O poeta é um fingidor
chove aqui dentro
mais do que lá fora
eu tenho pressa
de olhar teus olhos
nesse mar de angra
o pau brasil sangra
enquanto isso
ela passeia no egito
entre templos sagrados
dessas múmias quânticas
me perdoa
o poeta é um fingidor
mas eu não sou Fernando Pessoa
Artur
Gomes
por onde andará Macunaíma?
www.fulinaimagens.blogspot.com
Tarot
[Assionara Souza]
Vou confessar, querida
Tenho isso de gostar dos loucos
Observo de longe o jeito que eles comem com os
olhos
Com você foi assim
Esse esmalte vermelho sempre em dia
Esse passado colado no álbum com cantoneiras e
papel vegetal
Quero a receita completa
Desde o suspense antes do desfecho da trama
O disparo, teu olho assustado pra câmera
Por trás da palavra pêssego corre um rio espesso
Mordo a palavra pêssego
E as comportas desabam — uma cidade inteira vem
abaixo
Corremos, corremos para bem longe do set de
filmagens
Vida real é um cão dormindo no silêncio da tarde
de um domingo
supermercado
[sil guimarães]
devo-lhe um poema de amor mas
preciso fazer a lista das compras
andar sobre as águas quebrar pedras
romper a fortaleza das palavras
convencer estrelas e cotovias
buscar um farrapo de eternidade
limpar a angústia dos móveis
tirar o encantamento do armário
desvendar seu abismo meus ismos
ferir o pudor raspar o desejo
pera uva maçã ou algodão doce
como se como sempre como sou
adivinhar seu cheiro de magnólia
a febre a dor o desalento implícitos
amar e desamar o seu avesso
: apalpo a palavra pêssego e ela
se diz entrega em suas mãos
[ imagem dorota górecka ]
raptada da time line do facebook de Adelaide do Julinho
CENA VERBAL 53
Não é um fim como se finda:
é o afundar-se no verbo
encantado. Tanger as barcarolas
em nome das coisas nômades,
nesse cálice partido entre gerânios.
O que não há de ser, já é,
no mistério interdito.
Ninguém busca os barcos
desolados; cada nós
segue um rio da mesma foz,
onde tudo que se nos (h)aja,
avive a raiz da voz.
Salgado Maranhão
do livro [avessos avulsos]
raptada da time line do facebook de
Dudu Galisa
NARCISO (JOGOS)
Tudo
acontece no
espelho.
A fonte
deságua na própria
fonte.
Leio
minha mão:
livro
único.
Um deus
olho
ôlho no
ôlho.
A vida é que nos tem: nada mais
temos.
A luz está
em nós: iluminamos.
A aventura
- a
ventura -
fluir
sempre.
Nunca amar
o que não
vibra
nunca crer
no que não
canta.
Vemos por espelho
e enigma
(mas haverá outra forma
de ver?)
O espelho dissolve
o tempo
o espelho aprofunda
o enigma
o espelho devora
a face.
Orides
Fontela
[TEIA]
Raptada da time line do facebook de Dudu
Galisa
não me pisque o olho
estou em
combustão
Dudu Galisa
Morre-se sempre
depois de parar de sonhar
Morre-se antes da última nota grave
do contralto,
sem aplausos entusiasmados, sem
euforia,
no meio do palco, perto de cenários
inusitados,
na frente da plateia...
Morre-se antes, morre-se cedo,
se a voz truncar, se o som
desaparecer...
Morre-se antes do último mergulho em
mar aberto,
sem roupa apropriada, sem cilindros
de oxigênio,
no meio do oceano, perto de galeões
afundados,
na frente da equipe...
Morre-se antes, morre-se bem cedo,
se a respiração parar, se o cérebro
adormecer...
Morre-se antes da última partida do
campeonato,
sem faixa, sem taça, sem gritos de
campeão,
no meio do campo, perto das malhas do
alambrado,
na frente da torcida...
Morre-se cedo, morre-se muito cedo,
se o músculo retesar, se o corpo não
se mexer...
Morre-se antes da última cena,
sem beijo de casamento, sem final
feliz,
no meio do estúdio, perto de
refletores apagados,
na frente de todo mundo...
Morre-se cedo, bem cedo, muito cedo,
se o coração travar, se o sangue não
correr...
Morre-se sempre depois de parar de
sonhar,
porque sonhos, quando acabam,
apagam as labaredas, ressecam as
terras,
congelam todos os líquidos do
planeta...
Congelam inclusive a água salgada do útero,
onde timidamente aprendeste a nadar
e,
possivelmente, começaste a ter
os primeiros pesadelos...
Joilson Bessa.
Santa Clara e Alphaville, 21 de março e 16 de maio de 2022.
Poesia publicada na 81.ª edição do Miscelânia Cultural.
Contato para publicação nas páginas do Poesia Plural:
Acabando de chegar na Biblioteca Bracutaia: diretamente de Belo Horizonte-MG Rogério Salgado Poeta Ativista. E diretamente de Brasília-DF algumas raridades de Nicolas Bher
Fulinaíma MultiProjetos
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