eles
[sil guimarães]
em meio a delações & defecações
os ratos roeram a verba da educação
os ratos roeram a verba da saúde
os ratos roeram a verba da segurança
os ratos roeram a verba do transporte
os ratos roeram o verbo honrar
os ratos roeram o verbo servir
os ratos roeram o verbo prometer
os ratos roeram o verbo cumprir
os ratos roeram o verbo amar
os ratos roeram a merenda escolar
os ratos roeram as terras indígenas
os ratos roeram as vidas indígenas
os ratos roeram a nossa cidadania
os ratos roeram a nossa tragistória
os ratos roeram a constituição
os ratos roeram as escrituras
os ratos roem em nome de deus
os ratos riem em nome do demo
os ratos raiam em safadezas
os ratos enchem a burra de dinheiro
os ratos vivem com o rei na barriga
os ratos: funâmbulos & marafaias
autoridades em marãkutayas & manobras
circulam imunes à sorrelfa & de soslaio
os ratos, caçados a machadadas,
não se abalam: é tudo mentira
os ratos existem em prol do meu
do seu do nosso bem comum deles
nós, servos-arbítrios, em sono esplêndido
os ratos: há de se enfrentá-los
sem temer quæ sera tamen
há de se enfrentá-los
enquanto ardem: os ratos
[no bolso e nas mãos]
sou/estou
sul global
barra
ocidental
barra
sulamericano
barra
brasileiro
barra
sudestino
barra
fluminense
barra
carioca
barra
da tijuca
como quem talha a madeira
atenta aos detalhes
ao sabor das cores
letras brancas
ébano, marfim, castanheira
da peroba do campo
desenho arte
entalhada a poesia
despencam flores brancas
enfeitando a Mata Atlântica
madeira, peça rara
poesia, rima infinda
suas mãos
trabalhando nas linhas
imaginárias
como Brasília
do cerrado
troncos retorcidos
nasce o sonho
esculpido em desejos
nesta cidade
que arde
em busca de belos
horizontes.
(Jussara
Resende)
Diálogos Fulinaímicos
com a psicóloca Luiza Bozola
leia mais no blog
https://arturgumes.blogspot.com/
matriarcado de pindorama
uma peça com 5 atos
toda com poesia na cama
a partir do terceiro ato
ela é quem manda no meu drama
Artur
Gomes Fulinaíma
poetikália
a vaca
lambe a língua da lesma lima
naquela tarde de maio
moinhos de vento
no centro da ilusão
Dom Quixote
preparava seu cavalo
enquanto eu passava
por Barra de São João
O poeta enquanto coisa
teus olhos
velam mistérios
teus olhos
guardam segredos
um mar de verde/amarelo
azul de um tempo abstrato
branco na íris retina
teus olhos
serpentes da china
assassinos daquela menina
teu veneno enigmático
https://fulinaimagens.blogspot.com/
CANAL DO POETARIADO
É possível pensarmos numa etimologia
imaginal? Não aquela da história, decomposição e origem das palavras. Mas
aquela que viaja para mundos subjetivos além da palavra. Então pronto! Naveira
é nave, ave, navegante. Singra mares e marés da língua e da linguagem,
navegante por temas, lugares, memórias e paisagens. Embora crie em vários
gêneros, a poesia é a sua verdadeira vocação. Para ela tudo é poesia. De uma
pequena crônica sobre rinoceronte conversa com Ionesco e Lobato. Ao mesmo tempo
sopra suas velas para a épica histórica e literária da aventura de sangue
português. A sua religiosidade exprime o sagrado da vida, mas também o erotismo
próprio do humano existir. E fluem textos saborosos, um oásis no grande mar,
que valoriza a ancestralidade e acende forças destinais de uma vibrante criação
de mundos.
É fato: por essas e tantas outras,
por mundos e santos, Raquel Naveira faz parte do Mapa da literatura do país.
Vamos conversar sobre a sua rica
experiência poética celebrada em mais de 30 livros.
Até lá!
https://www.youtube.com/c/CanaldoPoetariado
Na garganta
Se me perguntares outra vez porque escrevo
gritarei contigo todo o meu poema reduzido:
Escrevo porque preciso
- tenho a alma entalada na garganta
e um coração refém dos meus ouvidos –
isso é tudo.
Nic Cardeal
Do livro Sede de Céu
Editora Penalux - 2019
Tropicália – Caetano Veloso
https://www.youtube.com/watch?v=CFC9ceKUm5Y
Tropicália
Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento no planalto central
Do país
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada de uma rua antiga, estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente, feia e
morta
Estende a mão
Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta
Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta
No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina e faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira
Entre os girassóis
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia
No pulso esquerdo bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue
Mas seu coração balança a um samba de
tamborim
Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhora e senhores ele põe os olhos grandes
Sobre mim
Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma
Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma
Domingo é o Fino da Bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém
O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da
Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da
Geleia Geral
Gilberto Gil / Torquato Neto
O poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplendente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
A alegria é a prova dos nove
E a tristeza é teu porto seguro
Minha terra onde o sol é mais lindo
E Mangueira onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
É a mesma dança na sala
(No Canecão), na TV
E quem não dança, não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Super poder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade e jardim
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Plurialva, contente e brejeira
Miss-linda Brasil diz: Bom dia
E outra moça também Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
O poeta desfolha a bandeira
E eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento
Com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto
Tropicália, bandeiras ao vento
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi, ê...
Geleia Geral – na voz de
Gilberto Gil – faixa do disco Panis Et Circence - 1968
https://www.youtube.com/watch?v=0P6Ut0iqm_U
Tropicália
– Panis Et Circence
https://www.youtube.com/playlist?list=PL1n9WCjA7Kz6S5hnYGHfx5sVuLFGuaT3C
Fulinaíma MultiPtojetos
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