quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

coletânea poetas vivos

 


 SINAL DE FUMAÇA

 De todas as minhas vestes

'inda resiste uma (tênue) fumaça de esperança

que insiste em cobrir meus corpos.

Entre pele e ossos,

sangue e veias,

memórias sonolentas ou acordadas

- desde aquela carcaça

que me mantém

(ainda) de pé sobre as pedras,

como aquela outra vestimenta,

que circunda o 'corpo' da alma,

leve camada, quase vítrea,

formada de palavras -

Eu não sei por quanto tempo

esta vestimenta se manterá intacta,

ainda que tão diáfana

- é só fumaça de esperança -

deixando-me quase desnuda,

onde sonhos já são matéria rara.

A fumaça 'inda suporta

a fina nesga da fresta

entre uma e outra vestimenta

de mim mesma que sou tantas

depois da porta entreaberta.

Uma hora ou outra

a alma por dentro

vira a casaca

(estou por um fio

habitante destas vestes

onde a esperança anda gasta...)

 

Nic Cardeal, 2019




 travessia campestre

para Rúbia Querubim e

Sérgio Sampaio in memória

 

A travessia você faz

 como quiser

ou como pode

:

no lombo do cavalo

ou na garupa do bode

 

Federico Baudelaire

https://www.facebook.com/federicoduboi

 

metamorfose no mangue

para Luis Turiba

 

quando me visto de turiba

vejo terra em transe

metamorfose no mangue

                         corpo alma

                         carne cio sangue

 

Artur Fulinaíma

https://www.facebook.com/arturgomesfulinaima




LEI A-URA

 

a pele

procura

a cura

mas o dedo

caucaso

teima

surra

acusa

a cicatriz

prematura

cutuca

a queimadura

fura

à esma

sempre a mesma alvura

sempre a mesma fissura

sempre a mesma fúria

trilhada

fulgura a urra árdua

a dura feitura

obscura da lavoura

da duna da cana

da cena da sina

da suna

sob a doçura

a pele escura

 

Jessica Iancoski




 Soberba

 

a noite longa

por entre os

paralelepípedos

 

e jaguarão

se espreme entre

a ponte e o cerro

 

passo a passo

o olhar adensa

 

no delito da espera

na podridão da

virtude

 

um galo geme

e o dia amanhece

 

Lau Siqueira

 O Inventário do Pêssego

Casa Verde – 2020


TRATO

 

fiz um trato com o vento,

vamos dar um tempo, um

do outro, escapar deste

cenário viciado, e vagar

sem rumo pelas montanhas,

pradarias e pastagens,

sem deixar rastros nem

postagens, antes que eu

esteja morto, condenado

que sou, desde o nascimento

 

você não, você sempre estará

por aqui, mudando de cara,

em movimento, ora rugindo

feroz, destelhando casas,

arrastando vacas, ora brisa

suave, acariciando cabelos

da menina, que caminha pela

praia, quase pronta pra parir,

outra vida, neste redemunho

desse mundo em desalinho

 

fiz um trato com o vento,

você vai por lá, eu por ali,

por deus, por buda, por allah,

pelo nome que tanto faz,

quem sabe a gente volte

a se encontrar, naquela

esquina inesperada, onde

os fantasmas procuram a

paz, e os corvos crocitam

como loucos, antes que eu

 

esteja morto e você bem

posto, no alto, com sua

farda puída, guardando

as muralhas precárias dessa vida

 

fiz um trato com o vento

e tudo o que vi foi um aceno,

em silêncio, breve tremular

nas folhas finas do feno

 

Ademir Assunção

Risca Faca

SELO DEMÔNIO NEGRO – 2021



fiz um trato com o sarcasmo

o bom humor a ironia

única forma que encontrei

para fazer a travessia

 

Rúbia Querubim

www.fulinaimargem.blogspot.com




 

A

 vida sempre em suspense

alegria prova dos nove

fanatismo não me convence

 muito menos me comove

 

Deus não joga dados

mas a gente lança

sem nem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

 

mas como me disse mallarmè

:

- vida não é lance de dedos

A vida é lança de dardos

Deus não arde no fogo

                   mas eu ardo

 

Artur Gomes

Pátria A(r) mada

Prêmio Oswald de Andrade –UBE-Rio 2020

Segunda edição 2022 – Editora Desconcertos

Fulinaíma MultiProjetos

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com




PoÉticas ArturiAnas

www.arturkabrunco.blogspot.com

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