quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Passando a Limpo

Jerzy Grotowski - e o ator performer.

O Ator para Grotowski
Jerzy Grotowski


Texto:
Cristina Tolentino

Quando Grotowski entrou em contato com o mundo do teatro, compreendeu que o ator que buscava, o ator que considerava absolutamente necessário para realizar seu projeto, teria que romper, em primeiro lugar, com este círculo perverso ensaios-espetáculos. Este círculo, segundo ele, encerra o ator desde o começo de sua carreira em uma rotina sufocante que chamam de "profissão" e apaga suas aspirações criativas.

Portanto, o primeiro objetivo de Grotowski ao criar o Teatro das 13 Filas foi diminuir o ritmo dos preparativos para o espetáculo; reservar cada vez mais tempo para os ensaios; deixar mais tempo livre para o treinamento. Grotowski buscou desde o início do seu trabalho um espaço pedagógico, uma escola, um laboratório, um lugar em que o ator pudesse adquirir, conservar e aperfeiçoar os elementos ético-técnicos indispensáveis para sua atividade criativa.

Dentro dessa perspectiva, os EXERCÍCIOS desempenharam um papel fundamental no Teatro Laboratório. Por meio deles, diz Grotowski: "o ator se capacita para a artificialidade e a elaboração formal, aprendendo, antes de mais nada, a superar os limites do cotidiano e o naturalismo psicológico, para conseguir, depois, a expressividade física total - a única que pode estar em condições de restituir o ator total.

Nos exercícios e no treinamento, Grotowski colocou toda a atenção no corpo e secundariamente, na palavra. Palavra esta que nasce do corpo e que, portanto, não poderá ser usada corretamente sem uma preparação física adequada. "Será um clichê estéril, naturalista, declamatório."

Os exercícios são relacionados com as mais diferentes técnicas do corpo, como: Hatha-yoga, pantomina, acrobacia, dança, diferentes esportes como esgrima e métodos de origem estritamente teatrais.

Exercícios Físicos - sobretudo ginástico-acrobáticos.
Exercícios Plásticos - divididos em exercícios mentais (tomados de Jacques Dalcroze) e exercícios de composição, provenientes do teatro oriental (elaboração de novos ideogramas gestuais).
Exercícios de máscara facial (intuídos em primeiro lugar, por Delsarte).
Exercícios vocais relacionados com a respiração.

Jerzy Grotowski, exercícios Jerzy Grotowski, exercícios

A partir de 1963, esses exercícios sofrem uma mudança de percepção e passam a ser um pretexto para a elaboração de uma forma pessoal de treinamento do ator: "um meio para localizar e remover as resistências e obstáculos que o bloqueiam em sua missão criativa e o impedem de manifestar seus impulsos vivos."

Os exercícios passam de uma concepção positiva da técnica do ator para uma concepção negativa: "este é o caminho que entendo por expressão - caminho negativo - um processo de eliminação." Segundo Grotowski, a utilização positiva da técnica no teatro, traz o risco do perfeccionismo exterior e do virtuosismo puro - uma expressão corporal entendida só em seu aspecto exterior e muscular e do próprio narcisismo. Se os atores tradicionais, em sua maioria, eram uma cabeça (ou uma voz) sem corpo, os atores do Teatro Laboratório corriam o perigo de converterem-se num corpo sem cabeça, perpetuando essa separação secular sobre a qual se edificou a civilização ocidental.

A partir dessas reflexões, Grotowski busca uma técnica que recomponha o ator - o homem na sua totalidade: mente, corpo, gesto, palavra, espírito, matéria, interno, externo.

Neste período, Grotowski destaca duas indicações para os exercícios:

os exercícios devem ser individuais e motivados por associações, imagens precisas - reais ou fantásticas - ou seja, tenham conteúdo.
a reação física deve iniciar-se sempre dentro do corpo. O gesto visível só deve ser a conclusão desse processo.
É o corpo-memória, o corpo-vida, imagens que projetam seu reflexo para mais além do teatro e da representação. Assim acontece quando "o homem não quer esconder mais nada: nem sobre a pele, nem a pele, nem embaixo da pele."

Sobre este trabalho escreve o crítico Joseph Kerala, após assistir a interpretação de Ryzard Cieslak em "O Príncipe Constante" em 1965: "na interpretação do ator os elementos fundamentais da teoria de Grotowski se manifestam de modo tão preciso e tangível que oferece, não só uma demonstração de seu método, mas também os frutos estupendos que este método dá.

em cena


sobre a mesa um chocolate meio amargo e uma garrafa de café. Clarice retocava a maquiagem enquanto pensava o chocolate em sua boca, para ela comer chocolate é o mesmo que comer livros, mesmo que Federico a imagine mulher doida, mas para ela tanto faz, dá no mesmo, e pare ele isso é muito vago. a garrafa de café permanecia sobre a mesa sem que ninguém a tocasse, todos os sentidos de Clarice estão voltados para o livro e o chocolate.

                          PASSANDO A LIMPO

 

I

 

loucura é não entender

a razão da poesia

em universo cosmo plástico

língua transcendental

em céus de boca

onde palavras tomam formas

e flutuam dimensões

 

II

 

loucura é não perceber

a santidade dos ladrões

a fome a sede o vício

coisas da social e da favela

“a carne seca na janela”

o desfile da portela

a mangueira verde e rosa

e os ratos passeando nos porões

 

III

 

loucura é ouvir

o rugido dos leões

na arquibancada

do pão que o diabo amassou

e não cumer a outra banda

que o brazil deu pra hollanda

não sacar Paulo Ciranda

essa finíssima presença

nem conhecer Marco Valença

:

ó baby

loucura ainda nem começou

 

GESTA

 

feroz

o índio

ainda via

o sol

a festa

fazia

 

o parto da raça humana

que hoje se desengana

e gente não pari mais

 

INDIGESTA

 

ê fome negra incessante

febre voraz gigante

ê terra de santa cruz!

 

onde se deu 1ª missa

índio rima com carniça

no pasto pros urubus

 

INDÍGENA

 

coração tombado

no tacape branco

fogo e fúria

        de fuzil

 

onde o planalto mata

veia agonizando

na ferozcidade:

BANCO DO BRASIL

 

 HERÓI NACIONAL

 

meu coração marçal tupã

sangra tupi e rock and roll

 

meu sangue tupiniquim

em corpo tupinambá

 

samba jongo maculelê

maracatu boi-bumbá

 

a veia de curumim

é coca cola & guaraná

 

TIRANA

 

ó baby

o meu sangue não é blue

nem tampouco jazz

em tua carne azul

 

estou de pé

olhando o front

e não aceito o horizonte

com a tirania do norte

ditando regras no sul

 

SONHANDO ESTAR EM CUBA

 

meu coração

não é de osso, não é de vidro

não é de aço, nem é de pedra

impunemente é só: coração

 

meu coração não é de hoje

conta por conta guarda em segredo

ama de longe ativamente

é só coração

 

meu coração não é verde amarelo

mas vive num país independente

só faz revolução não se arrepende

tramando a nova forma

do que sente

 

quando rumba brasileiramente

quando dança

algum bolero ardente

sonhando estar em cuba

macumba libremente

 

 BRAZILIANA

 

coração amordaçado

é simplesmente

nervo retorcido

 

coração apunhalado

é plenamente

nervo meu, ferido

 

sangra coração

em pele e osso

couro envelhecido

 

salta numa praça

brinca de pirraça

mesmo assim

:

fudido 

 

TRO/PICALIZANDO

 

I

 

o poeta esfrangalha a bandeira

rasga o sol

tropical bananeira

na geléia geral brasileira

o céu de anil não é de abril

nem general é my brazil

 

II

 

minha verde amarela

esperança

portugal já vendeu

para a frança

e o coração latino

balança

:

entre o mar

de dólar do norte

e o chão

do cruzeiro  do sul

 

III

 

o poeta estraçalha

a bandeira

raia o sol marginal

quarta-feira

nessa porra estrangeira

e azul

que há muito índio dizia:

- “foi gringo

que trouxe no cu”

 

RE/VERSO

 

oswaldianamente

ainda não sei bandeira

nem levo o barco

ao Rei da Vela

 

: minha paixão

ainda é mangueira

desfilando na portela


 SEIO DA TERRA

 

bem no centro do universo

te mando um beijo ó amada

enquanto arranco uma espada

do meu peito varonil

 

e espanto todas estrelas

dos berços do eternamente

pra que acorde toda essa gente

desse vasto céu de anil

 

pois enquanto dorme  gigante

esplêndido sono profundo

não vê que do outro undo

robôs te enrabam ó mãe gentil !

 

 PARA TOTQUATO NETO

 

aqui estou na brasiléia tropicalha

em populácea militância

pornofágica

desbundando a marginalha

 em poesia su-real

 

para esquecer que a circunstância

é um pouco trágica

e não dizer

que o meu brasil dançou geral

 

 TRINCHEIRA

 

há uma gota de sangue

entre meus olhos

e os teus

 

e muitas velas acesas

pra salvar a nossa carne

e bocas cheias de dentes

   mastigando a nossa morte

 

mas eles é que morrerão

meu amor

num grande susto

         quando nus virem

amando nessa cama

de ferro e de pau duro

 

 1º DE ABRIL

 

telefonaram-me

      avisando-me

     que vinhas

 

na noite

uma estrela

ainda brigava

contra a escuridão

 

             na rua

             sob patas

             tombavam homens

             indefesos

 

esperei-te

20 anos

e até hoje

não vieste

à minha porta

 

 BRASIL

 

        este país

nunca existiu  

aqui

nunca tivemos

1º de abril

 

é brincadeira

da minha poesia

putaria do meu coração

 

tudo não passou de fantasia

                    ou obra de ficção

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

www.suorecio.blogspot.com




NAÇÃO GOITACÁ

www.fulinaimargem.blogspot.com

27 de agosto
com muito gosto
fazer setenta e sete
outra coisa me disse
fulinaíma
pra definir o que faço
o traço a cada compasso
pensado sentido vivido
estando inteiro
não par/ti/do
a língua ainda
entre/dentes
a faca
ainda mais afiada
a carNAvalha in/decente
escre/v(l)er
é tudo o que posso
pra desafinar os contentes
desempatar de/repente
o jogo dos reles bandidos
é tudo o que tenho feito
por mais que tenha sofrido
nas unhas dos dedos
nos nervos
na carnadura dos ossos

Artur Gomes

Hoje Balbúrdia PoÉtica especial
no Carioca Bar - Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17
Parque São Caetano - Campos dos Goytacazes-RJ
Espero vocês lá, a partir das 18h

leia mais no blog
Artur Fulinaimagens
https://fulinaimargens.blogspot.com/


Por Onde Andará Macunaíma?

                         VeraCidade   A inexistência da poesia em uma cidade não é bacana, é o reflexo do estrago da sensibilidade humana   ...