quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Romério Rômulo - Dpois falo de Vinícius


                Que moça que moça?

Que moça é essa, que moça
que fincou estardalhaços
numa carne de maçã
num pecado de chumaços
amassado de manhã
que me deixou nos espaços?

quem reinou sobre meu fel
em papéis e desamassos
brandindo cada escarcéu
em olhares aos pedaços?

que moça é essa, que moça
que cortou os meus espaços?

que moça é essa, que moça
que derreteu meus bagaços
arrancou minha alma pura
ressecada de embaraços

que moça é essa, que moça
que me deixou nos espaços?

a moça é feita de rua
costurada em romaria
a moça é de carne crua
a moça é de ventania.

por meus olhares devassos:
é uma moça toda nua
que me deixou nos espaços?


Depois falo de Vinícius

Se eu te entregar a noite
o que faço do meu corpo?
Se eu te deixar meu corpo
o que vou dizer da noite?

São os entraves do mundo
as calças que me acobertam
São as varas que me abatem
e mordem meu sacrifício.

Só bebo meu vinho amargo
só estranho o pão e o trigo
que passam pelo meu olho
e esmagam meu espaço.

A poesia que me arranca
teu braço que me sustenta
a vida que me debate
a fome que me ilumina.

Quanto vou morrer agora
se no teto já caído
a sombra da tempestade
faz a carne desabar?

Quanto tempo tenho ainda?


Poema 1


No princípio criou deus o mundo
e o homem derramou-se tempestade.
No princípio o verbo se fez fundo
e o homem habitou calamidade.
Quantos de vós, obreiros desta terra
fizeram-se irmãos depois da guerra?
Muitas estradas andei e nunca vi
o tempo e as estradas que perdi.
A cara que me põe enclausurado
é a mesma que arranca o meu estado
de leis e vendas, de olhos tão eternos
que fosse eu um filho dos infernos.

Habitei loucos e rasguei placentas.
O mundo é mais cruel do que inventas.


Romério Rômulo



Romério Rômulo é professor de economia política da universidade federal de Ouro Preto, UFOP, MG. poeta e editor, publicou vários livros de poesia, entre eles "bené para flauta & murilo" (1990), a caixa "tempo quando" (4 livros em 2 volumes, 1996), "matéria bruta" (2006),
"per augusto & machina", 2009, "i ah, si yo fuera maradona!" (bilíngue

português/espanhol, 2015). escreve semanalmente uma coluna de poesias no Jornal GGN (http://jornalggn.com.br/), editado pelos jornalistas Lourdes e Luis Nassif. é um dos fundadores do instituto cultural Carlos Scliar, com sede no Rio de Janeiro. 


 

Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimagens.blogspot.com

 

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