ENIGMA
Depois dos olhos
- espelhos ou janelas d'alma -
haverei de restar-me inteira
ainda que desfeita a casa da pele que se faz de
minha efêmera morada?
Depois do corpo
em que limites do tempo estarei erguida?
restará identidade, ego, persona?
como sairei da existência, depois de finda a carne
e caídos os ossos de volta à terra?
Depois desse palco
haverá continuidade do ato?
quem escreverá novo script, roteiro?
em que cenário estarei atuando o retorno aos planos
das possibilidades dos mundos?
saberei resgatar minh'alma destituída do que em mim
transformou-se em ausência?
haverá presença, certeza, consciência?
Depois do silêncio
serei eu da mesma essência do vento, da água, do
sopro,
da luz que, mesmo adormecida, prossegue iluminando
a escuridão da semente depois de mim parida?
De que adianta a vida sussurrando rouca à procura
de razão
se não aprendemos nada sobre as passagens estreitas
que nos espreitam, inquietas,
como oráculos misteriosos, soletrando-nos segredos
de outros mundos,
fazendo-nos quase enigmas de nós mesmos
à procura da melhor revelação?
- será a imaterialidade o melhor lugar de se
habitar? -
(Nic
Cardeal, 12.05.2020)
E os frutos da terra malditos ,
Das porções mágicas da vida ,
Sou troféu da investida , sou sobrevivente do ardor
,
Quero estar entre as páginas ,
Nas letras do saber ,
Do coração entender ,
Das linhas do existir ,
Somos e seremos frutos da terra ,
Germinando o pensamento,
Mudanças do ouvir,
Bocas a falar ,
Mãos trêmulas ,
Acima de tudo ,cores e tamanhos,
No falar e no existir ,
A se entenderes a areia ,
O vento Nordeste ,
Seu rosto positivo ,
Suas mãos entrelaçadas ,
Apenas na relva do amanhã ,
Gotículas do ontem ,
Das sementes que germinam ,
Malditas ?
Ou o puro prazer do céu azul !!!!
Soares
Filho,I.
Bar do Firo , 14:00h
Neste sábado !
Satélite
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira.
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de
melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados,
Mas tão-somente
Satélite.
Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições
românticas,
Sem show para as disponibilidades
sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
gosto de ti assim:
Coisa em si,
-Satélite.
Manuel Bandeira
[Estrela da Tarde]
Rapitado da taime line do facebook de
Dudu Galisa
Ó, deusa amada,
te recebo em meus braços
nas primeiras horas da manhã,
como quem divaga entre o sonho
e a vigília, como quem, em oferenda aos deuses, as
pérolas vão, como quem, absorto ao mar, habita a ilha!
Dudu Galisa
LA, en el pétalo 12 de "Páginas de mi Rosa" uno de los poemarios que te dediqué en el 2004, ya había una fragancia para ti; por favor rescátala, porque vale la pena
La vida es una rosa
del principio al fin.
Al pétalo se llega
solo por las espinas.
Por eso es que me sangran
abiertas las heridas;
pero vale la rosa
el dolor de la vida.
LA, na pétala 12 de "Páginas da
minha Rosa" um dos poemários que te dediquei em 2004, já havia uma
fragrância para ti; por favor resgata-a, porque vale a pena
do começo ao fim.
A pétala você chega
só pelos espinhos.
É por isso que eles me sangram.
feridas abertas;
mas vale a rosa
a dor da vida.
Raquel Martínez Martínez
meninos no sinal
meninos vendem balas no sinal
sem saber da doçura da calda do caramelo
vendem a gostosura do açúcar de
lindo na boca
meninos vendem panos no sinal
sem saber da estrutura da trama do retalho
vendem a urdidura do tecido des
fiando nas mãos
meninos vendem sonhos no sinal
sem saber das pinturas de goya van gogh dalí
vendem releituras da tinta des
manchando na cara
meninos vendem balas panos sonhos
cheios de facas fomes malabares fogo
vendem com pernas de pau risos que des
aparecem no sinal
Joilson Bessa.
Poema escrito em 09 de dezembro de 2020 (a caminho do Trianon para
mais uma reunião do Funcultura), revisto no dia 04 de fevereiro de 2021 e
submetido para publicação na Revista Sede de Ler.
https://periodicos.uff.br/sededeler/article/view/50023
Relampiano - Lenine
Clique no link para ver o vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=YuKQLmZsnB8
Sarau
Bracutaico
Dia 21 de Maio - 16h
Palestra sobre empreendedorismo com Ana Mary, mentora da
UNIASSELVI polo de Campos https://portal.uniasselvi.com.br/ -
Roda de Poesia com Artur Gomes, Joilson Bessa e Adriana Medeiros - exibição de capoeira maculelê e samba de roda com os alunos do Projeto Beija Flor
Homenagem a Dona Dita - a catadora de caranguejo mais antiga de Gargaú.
Geleia Geral – ReVirando a Tropicália
Pátria A(r)mada - Editora
Desconcertos – 2019
https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/
Prêmio Oswald de Andrade – UBE -Rio 2020
Segunda Edição ampliada – 2022
Performance com o seu autor – Artur Gomes
Roteiro
Jura Secreta 43
veraCidade
por quê trancar as portas
tentar proibir as entradas
se já habito os teus cinco sentidos
e as janelas estão escancaradas ?
um beija flor risca no espaço
algumas letras de um alfabeto grego
signo de comunicação indecifrável
eu tenho fome de terra
e esse asfalto sob a sola dos meus pés
agulha nos meus dedos
quando piso na Augusta
o poema dá um tapa na cara da Paulista
flutuar na zona do perigo
entre o real e o imaginário
João Guimarães Rosa Caio Prado
Martins Fontes um bacanal de ruas
tortas
eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na Cacomanga
matagal onde nasci
com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
Jura
Secretas 13
o tecido do amor já esgarçamos
em quantos outubros nos gozamos
agora que palavro Itaocaras
e persigo outras ilhas
na carne crua do teu corpo
amanheço alfabeto grafitemas
quantas marés endoidecemos
e aramaico permaneço doido e lírico
em tudo mais que me negasse
flor de lótus flor de cactos flor de
lírios
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst quando então se me amasse
ardendo em nós salgado mar e Olga risse
pulsando em nós flechas de fogo se
existisse
por onde quer que eu te cantasse ou
Amavisse
Jura Secreta 14
eu te desejo flores lírios brancos
margaridas girassóis rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro teu perfume
teu sabor teu suor tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso :
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura
Jura Secreta 16
para may pasquetti
fosse esta menina Monalisa
ou se não fosse apenas brisa
diante da menina dos meus olhos
com esse mar azul nos olhos teus
não sei se MichelÂngelo
Da Vinci Dalí ou Portinari
te anteviram
no instante maior da criação
pintura de um arquiteto grego
quem sabe até filha de Zeus
e eu Narciso amante dos espelhos
procuro um espelho em minha face
para ver se os teus olhos
já estão dentro dos meus
Jura Secreta 18
te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo
os peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas finas que vestias
sobre os teus pêlos ficção
todos os laços dos tecidos
aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
o sabor da tua língua
o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes
e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa
Jura secreta 29
esfinge
o amor
não é apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele
cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge:
Clarice/Beatriz:
assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nossos profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo
é que na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente
o nome tem seus mistérios que
se escondem sob panos
o sol é claro quando não chove
o sal é bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve
o mar que vai e vem não tem volta
o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta
onde o poema não tem fim
Jura Secreta 45
fulinaimagem
1
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e minha língua fosse
só furor dos Canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato
por enquanto vou te amar assim
admirando teu retrato
enquanto penso minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos
2
o que trago
embaixo as solas dos sapatos é fato
bagana acesa
sobra do
cigarro é sarro
dentro do carro
ainda ouço Jimmi Hendrix
quando quero
dancei bolero
sampleAndo rock and roll
prá colher lírios
há que se por o pé na lama
a seda pura foto-síntese do papel
tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana
procuro um mix da guitarra de Santanna
com os espinhos da Rosa de Noel
Jura
Secreta 48
sagarínica fulinaimânica
não sou iluminista nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca negra amarela
vermelha verde ou cafuza
eu sou do mato
curupira carrapato
sou da febre sou dos ossos
sou da Lira do Delírio
São Virgílio é o meu sócio
Pernambuco Amaralina
vida breve ou sempre vida/severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina devorar é minha sina
e profanar é o meu negócio
Artur
Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
Inventário
come vento menina
come vento
não há mais metafísica no mundo
do que comer vento
tem de todas os sabores
amargo meio amargo
chocolate com café
sabe como é que é
em meio a tanta crise
a gente inventa o vento que se quer
A
poesia pulsa
Para
Tanussi Cardoso
Aqui a poesia pulsa na veia no vinho no peito
no
pulso na
pele nos
nervos nos
músculos
nos
ossos posso
falar o que sinto posso
sentir o que posso
aqui a poesia pulsa nas coisas nos códigos nos signos os significantes os significados
aqui a
poesia pulsa na
pele da minha blusa
na
íris dos olhos da minha musa toda vez que ela me usa nas iguarias de
Bento quando
trampo mais não troco quando
troco mas não trapo
nas
pipas nos
vinhedos nos arcos nas
madrugadas dos bares sampleando bolero
in blues rasgado num
guardanapo
o
poema pra Juliana escrito
na cama do quarto no
copo de vinho na
boca de Vênus na
bola da vez da sinuca sangrada
pelo meu taco
aqui a
poesia pulsa nos
cabelos brancos da barba nas
gargalhadas de Bacca na
divina língua de Baco
Afiando a Carnavalha
1
cocada
agora só se for de coco
paçoca
de amendoim
cigarro
só se for de palha
cacique
só se for da mata
linguagem
só tupiniquim
bala
agora só se for de prata
água
só se aguardente
tônica
só se for com gim
estado
só se for de surto
eleição
só se for sem furto
brilho
só no camarim
golaço
só se for de letra
Ronaldo
só se for Werneck
malando
só se mandarim
política
só se for decente
partido
só sem presidente
governo
eu que mando em mim
batismo
só se for de pia
congresso
só de poesia
Reinaldo
pode ser Valinho
ainda
melhor se for Jardim
2
Roberta
só se for Cainelli
Bruna
agora só se for Poletto
vestido
pode ser a própria pele
que
cobre a nudez do esqueleto
Camila
só se for Pitanga
carnaval
só se for sem tanga
se
houver tempo a gente transa no coreto
Juliana
só se for Estefani
Paola
só se Oliveira
Florbela
se me quiser me espanca
e
a gente trampa nos quintais da goiabeira
Artur Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
Editora
Penalux – 2020
www.fulinaimicamente.blogspot.com
fome
come osso menina come
osso menino
não há mais metafísica no mundo do
que comer osso
no açougue ou no mercado osso
de graça já foi dado hoje é vendido hoje é comprado
come osso maria come osso mané come osso joão com
arroz e feijão quebrado
porque nesse país sem nome temos
que comer osso para matar a nossa fome
já podeis
da pátria, filho
ver demente
a mãe gentil
já raiou
a liberdade
em cada cano de fuzil
salve lindo
fuzil que balança
entre as pernas
a(r)madas da paz
a gripezinha
era a certeza esperança
de um genocida
imbecil incapaz
navegar é
preciso
para Fernando Aguiar
Aqui redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
é surreal a nossa realidade
tubarões famintos devoram
cadáveres
em nossa sala de jantar
como levar o barco
em meio a essa tempestade
navegar é preciso
mas está dificilíssimo
navegar
Deus não joga dados
mas a gente lança
sem nem mesmo saber
se alcança
o número que se quer
mas como me disse mallarmè
:
- vida não é lance de dedos
A vida é lança de dardos
Deus não arde no fogo
mas eu ardo
Tecidos sobre a Terra
Terra, antes que alguém morra escrevo prevendo a morte arriscando a vida
antes que seja tarde e que a língua da minha boca não cubra mais tua ferida
entre aberto em teus ofícios é que meu peito de poetasangra ao corte das
navalhas e minha veia mais aberta é mais um rio que se espalha
amada de muitos sonhos e pouco sexo deposito a minha boca no teu cio e
uma semente fértil
nos teus seios como um rio
o que me dói é ver-te devorada por estranhos olhos e deter impulsos por
fidelidade
ó terra incestuosa de prazer e gestos não me prendo ao laço dos teus
comandantes só me enterro à fundo nos teus vagabundos com um prazer de fera e
um punhal diamante
minha terra é de senzalas tantas enterra em ti milhões de outras
esperanças soterra em teus grilhões a voz que tenta – avança
plantada em ti como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta mesmo sabendo – o vão estreito em cada porta
MOENDA
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
:
o saldo e o lucro
terra de santa cruz
I
ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
II
salgado mar de fezes
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes
III
salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás
IV
meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram
no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta
V
só desfraldando
a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão
servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu
1º de Abril
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta
VI
o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na Geléia Geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my Brazyl
minha verde/amarela esperança
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul
VII
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:
meu coração marçal tupã
sangra tupy & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná
VIII
o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank
IX
ó baby a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema
Artur Gomes
Nenhum comentário:
Postar um comentário