Dor elegante
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
com se chegando atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa, um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios, édens, analgésicos
não me toquem nesse dor
ela é tudo o que me sobra
sofrer vai ser a minha última obra
Paulo
Leminski
La vie en close (1991)
Musicado e gravado por Itamar Assumpção e Edvaldo Santana
Mamãe, coragem
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo, eu fui embora
Mamãe, mamãe não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo, eu quero mesmo é isto aqui
Mamãe, mamãe não chore
Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
Veja as contas do mercado, pague as prestações
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos
filhos
Seja feliz, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz
Mamãe, seja feliz
Mamãe, mamãe não chore
Não chore nunca mais, não adianta
Eu tenho um beijo preso na garganta
Eu tenho um jeito de quem não se espanta
Braço de ouro vale dez milhões
Eu tenho corações fora do peito
Mamãe, mamãe não chore, não tem jeito
Pegue uns panos
pra lavar, leia um romance
Leia Elzira, A Morta, A Virgem, O Grande Industrial
Eu por aqui, vou indo muito bem
De vez em quando brinco carnaval
E vou vivendo assim
Felicidade na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim, não tem mais fim
Não tem mais fim
Caetano
Veloso/Torquato Neto
Gravada por Gal Costa
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas....
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.
O vento varria os sonhos,
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
Manuel Bandeira
raptado da time line no face de
Álvaro Rogério Goulart
OMITIR-SE
Incontestável — de dentro de suas
casas
poetas deliram palavras sobre salvar
a humanidade
— iguaizinhos a mim: covardes!
com as duas mãos partem os livros ao
meio
peneiram filosofia moderna, movem a
caneta delicadamente
como se preparassem um gâteau chiffon
bem levinho
óleo vegetal, ovos, açúcar, farinha,
fermento em pó e a pura essência de
baunilha®
— tudo da mais requintada e clássica
gastronomia!
mas nas ruas somente o cheiro a
atravessar a avenida
que aos narizes dos batalhões — não
passa de bolo
Jessica Iancoski
viro as costas, apesar de ainda
olhar para trás
tiro o corpo fora
a alma deve vir depois
lavo minhas mãos
essas que estiveram sempre sujas
sempre cheias
na empreita de restaurar canteiros
de terras de autoabandono
lavo minhas mãos
condicionadamente
minhas teimosas
e domesticadas mãos
que ainda não sabem
guardar os tempos para si
lavo minhas mãos cansadas
de cuidar do que não tem cuidado
guardo nos bolsos
meus gestos ansiosos
aprendendo a ver o outro passar
sem achar que posso abrir caminhos
aprendendo a ver o outro olhar
sem achar que eu detenho a luz
e que por isso posso receber
as trevas
lavo minhas mãos devagar
reestabelecendo as fronteiras
entre os nossos destinos
Tão tarde para queimar a vela esquecida no altar
da tua alma,
por dentro, os destroços de uma casa em ruínas
e uns dedos longos que escreveram poucos
argumentos acima dos teus segredos:
tão breve o silêncio, sem qualquer possibilidade
de dizer sobre o tempo que nunca veio...
[Aqueles que escrevem têm as unhas rasgadas pelos
densos dos seus medos,
outros modos de percepção do que segue no limiar
do absurdo,
perscrutando dimensões de outros mundos,
onde devaneios são sementes germinando paraísos em
um universo paralelo derradeiro]
Tão fina a folha quanto a asa da andorinha em
lonjuras nunca percorridas,
assim te fazes, tu que escreves das coisas jamais
vistas por outros meios
que não teus ecos silenciados pelo espanto!
Aquieta teus reflexos, suspende a tua angústia uma
oitava acima,
desce os olhos de dentro ao peito mais profundo,
saberás legitimar tuas verdades na mesma medida da
tua necessidade mais genuína:
– Tu és aquela que nunca termina! –
[Aqueles que consomem escrituras têm as asas
apartadas dos seus dorsos,
outros meios de linguagem para abarcar os sentidos
do coração:
a palavra – um silêncio feito de matéria visível
que desanda distante da forma exata –
amplifica os sentidos nunca d'antes conhecidos]
Depois dos tempos, dos séculos, contornos ou
regressos,
serás feita da mesma essência das unhas rasgadas
pelos densos dos teus tantos medos,
das mesmas asas apartadas do teu dorso,
no melhor meio de linguagem do teu voo:
– Tu és aquela que aventura asas na imensidão! –
(Nic
Cardeal/2021)
poema metafisico
Escolha seu levante
não importa no nascer
ou no morrer,
- levite.
a calhandra grinfa
[ou trissa]
o pato gracita
o cisne arensa
o camelo blatera
a raposa regouga
o pavão pupila
a cegonha glotera
o pinto pia
a rola turturina
minha pomba gira
[e brilha]
[adelaide
do julinho]
[ imagem ryan mcguire ]
comer a palavra
degustar
deglutir
digerir
devorar
poesia
eu bebo
eu como
Oswald de Andrade
na geleia geral
que o jornal do brasil anuncia
pelos becos botecos pelos
bares da cidade
Artur Gomes
Geleia
Geral – Revirando a Tropicália
Semana de 22 – 100 Anos Depois
Dia 22 – julho -2202 – 19h
Local: Santa Paciência Casa Criativa
Rua Barão de Miracema, 81 – Campos dos
Goytacazes-RJ
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