sexta-feira, 27 de maio de 2022

Coletânea Poetas Vivos


eles
[sil guimarães]

em meio a delações & defecações
os ratos roeram a verba da educação
os ratos roeram a verba da saúde
os ratos roeram a verba da segurança
os ratos roeram a verba do transporte

os ratos roeram o verbo honrar
os ratos roeram o verbo servir
os ratos roeram o verbo prometer
os ratos roeram o verbo cumprir
os ratos roeram o verbo amar

os ratos roeram a merenda escolar
os ratos roeram as terras indígenas
os ratos roeram as vidas indígenas
os ratos roeram a nossa cidadania
os ratos roeram a nossa tragistória

os ratos roeram a constituição
os ratos roeram as escrituras
os ratos roem em nome de deus
os ratos riem em nome do demo
os ratos raiam em safadezas

os ratos enchem a burra de dinheiro
os ratos vivem com o rei na barriga
os ratos: funâmbulos & marafaias
autoridades em marãkutayas & manobras
circulam imunes à sorrelfa & de soslaio

os ratos, caçados a machadadas,
não se abalam: é tudo mentira
os ratos existem em prol do meu
do seu do nosso bem comum deles
nós, servos-arbítrios, em sono esplêndido

os ratos: há de se enfrentá-los
sem temer quæ sera tamen

há de se enfrentá-los
enquanto ardem: os ratos

[no bolso e nas mãos]


sou/estou

 

sul global

barra

ocidental

barra

sulamericano

barra

brasileiro

barra

sudestino

barra

fluminense

barra

carioca

barra

da tijuca

 

 Tchello d'Barros



escrevia versos

como quem talha a madeira

atenta aos detalhes

ao sabor das cores

letras brancas

ébano, marfim, castanheira

da peroba do campo

desenho arte

entalhada a poesia

despencam flores brancas

enfeitando a Mata Atlântica

madeira, peça rara

poesia, rima infinda

suas mãos

trabalhando nas linhas

imaginárias

como Brasília

do cerrado

troncos retorcidos

nasce o sonho

esculpido em desejos

nesta cidade

que arde

em busca de belos

horizontes.

 

(Jussara Resende)



EntreVistas

Diálogos Fulinaímicos

com a psicóloca Luiza Bozola

leia mais no blog

https://arturgumes.blogspot.com/



                                   matriarcado de pindorama

uma peça com 5 atos

toda com poesia na cama

a partir do terceiro ato

ela é quem manda no meu drama

 

Artur Gomes Fulinaíma

 


poetikália

 

a vaca

lambe a língua da lesma lima

naquela tarde de maio

moinhos de vento

no centro da ilusão

 

Dom Quixote

preparava seu cavalo

enquanto eu passava

por Barra de São João


O poeta enquanto coisa

 

teus olhos

velam mistérios

teus olhos

guardam segredos

 

um mar de verde/amarelo

azul de um tempo abstrato

branco na íris retina

 

teus olhos

serpentes da china

assassinos daquela menina

teu veneno enigmático

 

 Artur Gomes

https://fulinaimagens.blogspot.com/


CANAL DO POETARIADO

 Raquel Naveira: ave navegante

É possível pensarmos numa etimologia imaginal? Não aquela da história, decomposição e origem das palavras. Mas aquela que viaja para mundos subjetivos além da palavra. Então pronto! Naveira é nave, ave, navegante. Singra mares e marés da língua e da linguagem, navegante por temas, lugares, memórias e paisagens. Embora crie em vários gêneros, a poesia é a sua verdadeira vocação. Para ela tudo é poesia. De uma pequena crônica sobre rinoceronte conversa com Ionesco e Lobato. Ao mesmo tempo sopra suas velas para a épica histórica e literária da aventura de sangue português. A sua religiosidade exprime o sagrado da vida, mas também o erotismo próprio do humano existir. E fluem textos saborosos, um oásis no grande mar, que valoriza a ancestralidade e acende forças destinais de uma vibrante criação de mundos.

É fato: por essas e tantas outras, por mundos e santos, Raquel Naveira faz parte do Mapa da literatura do país.

Vamos conversar sobre a sua rica experiência poética celebrada em mais de 30 livros.

Até lá!

 Hamilton Faria

https://www.youtube.com/c/CanaldoPoetariado


Na garganta

 Se me perguntares outra vez porque escrevo

gritarei contigo todo o meu poema reduzido:

 

Escrevo porque preciso

 - tenho a alma entalada na garganta

 e um coração refém dos meus ouvidos –

 isso é tudo.

 

Nic Cardeal

Do livro Sede de Céu

Editora Penalux - 2019



 Tropicália – Caetano Veloso

https://www.youtube.com/watch?v=CFC9ceKUm5Y

 

Tropicália

Caetano Veloso

Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval

Eu inauguro o monumento no planalto central
Do país
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata

A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada de uma rua antiga, estreita e torta

E no joelho uma criança sorridente, feia e morta
Estende a mão
Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta
Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta
No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina

Coqueiro, brisa e fala nordestina e faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira

Entre os girassóis
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia
No pulso esquerdo bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue

Mas seu coração balança a um samba de tamborim
Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhora e senhores ele põe os olhos grandes

Sobre mim
Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma
Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma
Domingo é o Fino da Bossa
Segunda-feira está na fossa

Terça-feira vai à roça
Porém
O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da
Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da

 

Geleia Geral

Gilberto Gil / Torquato Neto

 

O poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplendente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

A alegria é a prova dos nove
E a tristeza é teu porto seguro
Minha terra onde o sol é mais lindo
E Mangueira onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala
(No Canecão), na TV
E quem não dança, não fala
Assiste a tudo e se cala

Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra

Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Super poder de paisano
Formiplac e céu de anil

Três destaques da Portela
Carne seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade e jardim

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira
Miss-linda Brasil diz: Bom dia
E outra moça também Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

O poeta desfolha a bandeira
E eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento
Com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto
Tropicália, bandeiras ao vento

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi, ê...

 

Geleia Geral – na voz de Gilberto Gil – faixa do disco Panis Et Circence - 1968

https://www.youtube.com/watch?v=0P6Ut0iqm_U

 

Tropicália – Panis Et Circence

https://www.youtube.com/playlist?list=PL1n9WCjA7Kz6S5hnYGHfx5sVuLFGuaT3C

 

Fulinaíma MultiPtojetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por Onde Andará Macunaíma?

espiã confessa pedra que voa depois que choveu pedra em São Francisco do Itabapoana no final de 2024, por ficarem sem saber se gelo ou grani...