O Ator para Grotowski
Jerzy Grotowski
Texto:
Cristina Tolentino
Quando Grotowski entrou em contato com o mundo do teatro, compreendeu que o ator que buscava, o ator que considerava absolutamente necessário para realizar seu projeto, teria que romper, em primeiro lugar, com este círculo perverso ensaios-espetáculos. Este círculo, segundo ele, encerra o ator desde o começo de sua carreira em uma rotina sufocante que chamam de "profissão" e apaga suas aspirações criativas.
Portanto, o primeiro objetivo de Grotowski ao criar o Teatro das 13 Filas foi diminuir o ritmo dos preparativos para o espetáculo; reservar cada vez mais tempo para os ensaios; deixar mais tempo livre para o treinamento. Grotowski buscou desde o início do seu trabalho um espaço pedagógico, uma escola, um laboratório, um lugar em que o ator pudesse adquirir, conservar e aperfeiçoar os elementos ético-técnicos indispensáveis para sua atividade criativa.
Dentro dessa perspectiva, os EXERCÍCIOS desempenharam um papel fundamental no Teatro Laboratório. Por meio deles, diz Grotowski: "o ator se capacita para a artificialidade e a elaboração formal, aprendendo, antes de mais nada, a superar os limites do cotidiano e o naturalismo psicológico, para conseguir, depois, a expressividade física total - a única que pode estar em condições de restituir o ator total.
Nos exercícios e no treinamento, Grotowski colocou toda a atenção no corpo e secundariamente, na palavra. Palavra esta que nasce do corpo e que, portanto, não poderá ser usada corretamente sem uma preparação física adequada. "Será um clichê estéril, naturalista, declamatório."
Os exercícios são relacionados com as mais diferentes técnicas do corpo, como: Hatha-yoga, pantomina, acrobacia, dança, diferentes esportes como esgrima e métodos de origem estritamente teatrais.
Exercícios Físicos - sobretudo ginástico-acrobáticos.
Exercícios Plásticos - divididos em exercícios mentais (tomados de Jacques Dalcroze) e exercícios de composição, provenientes do teatro oriental (elaboração de novos ideogramas gestuais).
Exercícios de máscara facial (intuídos em primeiro lugar, por Delsarte).
Exercícios vocais relacionados com a respiração.
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A partir de 1963, esses exercícios sofrem uma mudança de percepção e passam a ser um pretexto para a elaboração de uma forma pessoal de treinamento do ator: "um meio para localizar e remover as resistências e obstáculos que o bloqueiam em sua missão criativa e o impedem de manifestar seus impulsos vivos."
Os exercícios passam de uma concepção positiva da técnica do ator para uma concepção negativa: "este é o caminho que entendo por expressão - caminho negativo - um processo de eliminação." Segundo Grotowski, a utilização positiva da técnica no teatro, traz o risco do perfeccionismo exterior e do virtuosismo puro - uma expressão corporal entendida só em seu aspecto exterior e muscular e do próprio narcisismo. Se os atores tradicionais, em sua maioria, eram uma cabeça (ou uma voz) sem corpo, os atores do Teatro Laboratório corriam o perigo de converterem-se num corpo sem cabeça, perpetuando essa separação secular sobre a qual se edificou a civilização ocidental.
A partir dessas reflexões, Grotowski busca uma técnica que recomponha o ator - o homem na sua totalidade: mente, corpo, gesto, palavra, espírito, matéria, interno, externo.
Neste período, Grotowski destaca duas indicações para os exercícios:
os exercícios devem ser individuais e motivados por associações, imagens precisas - reais ou fantásticas - ou seja, tenham conteúdo.
a reação física deve iniciar-se sempre dentro do corpo. O gesto visível só deve ser a conclusão desse processo.
É o corpo-memória, o corpo-vida, imagens que projetam seu reflexo para mais além do teatro e da representação. Assim acontece quando "o homem não quer esconder mais nada: nem sobre a pele, nem a pele, nem embaixo da pele."
Sobre este trabalho escreve o crítico Joseph Kerala, após assistir a interpretação de Ryzard Cieslak em "O Príncipe Constante" em 1965: "na interpretação do ator os elementos fundamentais da teoria de Grotowski se manifestam de modo tão preciso e tangível que oferece, não só uma demonstração de seu método, mas também os frutos estupendos que este método dá.
sobre a mesa um chocolate meio amargo e uma garrafa de café. Clarice retocava a maquiagem enquanto pensava o chocolate em sua boca, para ela comer chocolate é o mesmo que comer livros, mesmo que Federico a imagine mulher doida, mas para ela tanto faz, dá no mesmo, e pare ele isso é muito vago. a garrafa de café permanecia sobre a mesa sem que ninguém a tocasse, todos os sentidos de Clarice estão voltados para o livro e o chocolate.
PASSANDO A LIMPO
I
loucura é não entender
a razão da poesia
em universo cosmo plástico
língua transcendental
em céus de boca
onde palavras tomam formas
e flutuam dimensões
II
loucura é não perceber
a santidade dos ladrões
a fome a sede o vício
coisas da social e da favela
“a carne seca na janela”
o desfile da portela
a mangueira verde e rosa
e os ratos passeando nos porões
III
loucura é ouvir
o rugido dos leões
na arquibancada
do pão que o diabo amassou
e não cumer a outra banda
que o brazil deu pra hollanda
não sacar Paulo Ciranda
essa finíssima presença
nem conhecer Marco Valença
:
ó baby
loucura ainda nem começou
GESTA
feroz
o índio
ainda via
o sol
a festa
fazia
o parto da raça humana
que hoje se desengana
e gente não pari mais
INDIGESTA
ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de santa cruz!
onde se deu 1ª missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus
INDÍGENA
coração tombado
no tacape branco
fogo e fúria
de fuzil
onde o planalto mata
veia agonizando
na ferozcidade:
BANCO DO BRASIL
HERÓI NACIONAL
meu coração marçal tupã
sangra tupi e rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi-bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná
TIRANA
ó baby
o meu sangue não é blue
nem tampouco jazz
em tua carne azul
estou de pé
olhando o front
e não aceito o horizonte
com a tirania do norte
ditando regras no sul
SONHANDO ESTAR EM CUBA
meu coração
não é de osso, não é de vidro
não é de aço, nem é de pedra
impunemente é só: coração
meu coração não é de hoje
conta por conta guarda em segredo
ama de longe ativamente
é só coração
meu coração não é verde amarelo
mas vive num país independente
só faz revolução não se arrepende
tramando a nova forma
do que sente
quando rumba brasileiramente
quando dança
algum bolero ardente
sonhando estar em cuba
macumba libremente
BRAZILIANA
coração amordaçado
é simplesmente
nervo retorcido
coração apunhalado
é plenamente
nervo meu, ferido
sangra coração
em pele e osso
couro envelhecido
salta numa praça
brinca de pirraça
mesmo assim
:
fudido
TRO/PICALIZANDO
I
o poeta esfrangalha a bandeira
rasga o sol
tropical bananeira
na geléia geral brasileira
o céu de anil não é de abril
nem general é my brazil
II
minha verde amarela
esperança
portugal já vendeu
para a frança
e o coração latino
balança
:
entre o mar
de dólar do norte
e o chão
do cruzeiro do sul
III
o poeta estraçalha
a bandeira
raia o sol marginal
quarta-feira
nessa porra estrangeira
e azul
que há muito índio dizia:
- “foi gringo
que trouxe no cu”
RE/VERSO
oswaldianamente
ainda não sei bandeira
nem levo o barco
ao Rei da Vela
: minha paixão
ainda é mangueira
desfilando na portela
SEIO DA TERRA
bem no centro do universo
te mando um beijo ó amada
enquanto arranco uma espada
do meu peito varonil
e espanto todas estrelas
dos berços do eternamente
pra que acorde toda essa gente
desse vasto céu de anil
pois enquanto dorme gigante
esplêndido sono profundo
não vê que do outro undo
robôs te enrabam ó mãe gentil !
PARA TOTQUATO NETO
aqui estou na brasiléia tropicalha
em populácea militância
pornofágica
desbundando a marginalha
em poesia su-real
para esquecer que a circunstância
é um pouco trágica
e não dizer
que o meu brasil dançou geral
TRINCHEIRA
há uma gota de sangue
entre meus olhos
e os teus
e muitas velas acesas
pra salvar a nossa carne
e bocas cheias de dentes
mastigando a nossa morte
mas eles é que morrerão
meu amor
num grande susto
quando nus virem
amando nessa cama
de ferro e de pau duro
1º DE ABRIL
telefonaram-me
avisando-me
que vinhas
na noite
uma estrela
ainda brigava
contra a escuridão
na rua
sob patas
tombavam homens
indefesos
esperei-te
20 anos
e até hoje
não vieste
à minha porta
BRASIL
este país
nunca existiu
aqui
nunca tivemos
1º de abril
é brincadeira
da minha poesia
putaria do meu coração
tudo não passou de fantasia
ou obra de ficção
Artur Gomes
Suor & Cio
MVPB Edições – 1985
NAÇÃO GOITACÁ
www.fulinaimargem.blogspot.com
27 de agosto
com muito gosto
fazer setenta e sete
outra coisa me disse
fulinaíma
pra definir o que faço
o traço a cada compasso
pensado sentido vivido
estando inteiro
não par/ti/do
a língua ainda
entre/dentes
a faca
ainda mais afiada
a carNAvalha in/decente
escre/v(l)er
é tudo o que posso
pra desafinar os contentes
desempatar de/repente
o jogo dos reles bandidos
é tudo o que tenho feito
por mais que tenha sofrido
nas unhas dos dedos
nos nervos
na carnadura dos ossos
Artur Gomes
Hoje Balbúrdia PoÉtica especial
no Carioca Bar - Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17
Parque São Caetano - Campos dos Goytacazes-RJ
Espero vocês lá, a partir das 18h
leia mais no blog
Artur Fulinaimagens
https://fulinaimargens.blogspot.com/