'inda resiste uma (tênue) fumaça de
esperança
que insiste em cobrir meus corpos.
Entre pele e ossos,
sangue e veias,
memórias sonolentas ou acordadas
- desde aquela carcaça
que me mantém
(ainda) de pé sobre as pedras,
como aquela outra vestimenta,
que circunda o 'corpo' da alma,
leve camada, quase vítrea,
formada de palavras -
Eu não sei por quanto tempo
esta vestimenta se manterá intacta,
ainda que tão diáfana
- é só fumaça de esperança -
deixando-me quase desnuda,
onde sonhos já são matéria rara.
A fumaça 'inda suporta
a fina nesga da fresta
entre uma e outra vestimenta
de mim mesma que sou tantas
depois da porta entreaberta.
Uma hora ou outra
a alma por dentro
vira a casaca
(estou por um fio
habitante destas vestes
onde a esperança anda gasta...)
Nic Cardeal, 2019
para
Rúbia Querubim e
Sérgio
Sampaio in memória
A travessia você faz
como quiser
ou como pode
:
no lombo do cavalo
ou na garupa do bode
Federico
Baudelaire
https://www.facebook.com/federicoduboi
metamorfose
no mangue
para Luis
Turiba
quando me visto de turiba
vejo terra em transe
metamorfose no mangue
corpo alma
carne cio sangue
Artur
Fulinaíma
https://www.facebook.com/arturgomesfulinaima
LEI A-URA
a pele
procura
a cura
mas o dedo
caucaso
teima
surra
acusa
a cicatriz
prematura
cutuca
a queimadura
fura
à esma
sempre a mesma alvura
sempre a mesma fissura
sempre a mesma fúria
trilhada
fulgura a urra árdua
a dura feitura
obscura da lavoura
da duna da cana
da cena da sina
da suna
sob a doçura
a pele escura
Jessica Iancoski
a noite longa
por entre os
paralelepípedos
e jaguarão
se espreme entre
a ponte e o cerro
passo a passo
o olhar adensa
no delito da espera
na podridão da
virtude
um galo geme
e o dia amanhece
Lau
Siqueira
O Inventário do Pêssego
Casa Verde – 2020
fiz um trato com o vento,
vamos dar um tempo, um
do outro, escapar deste
cenário viciado, e vagar
sem rumo pelas montanhas,
pradarias e pastagens,
sem deixar rastros nem
postagens, antes que eu
esteja morto, condenado
que sou, desde o nascimento
você não, você sempre estará
por aqui, mudando de cara,
em movimento, ora rugindo
feroz, destelhando casas,
arrastando vacas, ora brisa
suave, acariciando cabelos
da menina, que caminha pela
praia, quase pronta pra parir,
outra vida, neste redemunho
desse mundo em desalinho
fiz um trato com o vento,
você vai por lá, eu por ali,
por deus, por buda, por allah,
pelo nome que tanto faz,
quem sabe a gente volte
a se encontrar, naquela
esquina inesperada, onde
os fantasmas procuram a
paz, e os corvos crocitam
como loucos, antes que eu
esteja morto e você bem
posto, no alto, com sua
farda puída, guardando
as muralhas precárias dessa vida
fiz um trato com o vento
e tudo o que vi foi um aceno,
em silêncio, breve tremular
nas folhas finas do feno
Ademir Assunção
Risca Faca
SELO DEMÔNIO NEGRO – 2021
fiz um trato com o sarcasmo
o bom humor a ironia
única forma que encontrei
para fazer a travessia
Rúbia Querubim
www.fulinaimargem.blogspot.com
A
vida sempre em
suspense
alegria prova dos nove
fanatismo não me convence
muito menos me comove
Deus não joga dados
mas a gente lança
sem nem mesmo saber
se alcança
o número que se quer
mas como me disse mallarmè
:
- vida não é lance de dedos
A vida é lança de dardos
Deus não arde no fogo
mas
eu ardo
Artur
Gomes
Pátria A(r) mada
Prêmio Oswald de Andrade –UBE-Rio 2020
Segunda edição 2022 – Editora Desconcertos
Fulinaíma MultiProjetos
www.arturgumesfulinaima.blogspot.com
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