunca chega no presente

 

cacomanga 2

 

ali nasci

minha infância

era só canaviais

ali mesmo aprendi

 conhecer os donos de fazenda

 

e  odiar os generais.

 

mulher dos sonhos        

 

ela ainda guarda na boca este poema entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas nas entre linhas dela e salta das metáforas por entre portas e janelas

 

grafitemas e figuralidades

estou escrevendo um mini conto um grafitema com figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou o que era

 

Artur Gomes

Pátria A(r )mada

Editora Desconcertos – 2019

Prêmio Oswald de Andrade – UBE-2020

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com




Artur Gomes é poeta, ator e vídeo maker e produtor cultural –

Tem 17 livros de Poesia publicados – Entre eles: Boi Pintadinho 1981 - Suor & Cio 1985 – Couro Cru & Carne Viva 1987 – 20 Poemas Com Gosto de JardiNÓpolis e Uma Canção Com Sabor de Campos 1990 – Conkretude Versus ConkrEreções 1994 – BraziLírica Pereira : A Traição Das Metáforas 2000 – SagaraNagens Fulinaímicas 2015 – Juras Secretas 2018 – Pátria (r)mada 2019 e O Poeta Enquanto Coisa 2020 -

De 1975 a 2002 Dirigiu a Oficina de Artes Cências na Escola Técnica Federal de Campos – Cefet-Campos.

De 2011 a 2012 – Dirigiu Oficinas de Produção Cine Vídeo no IFF Campos Campus Centro –

De 2011 a 2103 – Dirigiu Oficinas de Produção Cine Vídeo no SESC Campos.

De 2014 a 2016 – Dirigiu Oficinas de Artes Cênicas no SESC Campos – onde criou a Cia Desafio de Teatro.

De 2018 a 2019- Lecionou Poéticas no Curso Livre De Teatro da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes.

 

Criador dos seguintes projetos culturais:

Mostra Visual de Poesia Brasileira, 1983.

Em 1993 a MVPB teve uma Edição Especial em homenagem ao Centenário de Mário de Andrade – realizada pelo SESC-SP.

 Retalhos Imortais do SerAfim -  Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, Realizado em 1995 pelo SESC-SP

FestCampos de Poesia Falada – 1999 – realizado pela FCJOL até o ano de 2019.

De 2015 a 2017 Dirigiu o Curso de Teatro MultiLinguagens no SINASEFE em Campos onde produziu e coordenou o Sarau Baião De Dois.

De 1996 a 2016 foi uma das atrações do Congresso Brasileiro de Poesia – em Bento Gonçalves-RS, onde além da apresentação  com performances, dirigiu Oficinas de Teatro.Poesia.

Festival Cine Vídeo de Poesia Falada criado em 2020 continua sendo exibido  na página Studio Fulinaíma Produção Audiovisual no facebook - https://www.facebook.com/studiofulinaima

 Em 2019  lançou pela Editora Desconcertos o livro Pátria A(r)mada – Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio 2020 -  Cuja segundaedição ampliada e revisada está pronta com lançamento previsto para 2022.

Em 2021 assinou a Curadoria da Mostra Cine e Vídeo de Poesia Falada realizada pelo  SESC Piracicaba-SP. 

Em  2002 lançou o  CD Fulinaíma Sax Blues Poesia.

E em 2020 seu 17° livro, O Poeta Enquanto Coisa pela Editora Penalux.

Seu poema Goytacá Boy, gravado pelo próprio integra a Mostra de Vídeo Poemas do projeto Arte De Toda Gente, realizado pela FUNARTE em 2021 com curadoria de Tchello d´Barros.

Uma boa parte da sua obra poéticas  está publicada em Antologias no Brasil e no Exterior, e em um grande número de Revistas Digitais.

Tem escrito o projeto: Por Onde Andará Macunaíma¿ uma releitura multilinguagem antropofágica da Semana De Arte Moderna de 1922.

Atualmente é responsável pelo Projeto de Arte Cultura na ONG Beija Flor – Casa da Solidariedade – em Gargaú – São Francisco do Itabapoana-RJ


 

Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

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