Clarice sempre
me tira do centro
me entorna o eixo Artur Gomes me desentorta mostra outra
porta de
entrada pra saída nunca sei se é
chegada muito
menos despedida
Federika Lispector
https://www.facebook.com/studiofulinaima/
metáfora alquimia
cavalga cavala
com teu dorso no horizonte
ventania
pássaro de patas
pisa do vento
na metáfora/alquimia
a menina corre
pela estrada
na velocidade do fogo
com seus cabelos de plumas
felina arranha as pedras
com suas unhas de mar
nessa tarde de maio
quero vinho/poesia
Artur Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
SENTENÇA
faz muito tempo que eu venho
nos currais deste comício,
dando mingau de farinha
pra mesma dor que me alinha
ao lamaçal do hospício.
e quem me cansa as canelas
é que me rouba a cadeira,
eu sou quem pula a traseira
e ainda paga a passagem,
eu sou um número ímpar
só pra sobrar na contagem.
por outro lado, em meu corpo,
há uma parte que insiste,
feito um caju que apodrece
mas a castanha resiste,
eu tenho os olhos na espreita
e os bolsos cheios de pedras,
eu sou quem não se conforma
com a sentença ou desfeita,
eu sou quem bagunça a norma,
eu sou quem morre e não deita.
Salgado Maranhão
Subversiva
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país
Ferreira Gullar
quero saber
mais como os Portugueses trucidaram os índios na confederação dos Tamoios. para
isso devo seguir os passos de Anchieta e me embrenhar pelo litoral. seguir as
entranhas das florestas é o que me resta. Cristina Bezerra cuidará do virtual.
não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presas pela covardia
eu sou voragem
dentro da noite veloz
na vertigem do dia
Federika Lispector
fosse Alice essa menina
brincando à flor da pele
com a menina dos meus olhos
seria eu um mar de abrolhos
pra molhar esses dois olhos
que me olham sem me ver
Federico Baudelaire
seja pornográfico como
Carlos Drummond de Andrade
Em face dos últimos acontecimentos
Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
Que o nosso avô português?
Oh ! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros,
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.
A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).
Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
Fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados
que o melhor é ser pornográfico.
Propõe isso a teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?
Poema Obsceno
Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira
Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do
país
– e espreitam.
Ferreira Gullar
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