sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

serAfim 12 – pastor de andrade o antropófago 


absinto

impossível

te sentir mais do que já sinto

 

poesia muito prosa as vezes pedra noutras vezes fedra quero dizer que ainda arde a palavra na palavra corpo quando carne e sangue incendeiam paiol de milho na fazenda da infância cacomanga era um tempo de fartura    enxada         na palavra  do poema

*

 ela vendia brigadeiro

e eu não fui o primeiro

a provar suas delícias

federico  passou na frente

como expresso do oriente

nos levando à boa vista

de onde ela tinha vindo

a curuminha contente

vendeu tudo em um dia

doce que o povo comeu

sorrindo ainda dizia

- vocês são mais loucos do que eu


discípulo de rimbaud

minha tv pifou nem tenho ido ao cinema meu filme está carne da palavra esse poema é trágico me lembra infância lá na cacomanga televisão nunca tivemos era rádio de pilha depois de bateria meu pai criava porcos para vender na primavera e complementar o seu salário que nem o mínimo era carteira de trabalho nunca teve
como administrador de uma fazenda com mais de 1000 alqueires de terra com produção agropecuária canavieira e cerâmica industrial (usina de moer gente) esse é um poema em linha reta nem sei por quê e para que me tornei poeta discípulo de rimbaud talvez só para escrever que no brasil mesmo depois da abolição escravidão nunca terminou


o curral das merdavilhas

o brasil já foi ilha de vera cruz
e nunca foi ilha
já foi terra de santa cruz
e nunca foi santa
hoje ninguém mais se espanta
com o volume das trapaças

no curral das merdavilhas 

*

 desde que resolvi abrir o meu baú de ossos da memória que algumas pessoas que antes desfilavam por aqui como amigas agora fogem da página como diabo foge da cruz não escrevo para sacerdotes escrevo para quem vive em liberdade e faz da liberdade o seu sentido maior de viver não vivo atrás de portas/cortinas escondido embaixo de panos a minha língua é explícita linguagem voraz e sacana aprendi com oswald   que humor sarcasmo ironia  são armas mortais na cara da  hipocrisia

*

itamarna é uma cidade morna quase cinza sem brilho mesmo assim pelas noites passeiam por ali vaga-lumes vagabundos com suas asas de lâmpadas lamparinas irina também passeia por ali pelas madrugadas vestida de quase nada

 

mini conto

 

no livro as vísceras expostas em grande estilo tudo aquilo que é ferida aberta passeia sobre o branco do papel todos os órgãos extirpados por uma única facada  


sagaraNAgens

a terra aqui é vermelha -  branca - é a carne de dracena tudo cena – dela -  só quero a boca seus olhos de fogo me engolem da janela em frente estou no oitavo andar de um hotel qualquer seus pelos são pétalas eletrizantes de um maldito mal-me-quer ajeito o foco da lente para vê-la de perto avisto a púbis de vênus a língua cresce não seria por menos nem no mais banal dos melodramas com essa linda louca que me acena aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama


fruta farta

amoras
nus - teus pelos
quantas línguas
já provaram
mangas
na carne ancestral
da uva roxa
pra desbravar
o sexo
no pomar
das tuas coxas 

*

minha ovelha preferida está se rebelando os ensaios da mocidade
independente de padre olivácio
estão se aproximando e ela não dá as caras vou baixar decreto vou baixar o santo e não diga no entanto que sou linha dura dessa rapadura você ainda não viu ela não é santa e não duvido nada que a sua mãe foi a ovelhana que pariu

 

metafórica dialética

quantas teorias terei
para escrever o que falo

quantos sapatos ainda apertam
os calcanhares do meu calo?


mar

esse mar que eu tanto quero
se não vem me desespero
esse mar me faz suspenso
esse mar que as vezes penso
e não sei onde vai dar

nesse mar onde mergulho
esse mar me faz barulho
nesse mar tanto silêncio
esse mar que as vezes tenso
         e não sei se vai passar

 

mim

o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora mar de carne e osso se eu não falasse ou não dissesse esse relógio trágico com seus ponteiros mágicos arrastando segundo por segundo tudo o que não passa tudo o que não cessa o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas só o céu é testemunha desse instante único em que passeio em tua pele como uma flor de lótus flor de cactos flor de lírios ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse mar de tanta espuma com minha língua de espera em tua língua de amora em tua língua de mara em tua língua de mar 


labirinto


beber dessa tua língua
luziana o líquido da maresia
o suor do mar da linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com mil garrafas de vinho

beatriz – a morta

            oswald de andrade re-visitado

como pedra me olhas
como fedra te vejo
vestida de carne nua
a língua na maçã navalha
tua alma transparente crua
o olho por detrás da porta
poema com pavio aceso
quando oswald pariu a morta
tinha o dente
nos teus olhos preso


angra

 

assim como

o pau-brasil

a flor do mangue

também sangra


a traição das metáforas

 caipora tem andado atormentada pelos corredores do presídio federal de brazilírica a maconha mofada de juiz de fora  deve ter provocado  um efeito negativo em seus neurônios ela tem andado surtada delirando com perturbações mentais da ordem dos apocalípticos seguidores do santo daime dai-lhe misericórdia santo zeus caso contrário ela vai acabar no cais da lapa ou procurando jongo em custodópolis tendo alucinações com maria anita e se arriscando a levar uma coça de umbigo de boi e aprender a não olhar só para o seu umbigo

*

na traição das metáforas macabea já sofreu as consequências pelos mesmos delírios e nem psicanálise lhe devolveu a sobriedade ficou cada vez mais dilacerada pela própria língua/espora com que tentava ferir  a barriga do cavalo ouça um bom conselho caipora aprendi com chico buarque – “eu lhe dou de graça venha minha amiga faça como eu faço inútil dormir que a dor não passa venha minha amiga brinque com  o meu fogo venha se queimar  eu semeio vento na minha cidade vou pra rua e bebo a tempestade”

*

gosto da leveza dos dedos deslizando feito pluma penetrar a carne e as sensações saltarem para o abismo do poema depois dos saraus ela ia de pele e na pele dela eu ia pra trancoso no  litoral da bahia ou para raposo estação d´água de itaperuna curtir a pedra do toque ela sempre me disse sentir mais  minha carne que a pedra do arpoador em maresia e sempre gozou mais quando a saliva por entre o

anus                                  escorria


memórias no desassossego

não sou fernando pessoa mas acordei com o coração em alvoroço aliás nem dormi literalmente no desassossego da memória uilcon pereira passeava com o seu coração de boatos a procura do gabriel de la puente que até hoje não sabemos a ponte por onde atravessou sem direito a despedida a luz do farol da barra me vem aos olhos de um amor que vem chegando e me promete acarajés e escadarias o tempo ah! o tempo e seus contornos inesperados quando iria imaginar que depois de ouvir por tanto tempo com paixão sem limites gil caetano
gal bethânia estaria agora assim tão assim no colo de uma baiana bebendo o líquido bom que algum zeus me reservou e deixou guardado para mim?

*

e ela era uma estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco e escavou  imagens em brazilírica pereira : a traição das metáforas - e quero dizer que ainda arde tua manhã na minha tarde a tua noite no meu dia tudo em nós que já foi feito com prazer ainda faria 

*

certa vez numa visita que fiz ao presídio federal de brazilírica pereira com o objetivo de levar algum alívio para algumas daquelas almas pecadoras me surpreendi com a oferta de macabea

:

- morda o meu pescoço prove do meu sangue

- cruz credo zeus me livre  teu sangue não me serve deve estar contaminado de repente com o veneno da serpente  

*

 o cu do mundo onde fica?

minha língua afiada

onde enfiá-la?

fulinaimagem

metáfora nua na janela

meter a língua na linguagem dela


*

rocei suas mãos em conchas pele de ostra molhada mel escorreu por entre as coxas beijei o éter no ar pesquei tua língua que voou depois do coito oito horas depois do abstrato esse lugar enigmático onde estou quando te quero quero quero no pátio da sala plínio marcos foi embora alceu valença manda um frevo na esplanada no festival de pernambuco o eunuco dançarino enrola um papel de seda o pó da pluma na penumbra penetrou minha asp/irina


A

mulher que goza assistindo futebol

 

irina serafina januária vascaína goza assistindo futebol na televisão do vizinho da esquina geme berra urra quando atinge o ponto g eu peço não gema não grite e ela grita: - é  gol de roberto dinamite

*

tem uma coisa aqui que ainda não sei decifrar o código do significado 7776668 é o número do apartamento na quinta avenida e não estou em new york nem em bagdá estou mirando itapoã em salvador dali me disse: meus bigodes são mais lindos do que qualquer fellini no cinema meu sangue está na lama misturado a cocaína com a língua clara dessa gosmenta gelatina - enquanto do outro lado da avenida joaquim pedro de andrade me pergunta: e por onde andará macunaíma?

 *

sou a lenda

oculta

para o imposto de renda

deixa star

presente

na oferenda

que fiz ontem

pra minha mãe yemanjá



antropofagia

esse poema é um tratado
entre o poeta que tem fome de clareza
e sua musa simbolismo de beleza

se eu não beber teus olhos
não serei eu nem mais ninguém
disse o poeta a sua musa 

ainda esfinge
beber na fonte dos seus olhos
sem medo de ser feliz

ela completa não quero 

poema em linha reta

 ainda sou clarice/beatriz


             é ela quem me diz

mas eu não sou discreto
no abstrato do concreto
no concreto do abstrato

todo homem que tem fome
abapuru é o teu auto-retrato


Itabapoana Pedra Pássaro Poema

 

uma metáfora

não é apenas uma metáfora

quando a pedra é pássaro

 

em gargaú

às 5 horas da tarde

as garças voam

em direção

ao outro lado da pedra

em guaxindiba

tenho em mim

que pássaros voam

peixes nadam

quando procuram

outro pouso

 

bracutaia

eterna lenda

estranho pássaro

da pedra ouviu o grito

que voou

de gargaú pro infinito

*

em 1990 levando uma turma de estudantes da ETFC em uma excursão para ouro preto-mg artur gomes criou a mocidade independente de padre olivácio - a escola de samba oculta no inconsciente coletivo na rua federal do bar da lama e me deu o cargo de patrono da referida instituição lá pelos idos de 1974  padre olivácio tinha me dito : - o machado de xangô está em vossas mãos vá e faça justiça porque senão fizer ninguém fará.

                                   *

com uma dentada na veia do pescoço matei o prefeito de cambaíba limpei desossei lavei  assei no mesmo forno da usina recheado com maçãs  do paraíso e servi a santa ceia aos meus 12 apóstolos das bacantes com um farto altar das mil e uma noites decorado com  milhares de garrafas de vinho para o deleite das 7 eras de  vênus afrodite quem quiser



com os dentes cravados na memória

 

A Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo, nasceu em dezembro de 1990, durante uma viagem em que na cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.

*

A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas, em homenagem ao nosso grande e saudoso mestre Uilcon Pereira.

O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim.


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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/


Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

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