segunda-feira, 23 de maio de 2022

Coletânea Poetas Vivos


O poeta é um fingidor

 

chove aqui dentro

mais do que lá fora

eu tenho pressa

de olhar teus olhos

nesse mar de angra

o pau brasil sangra

 

enquanto isso

ela passeia no egito

entre templos sagrados

dessas múmias quânticas

 

me perdoa

o poeta é um fingidor

mas eu não sou Fernando Pessoa

 

Artur Gomes

por onde andará Macunaíma?

www.fulinaimagens.blogspot.com



Tarot

[Assionara Souza]


Vou confessar, querida
Tenho isso de gostar dos loucos
Observo de longe o jeito que eles comem com os olhos
Com você foi assim
Esse esmalte vermelho sempre em dia
Esse passado colado no álbum com cantoneiras e papel vegetal
Quero a receita completa
Desde o suspense antes do desfecho da trama
O disparo, teu olho assustado pra câmera
Por trás da palavra pêssego corre um rio espesso
Mordo a palavra pêssego
E as comportas desabam — uma cidade inteira vem abaixo
Corremos, corremos para bem longe do set de filmagens
Vida real é um cão dormindo no silêncio da tarde de um domingo

 

supermercado
[sil guimarães]


devo-lhe um poema de amor mas
preciso fazer a lista das compras
andar sobre as águas quebrar pedras
romper a fortaleza das palavras
convencer estrelas e cotovias
buscar um farrapo de eternidade
limpar a angústia dos móveis
tirar o encantamento do armário
desvendar seu abismo meus ismos
ferir o pudor raspar o desejo
pera uva maçã ou algodão doce
como se como sempre como sou
adivinhar seu cheiro de magnólia
a febre a dor o desalento implícitos
amar e desamar o seu avesso

: apalpo a palavra pêssego e ela
se diz entrega em suas mãos


[ imagem dorota górecka ]

raptada da time line do facebook de Adelaide do Julinho


CENA VERBAL 53

 Não é um fim como se finda:

é o afundar-se no verbo

encantado. Tanger as barcarolas

em nome das coisas nômades,

nesse cálice partido entre gerânios.

O que não há de ser, já é,

no mistério interdito.

Ninguém busca os barcos

desolados; cada nós

segue um rio da mesma foz,

onde tudo que se nos (h)aja,

avive a raiz da voz.

 

Salgado Maranhão

do livro [avessos avulsos]

raptada da time line do facebook de Dudu Galisa


NARCISO (JOGOS)


Tudo
acontece no
espelho.

A fonte
deságua na própria
fonte.

Leio
minha mão:
livro
único.

Um deus
olho
ôlho no
ôlho.

A vida é que nos tem: nada mais
temos.

A luz está
em nós: iluminamos.

A aventura
- a
ventura -
fluir
sempre.

Nunca amar
o que não
vibra

nunca crer
no que não
canta.

Vemos por espelho
e enigma
(mas haverá outra forma
de ver?)

O espelho dissolve
o tempo

o espelho aprofunda
o enigma

o espelho devora
a face.

Orides Fontela
[TEIA] 

Raptada da time line do facebook de Dudu Galisa


não me pisque o olho

              estou em
                   combustão

 

Dudu Galisa


Morre-se sempre

 depois de parar de sonhar

 

Morre-se antes da última nota grave do contralto,

sem aplausos entusiasmados, sem euforia,

no meio do palco, perto de cenários inusitados,

na frente da plateia...

 

Morre-se antes, morre-se cedo,

se a voz truncar, se o som desaparecer...

 

Morre-se antes do último mergulho em mar aberto,

sem roupa apropriada, sem cilindros de oxigênio,

no meio do oceano, perto de galeões afundados,

na frente da equipe...

 

Morre-se antes, morre-se bem cedo,

se a respiração parar, se o cérebro adormecer...

 

Morre-se antes da última partida do campeonato,

sem faixa, sem taça, sem gritos de campeão,

no meio do campo, perto das malhas do alambrado,

na frente da torcida...

 

Morre-se cedo, morre-se muito cedo,

se o músculo retesar, se o corpo não se mexer...

 

Morre-se antes da última cena,

sem beijo de casamento, sem final feliz,

no meio do estúdio, perto de refletores apagados,

na frente de todo mundo...

 

Morre-se cedo, bem cedo, muito cedo,

se o coração travar, se o sangue não correr...

Morre-se sempre depois de parar de sonhar,

porque sonhos, quando acabam,

apagam as labaredas, ressecam as terras,

congelam todos os líquidos do planeta...

 

Congelam inclusive a água salgada do útero,

onde timidamente aprendeste a nadar e,

possivelmente, começaste a ter

os primeiros pesadelos...

 

Joilson Bessa.

 Santa Clara e Alphaville, 21 de março e 16 de maio de 2022.

 Poesia publicada na 81.ª edição do Miscelânia Cultural.

 Contato para publicação nas páginas do Poesia Plural:

jlsnbssslv@hotmail.com



Acabando de chegar na Biblioteca Bracutaia: diretamente de Belo Horizonte-MG Rogério Salgado Poeta Ativista. E diretamente de Brasília-DF algumas raridades de Nicolas Bher



Fulinaíma MultiProjetos

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