Que moça que moça?
Que moça é essa, que moça
que fincou estardalhaços
numa carne de maçã
num pecado de chumaços
amassado de manhã
que me deixou nos espaços?
quem reinou sobre meu fel
em papéis e desamassos
brandindo cada escarcéu
em olhares aos pedaços?
que moça é essa, que moça
que cortou os meus espaços?
que moça é essa, que moça
que derreteu meus bagaços
arrancou minha alma pura
ressecada de embaraços
que moça é essa, que moça
que me deixou nos espaços?
a moça é feita de rua
costurada em romaria
a moça é de carne crua
a moça é de ventania.
por meus olhares devassos:
é uma moça toda nua
que me deixou nos espaços?
No princípio criou deus o mundo
e o homem derramou-se tempestade.
No princípio o verbo se fez fundo
e o homem habitou calamidade.
Quantos de vós, obreiros desta terra
fizeram-se irmãos depois da guerra?
Muitas estradas andei e nunca vi
o tempo e as estradas que perdi.
A cara que me põe enclausurado
é a mesma que arranca o meu estado
de leis e vendas, de olhos tão eternos
que fosse eu um filho dos infernos.
Habitei loucos e rasguei placentas.
O mundo é mais cruel do que inventas.
Romério
Rômulo
Romério Rômulo é professor de economia política da universidade federal de Ouro Preto, UFOP, MG. poeta e editor, publicou vários livros de poesia, entre eles "bené para flauta & murilo" (1990), a caixa "tempo quando" (4 livros em 2 volumes, 1996), "matéria bruta" (2006),
"per augusto & machina", 2009, "i ah, si yo fuera maradona!" (bilíngue
português/espanhol, 2015).
escreve semanalmente uma coluna de poesias no
Jornal GGN (http://jornalggn.com.br/), editado pelos jornalistas
Lourdes e Luis Nassif. é um dos fundadores do instituto cultural Carlos Scliar,
com sede no Rio de Janeiro.
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